Número de mortos com as ondas de
calor deve aumentar radicalmente nos próximos anos em países em desenvolvimento.
Foto: EBC
Aquecimento modesto multiplica ondas de calor
assassinas em países pobres – Pesquisadores revelam que mais meio grau Celsius
na temperatura média da Índia no verão tornará esses extremos duas vezes e meia
mais frequentes, intensas e duradouras a ponto de ser quase certa a morte de dezenas
de milhares de pessoas
Por LUCIANA VICÁRIA, do Observatório do Clima
O número de mortos com as ondas de calor deve
aumentar radicalmente nos próximos anos em países em desenvolvimento, sugere um
estudo publicado nesta sexta-feira (9) no periódico Science Advances.
Na Índia, onde o estudo foi realizado, o
prognóstico é avassalador. Bastará um acréscimo de mais meio grau na
temperatura média do país no verão para as ondas de calor mortíferas ficarem
duas vezes e meia mais frequentes. Os cientistas afirmam que uma elevação dessa
magnitude nas médias é “praticamente inevitável” no país.
“Se nada for feito, se a população não for
protegida, se as emissões não forem controladas, os mortos virão em dezenas de
milhares”, diz Omid Mazdiyasni, da Universidade da Califórnia, um dos autores
do estudo.
O aumento médio previsto da temperatura na Índia
será de 2,2°C a 5,5°C até o final do século 21, valor acima da média do
planeta, uma vez que o aquecimento global não é igual em todos os lugares.
Soma-se o fato de a Índia reunir condições que tornam os eventos climáticos
ainda mais perigosos: comunidades vulneráveis – mais de 20% da população ganha
menos de US$ 1,25 por dia – umidade do ar elevada em algumas regiões, baixa
latitude e alta densidade populacional.
As evidências do estudo resultaram de uma análise
detalhada do comportamento da temperatura na Índia e de seus efeitos nas ondas
de calor assassinas (que causam mais de cem mortes) entre 1960 e 2009. Nesse
período, a temperatura se elevou 0,5°C e a probabilidade de mortes aumentou
146%.
Nas últimas três décadas, porém, esse fenômeno se
intensificou. As regiões ao sul e a oeste da Índia experimentaram 50% mais
eventos de ondas de calor entre 1985 e 2009, se comparado aos 25 anos
anteriores. Da mesma forma, a duração média das ondas de calor aumentou cerca
de 25% na maior parte do país.
“Até as ondas de calor mais severas, como a de
2010, que matou mais de 1.300 pessoas na cidade de Ahmedabad; ou a de 2015, com
mais 2.500 mortos no país, podem ser incomparáveis às que estão por vir”, diz
Mazdiyasni.
Uma onda de calor acontece a partir da combinação
de temperatura alta e umidade elevada. O ambiente quente e úmido faz o corpo
perder a capacidade de dissipar o próprio calor, gerando o que se chama de
estresse térmico. Quando o estresse térmico se prolonga por mais de três dias,
com temperaturas acima de 85% da média do mês mais quente, o evento passa a ser
chamado de onda de calor.
A temperatura pode chegar a níveis altíssimos, como
a de 52,3°C registrada em maio do ano passado em Ahmadabad, e a exposição a um
ambiente inóspito como esse impede o corpo de regular a própria temperatura,
gerando perda progressiva de funções vitais, o que pode levar à morte.
Populações mais pobres, idosos e crianças são os
mais vulneráveis. O estudo também indica que países da África, da América do
Sul e do Oriente Médio devem passar por situações semelhantes.
No Brasil, as ondas de calor também devem se
multiplicar, em temperaturas nem tão elevadas, mas com consequências terríveis
para a população. Um estudo publicado em 2016 pela
embaixada britânica no Brasil indica que vastas regiões do país
poderão se tornar inabitáveis caso o aquecimento global ultrapasse 4oC.
As iniciativas para amenizar os efeitos das ondas
de calor ainda são poucas, mas já existem planos para mitigar seus efeitos em
cidades indianas onde elas devem se tornar mais frequentes. A cidade de
Ahmadabad implementou recentemente o primeiro plano abrangente de aquecimento
da Ásia, que está servindo de exemplo para cidades vizinhas, que além de
pobres, sofrem com o aumento populacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário