Bacia do
Tapajós é uma das mais ameaçadas por hidrelétricas na Amazônia.
Por Sucena Shkrada Resk, do ICV
ONGs brasileiras também fizeram levantamento
sobre cenário de hidrelétricas na Bacia do Tapajós. Mapa: IR-Brasil, ICV e OPAN
A Bacia do Tapajós, localizada nos estados do
Mato Grosso, Pará e Amazonas, que liga o Cerrado à Amazônia, é uma das mais
ameaçadas na Bacia Amazônica por projetos de empreendimentos hidrelétricos
construídos e em planejamento, ao não ser considerado o efeito cumulativo de
impactos destas barragens. Esta é uma das conclusões de um grupo de cientistas,
no Estudo Damming the Rivers of Amazon Basin, publicado recentemente pela
conceituada publicação científica, a Revista Nature, que sinaliza um cenário
preocupante de degradação em larga escala, com um horizonte de mais de 500
empreendimentos em toda a Amazônia. O artigo reforça análises que já vêm sendo
feitas no Brasil, nos últimos anos (veja abaixo).
Os pesquisadores avaliam que o planejamento da
matriz elétrica com a abordagem local geralmente ignora as dimensões muito
maiores da escala da bacia, geomorfológicas, ecológicas e políticas que
determinarão a condição produtiva e ambiental futura do sistema do rio como um
todo. Ao mesmo tempo criticam que não são avaliados os impactos ambientais nas
escalas regionais a continentais.
São os chamados efeitos cumulativos, que
levam à degradação em larga escala da planície de inundação e dos ambientes
costeiros. Pensar num contexto de Pan-Amazônia é crucial, de acordo com o
estudo.
Segundo os cientistas, este cenário de degradação
ambiental exige necessidade de ação coletiva entre nações e estados para evitar
impactos cumulativos e de longo alcance. Para auxiliar neste objetivo,
apresentam uma nova forma de métrica, por meio do Índice de Vulnerabilidade
Ambiental da Barragem ou DEVI para quantificar os impactos de 140 barragens
construídas e em construção e o impacto potencial de 428 barragens construídas
e planejadas (que produzem mais do que 1 MW) na bacia amazônica.
“O rio Tapajós precisa ser uma área prioritária
para estudos detalhados sobre impactos de barragens em ecossistemas aquáticos e
biodiversidade….e sofrerá impactos maiores do que o rio Xingu devido o número
muito maior de barragens planejadas ao longo de centenas de quilômetros…” –
esta é uma das principais recomendações apresentadas.
Entre as fragilidades do Tapajós, é exposto que
existe uma área menos protegida à montante da barragem mais baixa e uma maior
taxa de desmatamento. Também a presença humana em larga escala causa um
distúrbio antropogênico das paisagens, possibilitado pela escassez de áreas
protegidas e aumento de estoques de sedimentos. Mais um aspecto importante a
ser considerado é que na bacia existem espécies em risco de extinção.
Pesquisas no Brasil sobre a Bacia do
Tapajós
No ano passado, um grupo de cerca de 50
pesquisadores de diferentes organizações escreveram 25 artigos a respeito deste
tema e seus efeitos socioambientais, no livro Ocekadi: Hidrelétricas, Conflitos
Socioambientais e Resistência na Bacia do Tapajós. A obra é uma iniciativa do
International Rivers Brasil e do Programa de Antropologia e Arqueologia da
Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) em parceria com o Instituto
Centro de Vida (ICV), a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e o Instituto
Socioambiental (ISA) e tem o apoio da Charles Stewart – Mott Foundation e do
Fundo Socioambiental Casa. A WWF – Brasil lançou no mesmo ano, o estudo Uma
visão de conservação para a Bacia do Tapajós.
No Estado do Mato Grosso, movimentos
socioambientais também se mobilizam nesta agenda, entre eles, o Fórum Teles
Pires e a Rede Juruena Vivo, que levam o nome dos principais afluentes que
formam o rio Tapajós. E no contexto nacional, o Grupo de Trabalho de
Infraestrutura, composto por mais de 30 organizações não governamentais, se
dedica a esta pauta.
Fonte: ICV
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