Importância
dos polinizadores para produção agrícola.
Dentre os animais, as abelhas são os principais
polinizadores da flora do planeta. Elas respondem pela polinização de mais de
50% das plantas das florestas tropicais. Foto: Shutterstock.
Promover a biodiversidade pode ser um caminho
sustentável para ampliar a oferta de alimentos no mundo, principalmente a
produção vinda de pequenos agricultores.
Por Hérika Dias, da Agência USP –
Estudo publicado no dia 22 de janeiro, na revista
Science, comprova que a diferença de produtividade entre pequenas
áreas agrícolas com baixa e alta produção poderia ser melhorada 24%, em média,
somente com o aumento do número de visitantes florais (polinizadores). Em
grandes propriedades, para a melhora ocorrer, deve-se diversificar também as
espécies desses visitantes. O estudo contou com a participação de pesquisadores
do Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) em Biodiversidade e Computação (BioComp),
sediado na USP.
Os polinizadores são os “responsáveis” por levar o
pólen de uma flor para a outra para que ocorra a fecundação da planta. Eles
podem ser de variados tipos, desde animais até mesmo o vento. No entanto, a
maioria e os mais frequentes são os insetos, principalmente as abelhas.
Os pesquisadores do NAP BioComp organizaram o banco
de dados resultante da coleta de informações nas propriedades rurais. Foram
analisados 344 campos de 33 diferentes sistemas de produção de culturas
dependentes de polinizadores em pequenas e grandes propriedades na Ásia, África
e América Latina. Essas culturas englobam algodão, canola, caju, maçã, melão,
tomate, café, manga, pepino, nabo, framboesa, girassol, cardamomo, entre
outros.
“Algumas espécies de plantas necessitam da presença
do polinizador para que o fruto e a semente sejam formados. Se você não tiver o
polinizador, a planta não gera o fruto ou o gera, mas com uma eficiência muito
menor, então, essas plantas são chamadas de dependentes de polinizador”,
explica Antonio Saraiva, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP,
coordenador do NAP BioCamp e um dos autores do estudo.
Por isso, a quantidade de visitas do polinizador à
planta reflete na produtividade. No estudo, os pesquisadores identificaram a
relação entre o aumento da produção nas pequenas propriedades agrícolas
(aquelas com até 2 hectares) por causa da densidade de visitantes. Para as
áreas maiores, apenas a quantidade de visitantes florais não aumentou a
produtividade, mas sim a diversificação das espécies visitantes.
“Quando temos propriedades maiores, é comum a
presença de polinizadores com longo alcance de voo que, em geral, não são
específicos de uma planta. Esses polinizadores podem visitar várias plantas
numa área maior. Por isso, para aumentar os visitantes florais em grandes
áreas, é preciso diversificar as espécies para provocar o aumento da visitação
na mesma planta”, informa o professor.
Segurança alimentar
O estudo alerta que muitos sistemas de produção
agrícola têm negligenciado a importância do polinizador. “Há um estímulo para
práticas de manejo da produção relacionadas principalmente ao solo, mas
praticamente se esquece da importância da polinização. E a pesquisa comprova
que, somente com o aumento dos polinizadores, temos um incremento de 24% na
produção das pequenas propriedades”, destaca Saraiva.
A produtividade dos pequenos agricultores tem um
impacto direto na questão da segurança alimentar. A pesquisa publicada na
Science indica que há mais de 2 bilhões de pessoas em países em desenvolvimento
dependentes da produção de alimentos vindas das pequenas propriedades.
O professor Saraiva lembra ainda para os cuidados com a preservação dos polinizadores, que em sua maioria são as abelhas. Estudos apontam para a relação entre o desaparecimento delas e o uso indiscriminado de agrotóxicos.
“Como os polinizadores estão sendo ameaçados, é
preciso rever essa tendência, sugestões para isso seriam plantios de faixas com
plantas com flores para que os polinizadores possam se alimentar em épocas em
que a cultura em si não tem flor; uso mais adequado dos pesticidas em períodos
quando há menos polinizadores; restaurar áreas naturais nas redondezas das
culturas porque elas servem de abrigo e alimento para os polinizadores quando
as culturas não estão com flores.”
Estudo
O artigo Mutually beneficial pollinator diversity and crop yield
outcomes in small and large farms publicado na Science é
resultado de um trabalho desenvolvido por pesquisadores de 18 países, com base
em dados de culturas de 12 nações (Argentina, Brasil, Colômbia, África do Sul,
Gana, Quênia, China, Índia, Indonésia, Nepal, Paquistão e Noruega).
O ponto de partida foi um projeto de pesquisa
desenvolvido entre 2010 e 2014. Chamado de “Conservação e Manejo de
Polinizadores para Agricultura Sustentável através de uma Abordagem
Ecossistêmica”, ele contou com financiamento do Fundo Mundial para o Meio
Ambiente (Global Environment Facility – GEF) e foi executado pela Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A proposta foi
estudar a polinização em culturas de cada um dos 12 países.
No Brasil, o projeto teve como ponto focal o
Ministério do Meio Ambiente e teve a participação de diversas instituições de
pesquisa. No site Polinizadores do Brasil, há mais informações sobre a
participação brasileira.
Fonte: Agência USP
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