Mais uma
vez é Dia do Meio Ambiente.
Dal Marcondes, especial para a Envolverde
Todos os anos, nesta data, acorda, no coração
das pessoas, e no seio das empresas, um gnomo verde que lembra a todos que está
na hora de dizer o quanto o ambiente é importante para todos.
Há alguns fatos que permanecem esquecidos por
todo o ano e, quando chega o Dia Mundial do meio Ambiente ganha visibilidade de
neon. O principal deles é que a Terra é o único planeta ao alcance da
humanidade, não importa quanta pesquisa espacial seja feita. E a humanidade
corre contar dois relógios, o da demografia e o da degradação. No caso da
demografia, somos hoje cerva de 7,5 bilhões de pessoas em um planeta que apenas
alimenta com alguma qualidade a metade dessas pessoas. A outra metade sofre
algum tipo de carência ou todas elas, em alimentação, saúde, habitação,
emprego, segurança, direitos humanos e todas as outras que você, leitor, puder
imaginar. Não bastasse isso, caminhamos celeremente para 10 bilhões de pessoas
em cerca de 30 anos. Há estimativas de que a humanidade chegará no redondo
número de 10 bilhões de pessoas até perto de 2050.
Sob o ponto de vista da degradação os riscos são
ainda mais prementes, nossa economia profundamente predatória acredita piamente
no paradigma do crescimento infinito, sem levar em conta a premissa de um
ambiente planetário finito. Temos o aquecimento global, que ameaça com
alterações climáticas extremas e que impõe mudanças drásticas na produção e uso
de energias. Neste campo o Acordo de Paris, o mais importante protocolo
ambiental já construído pelo conjunto de países da Terra, está sob ataque não
apenas do governo norte-americano, mas por poderosas empresas que podem ser
“prejudicadas” com a redução do uso de combustíveis fósseis.
No campo da biodiversidade as coisas são ainda
piores, as florestas do mundo estão sob ataque e, principalmente os biomas
dentro das fronteiras brasileiras, que sob o falseado argumento da produção de
alimentos, estão sendo abertos para a produção de insumos agroindustriais. Rios
são barrados sob o argumento da “energia limpa”, enquanto os oceanos perdem sua
biodiversidade pela exploração predatória da pesca industrial.
Este texto não pretende ser científico e oferecer
os dados específicos de cada uma das ameaças às quais os biomas planetários
estão sujeitos, mas apenas convidar a uma reflexão sobre o impacto da
humanidade sobre este planeta.
A Terra tem cerca de 4 bilhões de anos,
possivelmente a vida complexa tem cerca de 1 bilhão de anos no planeta, cerca
de 65 milhões de anos atrás uma catástrofe planetária praticamente extinguiu a
vida de grande porte. 100 mil anos atrás a humanidade passou a ser bípede e
começou sua trajetória de uma das espécies mais ameaçadas da Terra para a
espécie dominante. Tornamo-nos, nos últimos 5 mil anos a primeira espécie
senciente e que, a partir da observação da natureza e da reflexão criou
conceitos de ética, filosofia, ciência e política.
Criamos Deus à nossa imagem e semelhança e
desenvolvemos a cultura. Criamos a tecnologia que nos permitiu viver mais e
produzir com mais eficiência quantitativa. No entanto, agimos com o planeta que
nos dá o suporte da vida da mesma forma que o escorpião da fábula, que ao pedir
ao sapo uma carona até o outro lado do rio, e garantir que não picaria sua
montaria, não aguenta e, no meio do rio, pica o sapo e causa a morte dos dois.
A humanidade é o escorpião da Terra e o nosso rio
é o inóspito espaço que cerca o planeta. A humanidade está picando a Terra de
forma avassaladora. A diferença é que a Terra não morrerá, se livrará desse
incômodo escorpião e seguirá pela eternidade como suporte à vida de milhões de
outras espécies. O que está em jogo não pe a sobrevivência da Terra, mas sim
sua capacidade de oferecer abrigo à humanidade, uma espécie predadora que ainda
precisa evoluir para entender que não é a única e nem sequer a mais importante
espécie a se abrigar no Planeta Terra.
*Dal Marcondes é jornalista, Presidente do
Instituto Envolverde e da Rede Brasileira de Jornalismo Ambienta, com
especialização em Economia, Ciência Ambiental e Mídias Digitais. É consultor
empresarial em comunicação e em Sustentabilidade.
Fonte: ENVOLVERDE
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