Estudo faz diagnóstico sobre
declínio de insetos polinizadores no mundo.
Por Rodrigo de Oliveira Andrade | Revista
Pesquisa FAPESP
Abelha
borá (Tetragona clavipes) fazendo polinização em Belém (Foto: Léo Ramos/Revista
Pesquisa FAPESP).
O uso intensivo de fertilizantes químicos, a
destruição e degradação de áreas florestais e o agravamento das mudanças
climáticas são as causas do declínio das populações de insetos polinizadores,
como abelhas, moscas e borboletas, ao redor do mundo. A conclusão é de um amplo
estudo de revisão feito por um grupo internacional de pesquisadores, entre eles
a bióloga Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca, do Departamento de Ecologia do
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).
Em artigo publicado na revista
Nature, a equipe apresenta as principais ameaças associadas à diminuição
de espécies polinizadoras em várias regiões do planeta tendo como base dados
biológicos e registros da lista vermelha das espécies ameaçadas da União
Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). No
estudo, há ainda indicação de políticas e intervenções que poderiam ajudar a
reverter esse cenário.
As abelhas e outros insetos polinizadores são
conhecidos por proporcionar uma variedade de benefícios econômicos e
ambientais, entre os quais a polinização de plantas e a produção de alimentos
são os mais notáveis. No Brasil, as abelhas respondem em média por até 24% do
ganho em produtividade agrícola em pequenas propriedades rurais. Também se
estima que a exportação global de mel tenha movimentado US$ 1,5 bilhão em 2007.
Em 2016, os benefícios obtidos graças à polinização no mundo, os chamados
serviços ecossistêmicos, foram calculados em aproximadamente US$ 577 bilhões.
No estudo, os pesquisadores verificaram que as
cerca de 20 mil espécies de abelhas conhecidas polinizam mais de 90% das 107
principais culturas do mundo. Não por acaso, 75% da alimentação humana depende
direta ou indiretamente da ação de animais polinizadores. O declínio de algumas
espécies de abelhas está associado ao processo de industrialização, sobretudo
na Europa e na América do Norte, segundo os cientistas.
Espécies invasoras de polinizadores também podem
causar o desaparecimento ou a diminuição de populações de espécies nativas,
como a Bombus dahlbomii, na Argentina. Em algumas regiões da Europa, por
exemplo, 9% das espécies de abelhas podem desaparecer nas próximas décadas. É o
caso da B. franklini e da B. cullumanus. De acordo com os
pesquisadores, as alterações climáticas previstas pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estão influindo na
distribuição geográfica de muitos desses polinizadores a uma velocidade maior
do que a capacidade de dispersão desses animais.
Os problemas causados pela perda de polinizadores
não se restringem à produção agrícola. Segundo eles, há também impactos
negativos na reprodução de plantas silvestres, uma vez que mais de 90% das
espécies de plantas tropicais com flores e cerca de 78% das espécies de zonas
temperadas dependem, pelo menos em parte, da polinização desses insetos.
“O estudo verificou que os polinizadores são
significativamente afetados pelo uso de pesticidas, pelas alterações climáticas
globais e mudanças no uso da terra”, diz Vera Lúcia, que também é pesquisadora
do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, no Pará. “Com base nesse
conhecimento, apresentamos algumas ações de políticas públicas para conservação
desses animais que devem ser discutidas na Conferência das Partes da Convenção
da Diversidade Biológica, entre os dias 4 e 17 de dezembro no México.”
Entre as medidas sugeridas no estudo estão
políticas de estímulo a sistemas agrícolas mais diversos, melhor regulamentação
do comércio de polinizadores manejados, como as colmeias de abelhas, de modo a
controlar a propagação de parasitas e patógenos, e maior investimento na
educação dos agricultores sobre o controle de pragas, a fim de reduzir a
dependência de pesticidas. “O objetivo é melhorar as condições de vida das
populações rurais, conservar a biodiversidade, melhorar as boas práticas de
manejo do meio e direcionar o planejamento para guiar as ações futuras de
restauração e conservação”, diz Vera Lúcia. “Garantir a conservação dos
polinizadores é retorno certo para a agricultura, biodiversidade e
desenvolvimento científico.”
O artigo Safeguarding pollinators and their
values to human well-being, de Pott, S.G e outros, publicado na revista Nature
de 28 de novembro de 2016, pode ser acessado em http://www.nature.com/nature/journal/v540/n7632/full/nature20588.html.
Fonte: EcoDebate
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