Humanos e chimpanzés: uma relação
desigual, especista e ecocida, artigo de José Eustáquio Diniz Alves.
“ Um homem que ama os bosques, caminha por
eles durante a metade de cada dia, arrisca-se a ser visto como um vagabundo. Mas se dedica todo seu dia à especulação,
destroçando esses bosques e deixando a terra pelada antes que haja chegado sua hora, é estimado como um cidadão industrioso e empreendedor”. (Henry Thoreau, 200 anos de seu nascimento)
Os seres humanos, os chimpanzés, os macacos, os
micos e os lêmures possuem o mesmo ancestral comum. O Homo Sapiens tem 99% da
genética dos chimpanzés. Portanto, não é incorreto dizer que “somos todos
macacos”.
Para Jared Diamond (no livro O Terceiro Chimpanzé),
somos primatas, ou seja, do grupo de mamíferos que inclui os macacos e os
primatas antropoides: gibões, orangotangos, gorilas e chimpanzés. Somos mais
similares a estes do que a aqueles, confinados aos Sudeste Asiático. Os gorilas
e chimpanzés existentes e os fósseis humanos estão confinados à África. Os
humanos diferem dos chimpanzés comuns e dos pigmeus em cerca de 1,6% do nosso
DNA, portanto, compartilham 98,4%. Os gorilas diferem um pouco mais de nós, em
cerca de 2,3%. Logo, devem ter divergido da nossa árvore genealógica antes de
nos separarmos dos chimpanzés comuns e dos pigmeus.
Os nossos parentes mais próximos são os
chimpanzés. A capacidade de falar, que os humanos têm, mas não os chimpanzés,
certamente depende de diferenças nos genes que especificam a anatomia das
cordas vocais e as conexões cerebrais. Entretanto, as diferenças
comportamentais entre um humano e outro estão sujeitas a enormes influências
ambientais, e o papel dos genes nestas diferenças individuais é muito
controverso.
Porém, há uma diferença fundamental. Há 12 mil
anos a população humana estava em torno de 5 milhões de indivíduos, enquanto os
símios tinham uma população ligeiramente maior. Está relação permaneceu
aproximadamente a mesma e a população humana só ultrapassou a população dos
símios no início da Era Cristã. Nos séculos XIX e XX, a desigualdade se
acentuou dramaticamente. A população humana passou de cerca de 1 bilhão de
habitantes em 1800 para 6 bilhões em 2000 e deve atingir 8 bilhões até 2025. No
mesmo período a população de chimpanzés e outros símios vem declinando
continuamente.
Artigo de Javier Salas, no jornal El País
(24/01/2017), mostra que, em meio século, 75% das espécies de macacos, micos e
lêmures correm riscos de desaparecerem da face do Planeta: “60% dos primatas
estão ameaçados de extinção. Dos gigantescos gorilas das montanhas, de 200
quilos, aos diminutos lêmures, do gênero Microcebus, de 30 gramas, os primatas
estão a caminho de desaparecerem para sempre na natureza por culpa da pressão
que os humanos exercem através da agricultura, caça, exploração madeireira,
mineração”.
Não dá para ignorar o holocausto animal, em
especial, dos chimpanzés, gorilas, macacos, micos e lêmures. Não dá para uma
espécie ser feliz com base na infelicidade alheia e na destruição da família
dos primatas. É absurdo pensar que uma sociedade que oprime animais e promove a
6ª extinção em massa será capaz de se tornar numa sociedade que não oprime
pessoas e possa ficar livre da violência.
Ou seja, a sociedade humana jamais será feliz
enquanto o progresso civilizacional estiver provocando o colapso da
biodiversidade e a infelicidade das comunidades de animais sencientes,
inclusive dos novos parentes mais próximos.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate,
é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em
População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate
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