Mudança climática pode afetar
espécies vegetais marinhas e prejudicar cadeia alimentar.
Alteração nas águas causada por dióxido de
carbono (CO2) pode afetar espécies vegetais marinhas e prejudicar cadeia
alimentar.
Por Júlio Bernardes, do Jornal da USP.
Amostras de espécies vegetais marinhas
(fitoplâncton) analisadas em pesquisa do Instituto Oceanográfico (IO) da USP
mostram os efeitos futuros das mudanças climáticas nos oceanos. O trabalho do
pesquisador Marius Müller revela que o aumento das emissões antropogênicas (feitas
pela atividade humana) de dióxido de carbono (CO2), torna as águas
menos alcalinas e prejudica a calcificação de fitoplâncton, podendo interferir
na cadeia alimentar marinha. Ao mesmo tempo, o estudo traz indícios do aumento
da fotossíntese das algas, o que pode ampliar a absorção de CO2 do
oceano e reduzir os efeitos do aquecimento global.
Em parceria com pesquisadores da Universidade da
Tasmânia (Austrália), Müller coletou amostras de fitoplâncton calcificado na
região do Oceano Austral, cujas águas banham a Antártida. “A importância do
fitoplâncton é pouco conhecida. Por exemplo, é ele o responsável pela produção
da metade do oxigênio que a população da Terra respira”, destaca. “O
fitoplâncton também é importante por ser a base da cadeia alimentar no ambiente
marinho, assegurando a sobrevivência de diversas espécies de animais.”
Calcificação de fitoplâncton no estágio atual
dos oceanos (esq.) e na simulação da redução da alcalinidade das águas (dir.) –
Imagem: cedida pelo pesquisador.
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Depois da coleta das amostras, foram isoladas em laboratório algas da espécie Emiliana huxleyi. “São algas microscópicas, com 5 a 10 micrômetros de diâmetro cada uma, que produzem placas de carbonato de cálcio”, conta o pesquisador. “Quando elas florescem na superfície do oceano em grande quantidade, formam uma grande faixa de cor leitosa, que pode ser vista em imagens de satélite.”
Depois da coleta das amostras, foram isoladas em laboratório algas da espécie Emiliana huxleyi. “São algas microscópicas, com 5 a 10 micrômetros de diâmetro cada uma, que produzem placas de carbonato de cálcio”, conta o pesquisador. “Quando elas florescem na superfície do oceano em grande quantidade, formam uma grande faixa de cor leitosa, que pode ser vista em imagens de satélite.”
Mudanças
climáticas
As algas foram cultivadas e submetidas a experimentos
que simulam as condições futuras dos oceanos. “Um dos fenômenos estudados foi a
queda do pH das águas, causada pelo aumento das emissões de dióxido de carbono
(CO2) devido à atividade humana”, relata Müller. Em contato com a
água, o CO2 reage e forma o ácido carbônico, que diminui o pH das
águas oceânicas, tornando-a menos alcalina. “Também foram verificados os
efeitos da diminuição de nutrientes no crescimento e no desenvolvimento do
fitoplâncton.”
Amostra de fitoplâncton no banco de
microrganismos do Departamento de Oceanografia Biológica do IO – Foto: Cecília
Bastos/USP Imagens.
Os resultados do estudo apontam que a mudança no
pH da água e a limitação de nutrientes afetam a formação das placas de
carbonato de cálcio. “Elas se deterioram e, em alguns casos, até não chegam a
se formar, ou seja, não há calcificação”, ressalta o pesquisador. “Isso pode
afetar a cadeia alimentar marinha, hipótese que precisa ser verificada por
novas pesquisas.”
A pesquisa também mostrou que, quando é simulado
o aumento das emissões, o efeito relativo do CO2 no desenvolvimento
do fitoplâncton é o mesmo com nutrientes suficientes ou limitados. “Na verdade,
é possível supor que com mais CO2 na água, as algas fazem mais
fotossíntese, o que auxilia no crescimento do fitoplâncton”, observa Müller.
“Isso pode aumentar a capacidade de absorção de CO2 do oceano,
incluindo o de origem antropogênica.”
A pesquisa foi orientada pelos professores
Frederico Brandini, do IO, e Gustaaf Hallengraeff, da Universidade da Tasmânia.
O estudo teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), por meio do programa Ciência sem Fronteiras e do Australian
Research Council (ARC). Os resultados dos experimentos são descritos em artigo
publicado pela revista científica The ISME Journal, editada pela International
Society for Microbial Ecology (ISME) e que integra o Nature Publishing Group,
sediado no Reino Unido.
Fonte: EcoDebate
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