Mudanças Climáticas: Humanidade
tem só mais três anos para salvar o planeta, diz grupo de especialistas.
IHU
Principais autoridades ligadas ao clima se unem
em campanha colaborativa para mobilizar setores-chave da economia; sua missão:
reduzir a liberação de gases de efeito estufa até 2020 e evitar os piores
efeitos das mudanças climáticas.
A reportagem é publicada por Luciana
Vicária e publicada por Observatório do Clima,
28-06-2017.
O ano de 2020 será crítico para o futuro do
clima. Caso as emissões continuem a subir além dessa data, os objetivos do Acordo
de Paris tornam-se praticamente inalcançáveis, concluiu um grupo de
especialistas no assunto, liderados pela diplomata Christiana Figueres,
ex-secretária-executiva da Convenção do Clima das Nações Unidas.
Juntos, eles publicaram nesta quarta-feira (28), na revista científica Nature,
um plano para manter as emissões de gases de efeito estufa sob controle nos
próximos três anos. Batizado de “Missão 2020”, o documento
traça metas de emissão de gases para seis setores da economia: energia,
infraestrutura, transporte, uso da terra, indústria e finanças.
O documento foi divulgado uma semana antes de os
líderes das maiores economias do mundo reunirem-se em Hamburgo, na Alemanha, na
reunião do G20. É o primeiro encontro multilateral realizado após o anúncio de Donald
Trump de que os EUA sairão do acordo do clima. “A ideia é
justamente trazer o assunto para a pauta política, destacar o que cada uma
destas grandes economias está fazendo para enfrentar o desafio climático,
compartilhar boas práticas e renovar as esperanças, porque, de fato, ainda
temos chances”, disse Figueres.
O aumento de temperatura que o planeta já
experimentou neste século serviu para mostrar que os impactos sociais das
mudanças climáticas, como as ondas de calor, as secas e o aumento do nível do
mar, afetam especialmente os mais pobres. Os mantos de gelo na Groenlândia e na
Antártida perdem massa a uma taxa crescente, aumentando o nível do mar; da
mesma forma, o gelo marinho de verão do Ártico; além, dos recifes de corais,
que morrem devido ao aquecimento das águas.
“A boa notícia é que ainda estamos em tempo de
atingir as metas do Acordo de Paris se as emissões caírem até
2020”, afirma Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto para
Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam, na Alemanha. Nos últimos
três anos, as emissões mundiais de gás carbônico por queima de combustíveis
fósseis permaneceram estáveis, enquanto a economia global cresceu pelo menos
3,1% ao ano.
A taxa atual de emissão, de 41 bilhões de
toneladas de gás carbônico por ano, ainda está acima do que podemos emitir.
Significa que, no ritmo de agora, em quatro anos, ultrapassaríamos o limite de
emissões que daria à humanidade uma chance de estabilizar a temperatura em 1,5°
Celsius. “É agora ou agora. Não podemos mais esperar”, diz Schellnhuber.
“Se atrasarmos, as condições de vida no planeta serão severamente
restringidas.”
Para evitar o pior, segundo Schellnhuber, é
preciso usar a ciência para orientar decisões e estabelecer metas, replicar com
agilidade as boas práticas de sustentabilidade e, sobretudo, incentivar o
otimismo. “Temos inúmeras histórias de sucesso que precisam ser compartilhadas.
É o que vamos fazer já na reunião do G20 na Alemanha”, disse.
Estas são as metas estabelecidas pela Missão
2020 para cada setor da economia:
1 – Energia: As energias
renováveis devem compor pelo menos 30% do fornecimento de eletricidade no
mundo em 2020, contra 23,7% em 2015. Nenhuma usina a carvão poderá ser aprovada
daqui três anos.
2 – Infraestrutura: Cidades e
Estados darão sequência aos seus planos de descarbonização, o que inclui a
construção de edifícios e infraestruturas até 2050, com financiamento previsto
de US$ 300 bilhões por ano.
3 – Transporte: Os veículos
elétricos deverão compor pelo menos 15% das vendas de automóveis novos
globalmente até 2020 e os híbridos devem avançar 1%. O uso do transporte em
massa nas cidades deve dobrar, a eficiência de combustível em veículos pesados
deve aumentar 20% e a emissão de gases de efeito estufa na aviação por
quilômetro percorrido deve diminuir 20%.
4 – Uso da terra: Novas
políticas deverão proibir o desmatamento e os esforços devem se concentrar em
reflorestamentos. As práticas agrícolas sustentáveis terão de se espalhar
pelo planeta e aumentar o sequestro de gás carbônico.
5 – Indústria: A indústria
pesada desenvolverá planos para aumentar a eficiência e reduzir suas emissões,
com o objetivo de diminuir pela metade a liberação de gases de efeito estufa
até 2050. Atualmente as indústrias de ferro, aço, cimento e petróleo emitem
mais de um quinto do gás carbônico mundial.
6 – Finança: O setor financeiro
precisará ter pensado na forma de mobilizar pelo menos US $ 1 trilhão por ano
para a ação climática. Governos, bancos privados e credores, como o Banco
Mundial, vão emitir títulos verdes para financiar os esforços de mitigação do
clima. Isso criaria um mercado anual que, até 2020, processaria mais de 10
vezes os US$ 81 bilhões de títulos emitidos em 2016.
** Nota do EcoDebate: Vejam,
abaixo, o artigo citado na reportagem.
Christiana
Figueres, Hans Joachim Schellnhuber, Gail Whiteman, Johan Rockström, Anthony
Hobley, Stefan Rahmstorf (2017): Three years to safeguard our climate. Nature
[DOI: 10.1038/546593a]
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