Fauna
amazônica presta serviço de US$ 5 tri.
Macaco-aranha. Foto: Sérgio Pucci/The Nature
Conservacy.
Estimativa corresponde ao carbono mantido na
floresta por macacos e antas ao dispersar sementes de grandes árvores, afirmam
pesquisadores do Reino Unido e do Brasil.
Por Claudio Angelo, do OC –
Enquanto Dilma Rousseff e Nelson Barbosa se
estapeiam com o Congresso por alguns bilhões de reais de CPMF, um serviço cujo
valor é estimado em pelo menos US$ 5 trilhões, quase três vezes o PIB do
Brasil, vai sendo literalmente abatido a tiros no norte do país: trata-se do
valor do carbono mantido na Amazônia por grandes animais, como o macaco-aranha
e a anta, mortos por caçadores.
A estimativa acaba de ser publicada por um grupo de
cientistas do Brasil, dos EUA e do Reino Unido, liderados por um amazônida: o
paraense Carlos Peres, professor da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.
Esses animais de grande porte, afirma o grupo,
guardam a chave para a fixação de parte expressiva do carbono da floresta
amazônica – que, por sua vez, estoca sozinha metade do carbono das florestas
tropicais do planeta. Eles são os responsáveis por dispersar as sementes das
árvores de madeira de lei, que têm o maior teor de carbono.
A caça de antas, macacos-aranha e
macacos-barrigudos, cuja carne é apreciada nas zonas rurais da Amazônia, pode
levar a perdas de 2,5% a 5,8% da biomassa da floresta, em média, chegando a
quase 38% em alguns locais onde esses bichos foram extintos pelos caçadores.
Extrapolando esse valor para toda a área da Amazônia, e considerando um valor
da tonelada de carbono de modestos US$ 5 no mercado internacional de emissões,
Peres e colegas estimaram que esses bichões prestam um serviço de US$ 5
trilhões a US$ 13 trilhões inteiramente de graça, apenas comendo frutos dessas
árvores e defecando suas sementes.
Ao fazer isso, ajudam novas árvores de madeira
densa a se espalhar pela floresta, retirando carbono do ar por fotossíntese e
estocando-o em caule e galhos à medida que crescem.
A conta foi publicada nesta segunda-feira no
periódico PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Antes que o
Ministério da Fazenda resolva bolar um esquema para se apropriar desse valor
para tampar o buraco fiscal brasileiro, os autores se apressam em dizer que
trata-se de uma estimativa apenas para referência – já que nem todo o carbono
da Amazônia é “monetizável”, ou passível de ser transacionado em mercados como
crédito. Mesmo assim, afirma Peres, há um valor bem concreto em manter os
animais vivos.
“O serviço de dispersão prestado por estes
vertebrados florestais vale dinheiro”, disse o brasileiro radicado no Reino
Unido ao OC. “Poderíamos até pensar num programa de pagamentos por serviços
ambientais para subsidiar comunidades locais a manejar melhor seus estoques de
caça num regime de manejo comunitário”, afirmou.
O que é urgente, porque, ao irem para a grelha,
para zoológicos particulares ou mesmo ao serem mortos por esporte, os grandes
vertebrados da Amazônia causam perdas de valor e ainda ajudam a aquecer ainda
mais o planeta. Como os caçadores são, em geral, populações pobres ou índios em
busca da proteína de cada dia – mas usando armas cada vez mais modernas e
vivendo em aldeias cada vez mais sedentárias, o que agrava seu impacto sobre as
zonas de caça –, vale a pena pagar para que eles racionalizem essa caça.
REDD+
No estudo, Peres e colegas do Inpa (Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia) e da Universidade do Estado do Oregon, nos
EUA, usaram computadores e dados de campo de 166 áreas de floresta com e sem
pressão de caça para modelar o impacto que a caça na Amazônia brasileira
poderia ter. Depois, modelaram o impacto que a caça praticada por 1 milhão de
residências rurais na Amazônia poderia ter, usando como base de dados 2.300
áreas de floresta previamente inventariadas (ou seja, cuja população de árvores
era conhecida).
A conclusão dos pesquisadores foi que os grandes
primatas comedores de frutas têm suas populações afetadas pela caça em 32% das
áreas remanescentes de floresta na Amazônia, e podem sumir completamente de
7,5% da região.
Peres e seus colegas usaram no estudo uma abordagem
relativamente nova: a discussão do mutualismo – a interdependência entre
plantas e animais – na agenda climática. O reconhecimento do papel da fauna na
manutenção do carbono florestal foi totalmente ignorado na construção do
chamado Redd+, o mecanismo de redução de emissões por desmatamento proposto no
âmbito da Convenção do Clima e reconhecido no Acordo de Paris. O Redd+, por
assim dizer, enxerga as árvores, mas não a floresta.
Estudos sobre a importância da fauna para a fixação
de carbono (e sobre o impacto da caça nas emissões) vêm sendo feitos na África
e na Ásia, mas até agora nenhum havia sido realizado para a Amazônia, que é
justamente o lugar onde o Redd+ está mais adiantado devido ao monitoramento
regular que o Brasil faz do desmatamento.
Na Mata Atlântica, a primeira avaliação da chamada
“defaunação” sobre o carbono foi publicada no ano passado, num estudo liderado
por Mauro Galetti e Carolina Bello, da Unesp de Rio Claro, que tem Carlos Peres
como coautor. A conclusão é que extinções locais de grandes vertebrados causam
perdas de até 3 toneladas de carbono por hectare, ao deixar a floresta mais
“rala”.
“O nosso modelo é bem mais conservador – tendendo a
uma subestimativa de perda de biomassa florestal e carbono”, disse Peres. “Ele
leva em consideração somente um grupo morfológico muito mais restrito de
plantas que dependem quase exclusivamente de dispersão de sementes por algumas
espécies de frugívoros de grande porte que são altamente sensíveis a pressão de
caça.”
Fonte: Observatório do Clima
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