Sustentabilidade
como Política Pública.
Por Dal Marcondes, da Envolverde
–
Em um tempo de guerras, massacres, eventos
climáticos extremos e crises econômicas e políticas nacionais e globais, a
retomada da centralidade da sustentabilidade é uma trilha mais segura para a
humanidade.
Ao começar um novo ano entrega-se ao destino
muitas esperanças, de que seja um período de paz, de felicidade e de muitos
bons fluídos. O olhar mais cético faz retornar à crua realidade, onde a paz é
apenas uma abstração e a felicidade está entregue à individualidade. No
entanto, o início deste ano em especial inaugura os mandatos de uma nova leva
de prefeitos no Brasil. Muitos deles chegando em cidades com graves problemas
econômicos e sociais e alguns sem nenhuma experiência administrativa.
Há o risco de que se implantar políticas públicas
aleatórias e desconexas se não houver um eixo de ação. Qual seria esse eixo?
Para muitos a palavra-chave para a gestão pública segue sendo
“sustentabilidade”. Há muita coisa a ser feita nessa área, desde os básicos
gestão de resíduos e saneamento, até inovações importantes em áreas como
mobilidade, saúde, habitação, educação e moradia, entre outras obrigações dos
alcaides.
Basicamente sustentabilidade na gestão pública
pode ser definida através da racionalidade da aplicação dos recursos de forma a
economizar materiais, reduzir desperdícios, acabar com resíduos e criar
condições para o bem estar, a boa saúde e para a educação. Uma gestão que tenha
como eixo a sustentabilidade tende a ser uma administração com bons resultados.
A ideia não é nova, vem sendo debatida ao longo
de décadas. A redução de riscos ambientais e sociais aponta para bons impactos
na economia das cidades, que gastarão menos para equacionar problemas causados
pela imprevidência. Na primeira semana deste ano o jornalista André Trigueiro
também defendeu na Folha de S. Paulo (https://goo.gl/muIXoK) a
sustentabilidade como linha mestra na gestão pública, e não apenas nas cidades,
mas no país como um todo.
Pode parecer diletante retomar o tema da
sustentabilidade em um momento em que o país e o mundo estão convulsionados por
guerras, correntes migratórias descontroladas, massacres e crises de todos os
gêneros. No entanto, esse é um guideline que pode dar sustentação a uma
retomada da economia com base em muita racionalidade e inovação, isso em um
momento em que não há nenhuma alternativa de planejamento público que esteja,
de fato, oferecendo resultados.
Para as empresas em geral a sustentabilidade, tão
apregoada em marketing e relatórios, representa basicamente economia de
materiais, água e energia, redução de riscos patrimoniais, redução de resíduos
e significativos ganhos de imagem. Essas são condições que podem dar excelentes
resultados se aplicadas a serviços públicos em geral, seja no atendimento
direto da sociedade como na gestão das obras públicas.
Durante os últimos anos os debates sobre
sustentabilidade recuaram para nichos onde os temas principais foram mudanças
climáticas, água e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A
confluência das crises política e econômica, com seus fortes impactos sociais,
que criou uma forte rispidez nas relações da cidadania, nas ruas e nas redes
sociais, deixou outros temas fora da pauta e uma das pautas abandonadas foi a
da sustentabilidade. É como se houvesse uma hierarquia dos problemas e as
questões socioambientais cavalgassem ladeira abaixo nas prioridades.
Pontualmente alguns temas emergem na mídia, uma
nova absurda lei, um novo escândalo de gestão em organismos ambientais e um
novo desastre. Mesmo nas empresas consideradas líderes no tema apenas alguns
soluços de comunicação mantiveram a pauta viva.
É preciso relembrar que sustentabilidade não é um
nicho, um item na pauta da humanidade, uma decisão pontual. É uma
transversalidade fundamental para a gestão pública, das empresas, das
organizações sociais e das pessoas.
A implantação de políticas públicas que
estabeleçam a centralidade da sustentabilidade pode oferecer caminhos mais
seguros para a superação das crises de curto prazo e mais segurança para as
metas de longo prazo. Há sempre que se lembrar que os principais diagnósticos
já estão realizados e disponíveis para qualquer pessoa e na maior parte dos
idiomas.
* Dal Marcondes é
jornalista, diretor da Agência Envolverde, com especialização em Economia, em
Ciências Ambientais (Procam/USP) e mestrando em Modelos de Negócios do
Jornalismo Digital e Pós-Industrial (ESPM/SP).
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário