Um bilhão
de reais para a restauração florestal da região do Vale do Rio Doce.
A Fundação Renova pretende restaurar 47 mil
hectares no Vale do Rio Doce, com investimentos da ordem de R$ 1,1 bilhão, em
10 anos. A informação do presidente da Renova, Roberto Waack, foi divulgada
durante o Workshop de Restauração Florestal do Vale do Rio Doce, promovido na
Fundação Dom Cabral, em Nova Lima, em 3 e 4 de maio. O encontro, que reuniu
mais de 70 especialistas da área ambiental de todo o país, teve o objetivo de
captar conhecimento para inspirar o plano de restauração do Vale do Rio Doce,
que está sendo desenvolvido pela Renova. A expectativa é de que o documento
seja concluído em 60 dias, no entanto, ações pontuais já estão sendo executadas
na região mais afetadas pela lama, que compreende 2 mil hectares.
Roberto
Waack, presidente da Fundação Renova
Roberto Waack, presidente da Fundação Renova
destacou que o processo não foi encerrado com o término do workshop. Pelo
contrário. Começa agora um “longo caminho de realização conjunta”, com muita
coisa a ser feita. Segundo ele, a preocupação da Renova também é com a
construção do conteúdo de qualidade que possa nortear as ações de restauração
que serão propostas no plano que está sendo elaborado. Durante o workshop, foi
apresentada uma grande diversidade de modelos. E o certo é que as ações para
restauração do Doce deverão usar várias fórmulas que incluem as que foram
apresentadas e também outras que estão em curso no país e no mundo. No entanto,
Waack reforça que não tem uma solução fácil, “na prateleira”: são várias e
podem conviver.
A expectativa é que o processo contemple o desenho
de um mosaico de credibilidade e de concretude, que possa ser implementado em
campo. Waack também deixa claro que esta visão espacial, do mosaico e da
paisagem é fundamental, pois contempla tanto a restauração florestal quanto a
atividade da propriedade rural. Serão privilegiadas as alternativas que geram
renda e a as questões ambientais. Para o presidente da Renova, essa integração
será possível, principalmente tendo em vista o “repertório fantástico” de
alternativas que foram apresentadas no workshop e que existem além dele.
No segundo dia dos trabalhos, foi verificado que os
ganhos das ações de restauração do Vale do Rio Doce poderão ser contabilizados
em diversas frentes. De acordo com Marília Borgo, da The Nature Conservancy
(TNC), um trabalho dessa envergadura pode gerar um crédito de 17 milhões de
tonelada de carbono, em um universo de 30 anos. “E como terão vários outros
trabalhos associados a este, a geração pode ser bem maior”, afirma. A
restauração florestal e o Exemplos, como as ações já existentes no município de
Extrema, no Sul de Minas, também podem nortear o plano para o Rio Doce. Nos
últimos 10 anos, trabalhos de restauração florestal já foram executados em área
de 7,3 mil hectares. Na próxima década, a previsão é de que outros 7 mil
hectares sejam restaurados, segundo o Secretário de Meio Ambiente do município,
Paulo Henrique Pereira, que está há 22 anos a frente da pasta. Para ele, que
deu início à criação de serviços ambientais com “um fusca e uma mula”, o que
foi feito em Extrema pode servir de exemplo para as mais diversas localidades
do Brasil e do Vale do Rio Doce.
O projeto de Extrema, que tem ao todo 24 mil
hectares, também foi apresentado no workshop. A iniciativa, transformada no
Projeto Conservador da Água já evoluiu para o Projeto Conservador da
Mantiqueira, com o objetivo de englobar outros municípios. “É possível fazer e
fazer com pouco”, afirma Paulo Pereira. Dentro dos trabalhos há a interação com
produtores rurais, sequestro de carbono e o pagamento por serviços ambientais.
Hoje, 2,5% do orçamento de Extrema, que é da ordem de R$ 4 milhões, são
destinados ao meio ambiente.
Entre os temas debatidos no segundo dia do
encontro, também teve a possibilidade do uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs)
nas propriedades rurais, a experiência do Programa Reflorestar no Espírito
Santo, formas de promover a restauração em larga escala no estado de Minas
Gerais e a conexão de espécies, paisagens e pessoas.
Entre as instituições participantes do evento
estiveram representantes do Ministério do Meio Ambiente, Ibama, IEMA, Instituto
Terra, Emater, Esalg, UFMG, Ufes, Ministério Público de Minas Gerais e do
Espírito Santo. Nomes de peso na área de restauração como Rachel Biderman,
diretora-executiva da World Resources Institute (WRI-Brasil); Marcelo Furtado,
diretor do Instituto Arapyaú e ex-diretor do Greenpeace Brasil; e Andrew
Miccolis, coordenador nacional do Centro Internacional de Pesquisa
Agroflorestal no Brasil (ICRAF), deram suas contribuições durante as palestras
e nos grupos de trabalhos.
O programa de Recuperação de Áreas de Preservação
Permanente (APPs) da Renova prevê a restauração de 40 mil hectares de
vegetação, sendo 30 mil por meio da condução da regeneração natural e 10 mil
por meio de plantio direto. O trabalho da Fundação Renova também prevê a
recuperação de 5 mil nascentes – abrangendo cerca de 5 mil hectares –, que
receberão o plantio de árvores no entorno. Além disso, serão recuperados os
cerca de 2 mil hectares impactados pelo rompimento da barragem, o que resulta
nos 47 mil hectares que terão ações de restauração. A estimativa inicial é que
a recuperação vegetal dessas APPs demande até 20 milhões de mudas nativas,
principalmente da Mata Atlântica. O evento teve cobertura online,
disponível no site da Fundação Renova.
Sobre a Fundação Renova
A Fundação Renova é uma instituição autônoma e
independente constituída para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem
de Fundão. Entidade privada, sem fins lucrativos, garante transparência,
legitimidade e senso de urgência a um processo complexo e de longo prazo. A
Fundação foi estabelecida por meio de um Termo de Transação e de Ajustamento de
Conduta (TTAC), assinado entre Samarco, suas acionistas, os governos federal e
dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de uma série de
autarquias, fundações e institutos (como Ibama, Instituto Chico Mendes, Agência
Nacional de Águas, Instituto Estadual de Florestas, Funai, Secretarias de Meio
Ambiente, dentre outros), em março de 2016.
Fonte: ENVOLVERDE
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