Desemprego e
informalidade assolam mulheres da América Latina.
Por José Manuel Salazar-Xirinachs
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Este é um artigo de opinião de José Manuel
Salazar-Xirinachs, diretor regional da OIT para América Latina e o Caribe.
LIMA, 2017 (IPS) – Incorporar as mulheres no
mercado de trabalho da América Latina e o Caribe tem sido uma tendência
constante e positiva nas últimas décadas. Porém, em 2017, em tempos do
incremento de desemprego e informalidade, novamente surge a necessidade de
insistir no quesito igualdade de gênero e gerar mais e melhores empregos para
255 milhões de mulheres em idade de trabalhar que moram nesta região.
Cerca de metade destas mulheres, 126 milhões, já
fazem parte da força laboral o qual é uma vitória ao longo dos anos, porém não
podemos ficar relaxados.
Durante o último ano, onde o crescimento foi
lento, situações de crise econômica que impactaram a região afetaram o mercado
de trabalho, com um incremento abrupto do desemprego e os indicadores de
qualidade, situação que afetava mais as mulheres.
A taxa de desemprego feminino chegou a níveis
extremos que não eram vistos faz uma década na América Latina e o Caribe, 9,8
%, um extremo. Se a dinâmica continua nesse ritmo a taxa pode superar os 10%
neste ano.
O nível de desemprego das mulheres cresceu em
1,6% sobre a variação dos homens que aumentou 1,3%. Dos cinco milhões de
pessoas que engrossaram as filas do desemprego, 2,3 milhões eram mulheres. É
dizer, hoje existem 12 milhões de mulheres procurando emprego de forma ativa,
porém não o conseguem.
A participação das mulheres no mercado de
trabalho aumentou no último ano. A nível nacional (rural e urbano) a taxa
feminina foi de 49,3% a 49,7%. Uma boa notícia, no entanto, ainda continua
inferior aos dos homens que é 74,6.
O ponto negativo foi que a taxa de ocupação das mulheres, em relação a mão de obra, diminuiu 45,2% a 44,9%. No caso dos homens houve uma redução parecida, porém superior, 69,3%.
O último relatório Cenário Laboral da América
Latina e o Caribe da OIT (Organização Internacional do Trabalho) destacou que a
menor atividade econômica reflete tendências na diminuição do número de
trabalhadores registrados, aumentando os empregos informais e a redução dos
salários formais.
As estimativas mais recentes sobre informalidade
nas mulheres indicam que cerca da metade está em condição de instabilidade
laboral, baixa renda e falta de proteção aos direitos.
Ao longo dos últimos anos se identificou alguns
pontos a serem considerados ao analisar a participação laboral feminina. Cerca
de 70% trabalha no setor de serviços e comercio onde as condições são precárias
incluindo a falta de contratos.
Além disso, 17 milhões de mulheres faz trabalho
doméstico. São mais de 90% de pessoas dedicadas a esta atividade. Neste oficio
os níveis de informalidade são muito elevados, cerca de 70%.
Esta descrição do mercado feminino não estaria
completa sem destacar o relatório regional sobre “Trabalho Decente e igualdade
de gênero” de diversas agências das Nações Unidas apresentado em 2013, nesta
região 53,7% das mulheres trabalhadoras têm mais de dez anos de educação formal
comparado aos 40,4% dos homens.
Em contrapartida, 22,8 % das mulheres do mercado
têm educação universitária (completa e incompleta) em relação ao 16,2% dos
homens.
No entanto, isso não impede que exista um abismo
salarial importante. Segundo um estudo da CEPAL (Comissão Econômica para
América Latina e o Caribe) adverte que em 2016, segundo os dados as mulheres
recebiam 83,9 % do que os homens ganhavam em empregos iguais. A distância é
maior em cargos com níveis educativos superiores. Todos esses dados são um
chamado a ação.
Está temática já faz parte dos objetivos de
desenvolvimento sustentável estabelecidos para todos os países na Agenda 2030.
Em especial o ODS 5 “Alcançar a igualdade entre gêneros e empoderar as mulheres
e meninas” a chave para o ODS 8 que fala sobre o crescimento econômico e
trabalho decente. Para a OIT a igualdade de gênero é um objetivo fundamental
que está presente em todas suas atividades.
Estamos frente a um desafio de estrutura que
implica mudanças econômicas, sociais e culturais. É preciso que os governos
como atores sociais mantenham isso como prioridade promovendo a igualdade entre
homens e mulheres.
Devemos procurar estratégias para melhorar a produtividade das mulheres impulsionando sua participação nos setores de ingressos meio e alto e identificar as causas da segregação.
Para continuar avançando na igualdade do trabalho
é preciso combinar diversas estratégias com foco na igualdade de gênero
incluindo políticas ativas de emprego, redes de proteção e novas políticas para
crianças e dependentes, estratégias para promover a divisão das
responsabilidades familiares, melhorias na formação profissional e educação,
promover as empreendedoras, aumento da segurança social e uma ação firme para
combater a violência contra as mulheres, até mesmo no local de trabalho.
A igualdade no mercado de trabalho foi um desafio
enfrentado no passado, mas que ainda é importante no presente e é um dos
pilares para conseguir um futuro melhor na região.
Fonte: ENVOLVERDE
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