Astrônomos
mostram porque região do Sol na Via Láctea é habitável.
Por Denis
Pacheco – Jornal da USP –
Sol jamais cruza os “braços espirais” da galáxia,
evitando evento catastrófico que poderia causar extinções em massa na Terra.
Desde que
Copérnico teorizou que a Terra girava em torno do Sol, aprendemos que nada no
universo está parado. Não apenas a Terra gira em torno de si mesma, como ao
redor do Sol e o próprio Sol, no centro da Via Láctea, também se move. O que os
físicos não compreendiam até então era se esse movimento do Sol atravessaria,
eventualmente, o que chamamos de “braços espirais” da Via Láctea,
estruturas que circundam a galáxia e berço de incontáveis novas estrelas.
Ao utilizarem dados precisos de posições de
estrelas jovens e cálculos detalhados de órbitas na galáxia, uma nova pesquisa
mostrou que o Sol reside permanentemente no meio de dois braços espirais
importantes da galáxia, Sagittarius e Perseus. De acordo com a descoberta, o
Sol jamais cruza os braços espirais, evitando um evento catastrófico que
poderia causar extinções em massa na Terra.
O trabalho foi realizado por uma equipe liderada
por Jacques Lépine, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP.
Nossa galáxia tem a forma de um disco achatado
formado de estrelas e de gás. Como muitas galáxias, ela apresenta os tais
“braços espirais” – estruturas espiraladas de matéria mais brilhante que contêm
estrelas jovens e luminosas. As estrelas do disco galáctico giram em torno do
centro da galáxia da mesma forma que os planetas giram em torno do Sol. O Sol
não é diferente, e demora 200 milhões de anos para dar uma volta galáctica.
Observando atentamente os chamados masers, uma
amplificação de microondas por emissão estimulada de radiação, especialistas
puderam calcular com precisão a distância entre os braços espirais e os demais
corpos que constituem a galáxia. “Utilizamos radiotelescópios separados por
milhares de quilômetros para medir e observar a velocidade com a qual essas
fontes se deslocam no céu”, sumariza Lépine.
“Não conseguimos ver os braços porque sua estrutura
é bastante plana, mas quando se vê uma outra galáxia, conseguimos enxergar as
formas espiraladas”, explica Lépine. Essas estruturas são especialmente muito
visíveis por serem o local de nascimento das estrelas, que, dependendo da sua
massa, podem ser muito luminosas.
Braços espirais são estruturas
espiraladas de matéria mais brilhante que contêm estrelas jovens e luminosas –
Ilustração: Divulgação.
De forma simplificada, o especialista explica que,
ao estabelecer um ponto inicial, astrônomos podem, por meio de cálculos,
observar por onde uma estrela já passou ou irá passar. “Qualquer estrela – o
Sol, por exemplo – gira em torno do centro da galáxia”, reforça ele.
Na pesquisa inédita, astrônomos da USP descobriram
que o Sol e os braços espirais giram com a mesma velocidade. Isto é algo que só
acontece para estrelas que se encontram aproximadamente na mesma distância do
centro galáctico que o Sol, cerca de 26.000 anos-luz. Como o Sol anda junto com
os braços espirais, ele nunca os cruzará.
“Sempre se especulou sobre o que acontece cada vez
que o Sol atravessa os braços, e se pensava que isso acontecia periodicamente,
por exemplo, a cada 150 milhões de anos”, contou Lépine. “Mas de acordo com os
nossos cálculos isso não acontece nunca.”
Para melhor compreender a descoberta, o professor
ilustra ao explicar que, se desenharmos uma espiral em um CD e o colocarmos
para girar, notaremos que o desenho não se altera, acompanhando o giro do
disco. “Na galáxia, os braços também, eles giram como se fossem um desenho
constante”, revela.
Quando não se sabia que o Sol permaneceria sempre
entre os dois braços, especialistas acreditavam que, de tempos em tempos,
ele atravessaria a estrutura. Como o braço é uma região que
contém explosões de supernovas e nuvens de gases moleculares, as hipóteses
incluíam uma infinidade de eventos cataclísmicos. A passagem do Sol “poderia
causar um grande fluxo de raios cósmicos, que poderia acabar com a vida em
episódios de extinção em massa ou provocar mudanças climáticas”, lista o
professor.
Entretanto, de acordo com os cientistas, nos
últimos 2 bilhões de anos o Sol não atravessou nenhum dos braços.
A pesquisa também explica a existência de um
pequeno braço anômalo na Via Láctea, chamado de “Braço Local”. De acordo com o
grupo de Lépine, o “Braço Local” foi formado por muitas estrelas que, como o
Sol, ficam “presas” entre os braços de Sagittarius e Perseus.
O trabalho possui apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes) via Programa de Excelência Acadêmica (Proex).
O artigo The dynamical origin of the Local Arm,
and the Sun´s trapped orbit (Jacques R. D. Lépine, Tatiana A. Michtchenko,
Douglas A. Barros, Ronaldo S. S. Vieira) foi aceito para publicação na revista Astrophysical
Journal e pode ser acessado neste link.
Com informações da Assessoria de Imprensa do IAG
Fonte: ENVOLVERDE
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