Economia
com base nos ODS pode tirar o Brasil da crise.
por Katherine Rivas, especial para a Envolverde
–
Estratégia pode gerar 380 milhões de empregos até
2030
Com o lema Engenhosidade para a Vida, a Siemens,
maior conglomerado de engenharia elétrica e eletrônica do país, lançou a
iniciativa B2S (Business to Society), relatório que estabelece estratégias para
o Brasil segundo os 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
A empresa reuniu instituições financeiras, o
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS),
jornalistas e ativistas do clima e educação para procurar alternativas que
aliadas aos ODS permitam o crescimento econômico do país. “Em uma agenda de
longo prazo é importante olhar para os ODS. Essa parceria com o Pacto
Global pode gerar 12 milhões de oportunidades de mercado sustentável e 380
milhões de empregos até 2030” afirma Marina Grossi do CEBDS.
Marina
Grossi, presidente do CEBDS
Segundo esses dados, mesmo num contexto de crise
política, o cumprimento do Acordo de Paris oferecerá ao Brasil um novo modelo
de desenvolvimento com economia de baixo carbono. “Sem dúvida os ODS são a
alternativa para fugir da crise, estamos num momento tumultuado da economia,
que tenta resolver problemas de inflação e taxa de juros, mas não podemos
deixar de lado esta oportunidade” acrescenta Grossi.
O estudo B2S da Siemens, iniciativa realizada em 12
países, entre eles Alemanha, Argentina, México, Reino Unido, Singapura e o
Brasil quer contribuir com a construção sustentável do país e sua capacidade de
agir de forma engenhosa, criando valor nos clientes e colaboradores. O
relatório da empresa considerou 6 pilares importantes para o país até 2030:
Impulsionar a economia, desenvolver empregos e qualificação local, inovar com
agregação local, cuidar do meio ambiente, melhorar a qualidade de vida e apoiar
a transformação da sociedade.
André
Trigueiro
Desafios da Agenda 2030
Para o jornalista da Rede Globo e especialista em
sustentabilidade, André Trigueiro, uma agenda que tem 13 anos para ser resolvida
precisa ser implementada desde já, deixando de lado o politicamente e
ecologicamente correto “Nosso principal problema é que os governantes não se
preocupam com os objetivos de 2030, eles só querem saber dos problemas no seu
tempo de mandato, então a governança precisa ser nossa” comentou Trigueiros.
Ele avalia como uma situação bastante triste o desprezo continuo dos
representantes brasileiros com o cuidado do meio ambiente que reflete de forma
negativa a imagem do Brasil no cenário internacional. “No futuro o consumo
consciente será um ato político, então não pergunte para Temer ou para Trump o
que eles querem, pergunte para o ser humano qual o mundo que ele quer para nos”
mencionou.
Para os empresários o principal desafio será
internalizar nas empresas uma agenda global com transparência, transformando
estas em formadoras de opinião e traduzindo os benefícios desta política
sustentável para que a sociedade possa compreender e contribuir.
Denise
Hills, Superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú
Unibanco. Foto: Marie Hippenmeyer.
Superintendente de sustentabilidade e negócios
inclusivos do Itaú Unibanco, Denise Hills, destaca a influência das linhas de
crédito na Agenda Verde. No passado 35% de ativos eram direcionados para
setores de risco ambiental e somente 9% para a economia verde. Desde 2015 com
os ODS houve melhorias e os investimentos caíram de 35% a 33% e a economia
verde pulou para 19%. “Precisamos entender que a economia verde não é uma
agenda opcional” diz Hills.
Presidente e CEO da Siemens no Brasil, Paulo Stark
concorda com Denise e defende que sustentabilidade não pode ser uma opção do
departamento das empresas e sim uma estratégia de liderança das instituições
nacionais.
Ele defende a hipótese de que se o governo pensa a
curto prazo, atrapalhando os planos de longa data, é importante não colocar
este como braço fundamental dos projetos. “O gargalho hoje é que não existe
mudança na dinâmica das relações sociais, e precisamos de uma consciência
ambientalista que beneficie a geração do futuro” conclui.
Educação para todos
Durante o encontro os especialistas debateram
também as perspectivas da educação inclusiva no país, que tem como desafio a
descontinuidade nas políticas públicas nos Planos de ensino.
Mozart
Neves Ramos, do Instituto Ayrton Senna
Eles concluíram que uma política bem-sucedida só
aconteceria em conjunto com a sociedade.
Segundo dados do IBGE atualmente no
Brasil são 1,3 milhão de jovens entre 15 e 17 anos que abandonaram a escola e
não trabalham, na sua maioria jovens negros, de baixa renda ou adolescentes
grávidas. “A marginalização nas políticas educativas é um assunto fundamental
que os gestores públicos devem colocar como prioridade, e como sociedade nós
podemos ser guardiões desse processo” afirmou Mozart Neves Ramos, diretor de
inovação e articulação do Instituto Ayrton Senna.
Estatísticas comprovam que 40% das crianças
brasileiras hoje não sabem ler nem escrever. Um ano de escolaridade pode
impactar 15% da vida de uma pessoa.
“Elaborar conteúdo das 17 ODS para um ano escolar
talvez seja demais, deveríamos focar em 4 ODS para resolver boa parte das
questões e incluir este assunto nos vestibulares” mencionou José Eli da Veiga,
professor da Universidade de São Paulo (IEE-USP) e criador do site http://sustentaculos.pro.br projeto que
ele criou para chamar a atenção dos jovens sobre os objetivos sustentáveis.
José Eli
da Veiga, economista e professor da USP
Segundo Zé Eli a solução não radica nas redes
sociais como meio de difusão e sim na grade curricular das escolas e a
importância de criar conteúdo segmentado. Já Mozart Neves considera que é
preciso mudar as matrizes da educação brasileira com princípios de cognição e
criatividade. Na visão dele as universidades não estão formando professores de
acordo com as necessidades da escola pública. “Se os governos não sabem assumir
o dever de casa, nós precisamos agir para não sofrer as consequências” explica.
Durante o lançamento do relatório B2S, Mozart
propus a ideia de criar grupo de trabalho com instituições preocupadas pelos
ODS. A Siemens junto a diversas instituições, entre estas o Instituto Ethos,
mostraram interesse em conformar a equipe “ Acredito que representações da
sociedade civil em áreas especificas poderiam mobilizar o pais. Por que o
grande desafio para o alcance dos objetivos e metas é gerar mobilização. Então
nos ODS a ideia e que identificando 17 objetivos e 17 instituições, que
eventualmente estejam já trabalhando com aqueles objetivos, possam de alguma
maneira contribuir com estes” explica.
Segundo Mariana Grossi do CEBDS a descontinuidade
nos planos de educação pode ter como solução o trabalho aliado ao planejamento
das empresas e a política de estado, porém não aos governos de quatro anos que
geram um descaso gigante. No entanto ela acredita que a agenda 2030 das ODS
pode mudar esta perspectiva.
Fonte: ENVOLVERDE
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