Agrotóxico
ameaça vida das abelhas e de outros animais.
Pesticidas à base de nicotina são grande risco não
apenas às abelhas, ameaçadas de extinção, mas também para outros animais como
borboletas, aves e insetos.
Por Redação do Greenpeace Brasil –
Foto: © Axel Kirchhof / Greenpeace
As abelhas do mundo inteiro estão sob forte ameaça
dos agrotóxicos, em especial dos neonicotinoides, uma classe de pesticidas
derivados da nicotina. Isso não é novidade: desde de 2008 que a comunidade
internacional discute os perigos dessa substâncias e em 2013 a União Europeia
proibiu parcialmente sua aplicação nas lavouras, como forma de proteger as
populações de abelhas, insetos fundamentais para a produção agrícola e que se
encontram em forte declínio. Ano passado, o órgão ambiental dos Estados Unidos colocou
esses insetos na lista de espécies ameaçadas de extinção.
Um novo relatório do Greenpeace,
publicado na Europa, aponta que agrotóxicos neonicotinoides impõem um sério
risco não apenas às abelhas, mas também para diversas outras espécies. A
análise, conduzida por cientistas da Universidade de Sussex, revisou
informações e dados de centenas de estudos publicados desde 2013, quando a
União Europeia adotou o banimento parcial dos agrotóxicos clotianidina,
imidacloprida e tiametoxam – todos neonicotinoides.
Para Dave Goulson, professor de biologia da
Universidade de Sussex e especialista na ecologia de abelhas, o quadro de
contribuição dos neonicotinoides para o declínio da população de abelhas
selvagens está ainda mais forte do que quando a União Europeia adotou o
banimento parcial da substância.
“Além das abelhas, os neonicotinoides também podem
estar ligados ao declínio das borboletas, pássaros, como pardais e perdizes, e
de insetos aquáticos”, que entram em contato com o solo ou o sistema de
irrigação. Os riscos podem se estender a morcegos também, que se alimentam dos
insetos. “Dada a evidência de tal dano ambiental, seria prudente que a
restrição europeia fosse estendida para sua integralidade”, defende o
professor.
Segundo Marco Contiero, diretor de políticas
públicas em agricultura do Greenpeace União Europeia, a ciência claramente
mostra que neonicotinoides são onipresentes e persistentes no meio ambiente
como um todo, e não apenas nas lavouras. “Essas substâncias são rotineiramente
encontradas no solo, no lençol freático e nas flores selvagens”, disse
Contiero.
Os escritórios do Greenpeace localizados na Europa
pedem agora pela moratória integral de agrotóxicos neonicotinoides por parte da
União Europeia.
Já no Brasil…
Enquanto a Europa estuda estender o banimento dos
neonicotinoides de parcial para integral em suas lavouras, o governo brasileiro
ainda permite o uso dessas substâncias à torto e à direito. E muitas vezes,
esses agentes químicos não são aplicados diretamente nas plantas, mas
pulverizados por aviões – uma prática que é perigosa por si só.
Mesmo sob os critérios da lei, a pulverização aérea
é extremamente perigosa pois ela raramente atinge apenas o seu alvo, a lavoura
– boa parte do veneno se perde pelo ambiente. Estima-se que esse desperdício é
de ao menos 30%, mas em alguns casos pode ultrapassar de 70%. O que piora muito
essa situação é que a prática é raramente realizada com responsabilidade e
dentro da legalidade, ou seja, atingindo frequentemente zonas vizinhas
habitadas como comunidades, escolas, meios aquáticos como rios, lagos e lagoas
onde a água é captada para consumo, causando a contaminação dessas áreas e a
intoxicação da vida animal, vegetal e humana.
Alguns estados estudam acabar com a prática, como o
Rio Grande do Sul, onde tramita o Projeto de Lei (PL) 263/2014,
que visa proibir a pulverização aérea de agrotóxicos em todo o território
gaúcho. Mas por enquanto ainda é permitido em praticamente todo o país, seja de
neonicotinoides ou não.
São Paulo é outro estado que possui iniciativas
para mudar essa realidade. Tramitam dois Projetos de Lei (PL) na Assembleia
Legislativa do Estado: o PL 406/2016, que proíbe o
uso e a comercialização de agrotóxicos que contenham clotianidina, tiametoxam e
imidaclopride (todos neonicotinoides) em sua composição, e o PL 405/2016, que veta a pulverização aérea de
defensivos agrícolas no estado.
A Associação Paulista de Apicultores Criadores de
Abelhas Melíficas Europeias (APACAME) defende que algumas empresas, preocupadas
em garantir a continuidade das vendas de seus pesticidas, têm lançado campanhas
rotuladas como de apoio à saúde dos polinizadores, informando inclusive que os
neonicotinoides não são prejudiciais às abelhas. “Somos de opinião que apenas
decisões drásticas de proibição do uso ou banimento desses produtos sistêmicos,
em especial aqueles do grupo dos neonicotinoides, venha a solucionar o problema
do desaparecimento e, consequentemente, da morte das abelhas. A cada dia surgem
novas pesquisas comprovando seu efeito nocivo para as abelhas”, diz a APACAME em artigo disponível em seu site.
Fonte: Greenpeace Brasil
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