Títulos
Verdes no Brasil.
Por Marina Grossi, do Cebds –
A consciência crescente dos consumidores tem
levado as empresas a aumentar constantemente o grau de transparência dos
processos de produção. Cada vez mais quem compra determinado produto quer saber
em que condições ele foi produzido, se respeitou as regras de boa gestão
ambiental, se não envolveu nenhuma ação que afrontou princípios de justiça
social, se a empresa tem imagem positiva em termos de responsabilidade sócio
ambiental.
Guardadas as óbvias diferenças, algo semelhante
vem acontecendo no universo do financiamento empresarial. Recentemente um grupo
de gestores de investimentos, liderados pela Climate Bonds Initiative e responsáveis
pela alocação de cerca de R$ 1,6 trilhão emitiu
declaração no sentido de reafirmar seu compromisso de que, diante das
ameaças presentes e futuras decorrentes dos efeitos das mudanças
climáticas, é urgente estruturar, a exemplo do que já existe em
outras partes do mundo, o mercado brasileiro de títulos
verdes, ou green
bonds , na expressão inglesa que ainda predomina.
Assinam essa declaração alguns dos mais
importantes agentes do mercado financeiro como BTG Pactual, BB DTVM, Itaú Asset
Management, Santander Asset Management, Sul América Investimentos e UBS Brasil.
Os títulos verdes nada mais são do que títulos em
tudo semelhantes a qualquer outro tipo de título de dívida mas que, como
característica diferenciadora, carregam uma marca ecológica por destinarem-se
ao financiamento de atividades comprovadamente relevantes na defesa dos valores
ambientais. São títulos que exigem um alto grau de transparência da parte das
empresas, já que são sempre submetidos a avaliação externa.
Esses títulos ainda são novidade por aqui, mas já
fazem grande sucesso em várias partes do mundo. Para impulsionar este mercado
no país, o Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a Febraban lançaram, em outubro do
ano passado, Guia
para Emissão de Títulos Verdes no Brasil.
O potencial de mercado para títulos assim em
nosso país é extraordinariamente grande, seja em função da gigantesca dimensão
dos ativos ambientais que poderiam ser objeto de ações lastreadas por esses
títulos, seja porque são várias as empresas brasileiras que desenvolvem
atividades capazes de ganhar o rótulo verde, uma vez que estejam bem orientadas
sobre os mecanismos que regulam a atividade.
Justine Leigh Bell da Climate Bonds
Initiative estima que para o corrente ano de 2017 há um potencial de
cerca de R$ 16 bilhões em projetos passíveis de serem financiados sob a
rubrica verde. Eficiência energética e manejo florestal são exemplos de áreas
em que já foi possível realizar captações bem sucedidas e com muito grande
procura da parte dos investidores.
A Suzano Papel e Celulose, primeira empresa
brasileira a desvendar essa seara em mercado brasileiro, realizou uma emissão
de US$ 500 milhões para papéis focados em restauração florestal, gestão hídrica
e energia renovável. O sucesso foi tamanho que a demanda superou a oferta em
três vezes. Há um mercado ávido por associar-se a iniciativas bem estruturadas,
iniciativas capazes de gerar retorno não penas na dimensão financeira, mas
também em credibilidade e imagem. A BRF e a Fibria foram as outras duas
empresas brasileiras que já emitiram esses papeis, mas no exterior, registrando
semelhante sucesso.
As regulamentações próprias desse mercado devem
exceder aquelas que já, de forma tão detalhada, normatizam os mercados de
capitais em geral. Títulos com a marca da sustentabilidade são depositários de
esperanças que devem se cumprir. Transparência e viabilidade são fundamentais.
Além do mais, é preciso tomar em consideração as especificidades nacionais e as
dos diversos segmentos de negócios.
De todo modo, o que se vê no comportamento
demonstrado pelo mercado, são perspectivas muito concretas de que a retomada
dos investimentos e, consequentemente, do desenvolvimento em nosso país pode
ocorrer incorporando a dimensão ambiental de forma muito mais efetiva do que
ocorria até o advento da crise.
Texto publicado originalmente no Projeto Colabora em 27 de março.
Fonte: ENVOLVERDE
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