Seca faz
população temer a fome.
Mwandida Mojolo tem quatro filhos. Na foto está
parada diante de seu milharal, que sofreu os efeitos do fenômeno El
Niño/Oscilação do Sul. Foto: CharityPhiri/IPS.
Por Charity Chimungu Phiri, da IPS –
Blantire, Malawi, 26/1/2016 – Às nove da manhã no
Malawi parece que se está em plena tarde devido ao calor abrasador, o que os
especialistas atribuem ao fenômeno El Niño-Oscilação do Sul (Enos). O clima
extremamente quente afeta o sul e o leste da África, entre outras regiões do
mundo. Devido ao fenômeno, neste país faltam chuvas há três semanas, o que
mantém a população em uma situação de desespero por medo de passar fome este
ano.
O Malawi tem apenas uma estação de chuvas, que
começa em novembro e termina em abril. Quando o Enos o golpeou, a maioria da
população rural havia plantado milho, alimento fundamental no país, e inclusive
algumas pessoas aplicaram fertilizantes.
O fenômeno atmosférico se caracteriza, entre outras
alterações por uma fase de aquecimento da superfície do Oceano Pacífico de pelo
menos 0,5 grau Celsius, mas pode ser bem mais, durante cerca de três meses,
principalmente na superfície oceânica do leste e centro da região tropical do
planeta. No geral, o Enosocorre em intervalos regulares de dois a sete anos e
dura entre nove meses e dois anos. A duração média costuma ser em torno dos
cinco meses.
Estima-se que nesse país há 2,8 milhões de pessoas
que precisam de assistência alimentar após a última temporada de inundações e
seca, segundo um informe do Comitê de Avaliação de Vulnerabilidade do Malawi.
Mas a situação pode piorar este ano. Muitas famílias não puderam comprar
fertilizantes pelo estatal Programa de Subsídios para Insumos Agrícolas após o
aumento registrado por esses produtos.
Dessa forma, muitos camponeses pobres ficaram em
uma situação ainda mais vulnerável, por não poderem enfrentar o custo de voltar
a plantar, nem aplicar novamente fertilizantes quando finalmente as chuvas
recomeçarem. A atual situação econômica e o aumento das taxas de juros reduziram
ainda mais o poder aquisitivo da população. Um grande número de pessoas não
pode comprar uma saca de milho, de 50 quilos, que custa entre US$ 15 e US$ 18.
Em Admarc, o mercado oficial, a saca é vendida a
US$ 0,16 o quilo, uma diferença mais do que importante. “Agora os comerciantes
vendem o milho a cerca de US$ 0,50 o quilo, o que é muito caro considerando a
quantidade de pessoas que vivem em minha casa”, queixou-se MwandidaMojolo, que
vive comseus quatro filhos na aldeia de Gojo, no distrito de Mulanje.
“Mesmo se me proponho ir a Admarc, é impossível
comprar porque há filas muito longas. As pessoas passam dias e noites até que
se rendem e retornam às suas casas com as mãos vazias”, contouMojolo. “Então,
acabamos comprando um walkman (um quilo de farinha de milho adquirido em
uma venda) que custa cerca de US$ 0,50”, acrescentou.
“Há alguns meses era melhor, porque cozinhávamos
mangas e comíamos com nossos filhos antes de mandá-los à escola. Mas acabaram e
não nos resta nada. Eles se negam a ir para a escola e se queixam dizendo:
mamãe, como vou aprender de estômago vazio”, disseMojolo. Além disso, é difícil
encontrar alguém que precise de ajuda no campo, porque sem chuva não há muito
que fazer nas plantações, ressaltou.
Numerosos especialistas reclamam do governo um
plano diretor de irrigação, para garantir a produção ao longo do anoe os
agricultores não tenham que esperar pela chuva. No momento, as autoridades
ainda preparam uma avaliação do dano que a atual condição climática causou nos
cultivos, segundo a secretária de Agricultura, Erica Maganga, que não negou a
gravidade da situação. “Este é um assunto grave que afeta vários setores e
requer consultas em todos os níveis para se tomar medidas como país”, declarou
à IPS.
O governo, junto com organizações não
governamentais, assegurou US$ 2,5 milhões do Fundo Fiduciário de Múltiplos
Doadores para distribuir mudas de batata-doce e mandioca às pessoas mais
afetadas pelas inundações do ano passado, enquanto outras recebem dinheiro,
informou a ministra a um jornal local.
Segundo Maganga, foram arrecadados outros US$ 15
milhões de associações de agricultores para distribuir sementes de milho e
outros cultivos resistentes à seca.No dia 10, o presidente do país, Peter
Mutharika, encabeçou uma cerimônia em Lilongwe, na qual convocou toda a
população para rezar e pedir por chuva.
Fonte: ENVOLVERDE
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