Da
ambição para a ação.
Por António Guterres*
Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, o
secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que posições de liderança
ainda são majoritariamente ocupadas por homens.
Posições de liderança ainda são ocupadas por
homens, e a lacuna econômica baseada no gênero se aprofunda, graças a atitudes
ultrapassadas e machismo.
Os direitos das mulheres são direitos humanos.
Nestes tempos turbulentos, com o mundo mais imprevisível e caótico, os direitos
das meninas e mulheres estão sendo reduzidos, restritos e revertidos.
Empoderá-las é a única maneira de proteger seus direitos e assegurar que elas
possam alcançar seu potencial pleno.
Desequilíbrios históricos nas relações de poder
entre homens e mulheres, exacerbados pelas crescentes desigualdades entre
sociedades e países, estão levando a uma maior discriminação contra mulheres e
meninas. Em todo o mundo, tradição, valores culturais e religião estão sendo
mal usados para restringir os direitos das mulheres, reforçar o sexismo e
defender práticas misóginas.
Os direitos legais das mulheres — que nunca foram
iguais aos dos homens em nenhum continente — estão se esvaindo. Os direitos que
as mulheres têm sobre seus corpos estão sendo questionados e enfraquecidos. Frequentemente,
elas são alvo de intimidação e assédio no mundo virtual e na vida real. Nos
piores casos, extremistas e terroristas constroem suas ideologias baseadas na
submissão de mulheres e meninas e as escolhem para violência sexual e baseada
no gênero, casamento forçado e escravização virtual.
Apesar de alguns avanços, posições de liderança
ainda são ocupadas por homens, e a lacuna econômica baseada no gênero se
aprofunda, graças a atitudes ultrapassadas e machismo chauvinista enraizado.
Precisamos mudar isto ao empoderar mulheres em todos os níveis, possibilitando
que suas vozes sejam ouvidas e dando a elas controle sobre suas vidas.
Negar os direitos delas não é apenas um erro em si
só: tem um forte impacto social e econômico, que retém a todos. A igualdade de
gênero tem um efeito transformador essencial para comunidades, sociedades e
economias plenamente funcionais.
O acesso das mulheres a serviços de saúde e
educação tem benefícios para famílias e comunidades, que se estendem às
gerações futuras. Um ano a mais na escola pode aumentar em até 25% a renda de
uma garota no futuro.
Quando as mulheres participam plenamente da força
de trabalho, são criadas oportunidades e crescimento. Diminuir a diferença de
gênero no emprego poderia adicionar 12 trilhões de dólares no PIB mundial até
2025. Dar mais participação às mulheres em instituições públicas garante mais
representatividade, aumenta a inovação, melhora o processo decisório e
beneficia sociedades inteiras.
Marcha das Mulheres em Oakland, nos Estados Unidos.
Foto: Flickr/jar [] (CC)
A igualdade de gênero é central para a Agenda 2030,
plano global para superar os desafios que enfrentamos. O Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5 pede especificamente igualdade de
gênero e empoderamento de todas as mulheres, e isto é central para o alcance de
todos os 17 ODS.
Estou comprometido a aumentar a participação das
mulheres no nosso trabalho de paz e segurança.
As mulheres como negociadoras
podem aumentar as chances de paz sustentável, e mulheres pacificadoras diminuem
as chances de abuso e exploração sexual.
Dentro das Nações Unidas, estou estabelecendo um
roteiro claro para o alcance de paridade de gênero, para que nossa Organização
realmente represente as pessoas que serve. Objetivos prévios não foram
atingidos e agora precisamos sair da ambição para a ação.
No Dia Internacional da Mulher, vamos nos
comprometer a fazer tudo o que for possível para superar o preconceito
arraigado, apoiar o engajamento e o ativismo e promover a igualdade de gênero e
o empoderamento das mulheres.
* António Guterres é secretário-geral da
Organização das Nações Unidas. Artigo publicado no jornal O Globo em 7 de março
de 2017.
Fonte: ONU Brasil
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