Comunicação
Ambiental e Poder.
Por Vilmar Berna –
Os problemas ambientais atingem a todos,
independente de classe social, mas é óbvio que os pobres, que não tem como se
defender, acabam sendo mais atingidos e são obrigados a migrar para não
perecerem. Isso não significa que ser rico servirá de salvo conduto para livrar
uma pequena parcela de nossa espécie dos problemas ambientais. Pode resolver
aqui e ali, localmente, mas se continuar a escalada irresponsável de uso
ilimitado de recursos e de destruição de ecossistemas, nem os ricos terão para
onde fugir, por que não existe um segundo planeta terra de recursos.
Vilmar Berna, escritor e jornalista ambiental,
recebeu o Prêmio Global 500 das Nações Unidas.
As economias capitalista e comunista, para ficar só
nessas duas, não diferem na forma como extraem e transformam os recursos
naturais. Ambas agem de maneira irresponsável ao tratar o Planeta como uma
espécie de armazém de recursos naturais infinitos por um lado e uma lixeira de
capacidade infinita para absorver nossos restos e poluição, por outro.
O Mar de Aral, que virou deserto na China
Comunista, ou os frequentes acidentes ambientais no mundo capitalista revelam
bem o quanto a questão ambiental e desrespeitada por ambos.
A corrida aos recursos naturais se intensificou
ainda mais nas últimas duas centenas de anos com a invenção das máquinas, que
mudou a escala da extração de recursos de artesanal para industrial, e com a
elevação do consumismo como um valor a ser perseguido como sinônimo de sucesso
e felicidade.
Em consequência, a pegada ecológica agigantou-se e
nada indica que irá diminuir com o atual crescimento demográfico, o consumo de
recursos limitados, a emissão de gases carbônicos, a extinção em massa das
espécies.
O aumento dessa pegada ecológica não se converteu
em melhor qualidade de vida no mundo e menos ainda no atendimento das
necessidades dos mais pobres, mas serviu para aumentar ainda mais a
concentração de riquezas ou nas mãos dos mais ricos, no caso dos regimes capitalistas,
ou nas mãos do Estado, no caso dos regimes comunistas. Então, fica óbvio que
não será aumentando o tamanho da pegada ecológica que se atenderá à necessidade
dos mais pobres, mas distribuindo melhor as riquezas e combatendo a
concentração de renda e de poder.
Seja no capitalismo ou no comunismo uma coisa é
certa, os donos do poder político e econômico não gostam de perder poder.
E é aqui que entra a importância da comunicação a
serviço da solução dos problemas ambientais e não a serviço de agravar estes
problemas.
Se no passado os donos do poder político e
econômico, seja no capitalismo ou no comunismo, usavam correntes, chicotes,
tiros de canhão e masmorras para impor suas verdades, hoje, usam a comunicação
meio verdadeira ou francamente mentirosa, ou manipulada com o mesmo propósito:
nos manter escravos de uma lógica que beneficia a poucos e está nos levando a
um ponto ambiental planetário de não retorno que ameaça a todos.
Como manobra para desviar o foco de nossa atenção,
a comunicação manipulada e manipuladora tergiversa, lança suspeitas, confunde a
opinião pública sugerindo que a crise ambiental não é tão grave assim, que os
ambientalistas são apocalípticos, que o agravamento das mudanças climáticas é
uma mentira, que o planeta tem recursos de sobra para todos, que o ideal é o
consumismo como meta de felicidade.
Manipula com nossa culpa, como se cada um de nós,
individualmente fosse responsável pelo atual colapso ambiental. Um truque sujo
para desviar nossa atenção, colocando a todos num mesmo saco, explorados e
exploradores, como se o poder de decisão fosse igual para todos nós, como se a
solução para os nossos problemas ambientais fosse apenas uma questão de mudar o
estilo de vida, pegar mais leve com o planeta, praticar a reciclagem, andar de
bicicleta, usar energias alternativas, etc. Sim, claro, tudo isso ajudaria, mas
sem modificar as atuais estruturas de concentração de riquezas e de poder nas
mãos de poucos, a crise planetária prosseguirá, por que prosseguirá a
apropriação desigual dos recursos, não para o atendimento das necessidades de
todos, mas para a concentração de rendas, riquezas e poder nas mãos de poucos
que nos dominam, corrompem e manipulam.
Como o amor, a fraternidade, a solidariedade não se
dão por decreto, a humanidade terá ainda uma dura jornada pela frente para
aprender a dominar a si própria antes de pretender dominar a natureza, pois o
que conseguimos até aqui foi mais destruir e arrasar que colaborar para tornar
este mundo melhor.
Fonte: ENVOLVERDE
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