Líder 2030 Talks – Sustentabilidade empresarial: e a lei com isso?
Por
Alice Marcondes, da Envolverde, especial para o Líder 2030 Talks –
Sozinhas ações empresariais
pelo desenvolvimento sustentável são importantes. Se alinhadas a
políticas públicas e traçadas de forma a potencializá-las, podem
ser transformadoras.
Vigora no Brasil desde 2010 a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A robustez e grandes
avanços do texto são reconhecidos por especialistas, com destaque
para a responsabilidade compartilhada, que inclui na equação da
logística reversa a responsabilização dos fabricantes pelos
resíduos que seus produtos deixam no planeta. Deveria ser o norte de
empresas ao desenvolver e lançar um produto no País. Deveria ser
sigla tão citada em um evento sobre sustentabilidade empresarial
quanto o usual ‘DNA’ da organização. Não foi. A PNRS não
ganhou nenhuma menção ao longo do evento de lançamento do Guia
sustentabilidade para RH – 10 Desafios, assinado por Ricardo
Voltolini, CEO da consultoria Ideia Sustentável.
A Política não foi citada nem ao
menos no relato de Marcia Bertolini, Head de Recursos Humanos da
Nespresso. Ela contou aos presentes sobre os esforços da empresa em
ampliar suas taxas de reciclagem das capsulas de alumínios, que hoje
beira os 25% em uma média mundial. Marcia falou sobre o treinamento
de novos colaboradores, que inclui um dia na central de reciclagem de
capsulas que a organização mantém em Barueri, da capacitação dos
multiplicadores, que são funcionários nos pontos de venda que tem a
missão de sensibilizar os consumidores na devolução das capsulas
para reciclem nos pontos de coleta, da entrega e coleta de capsulas
realizadas com carros elétricos e bicicletas nas cidades de São
Paulo e Rio de Janeiro, e até do engajamento dos colaboradores em
campanhas internas para que reciclem suas próprias capsulas. Mas a
conexão com a legislação nacional estruturante do tema não veio.

Questionada sobre o assunto, Marcia
ressaltou que a mensagem da empresa é adaptada para cada público
interno e que “a empresa segue as legislações e se esforça para
aumentar seus números”.
Também não foram lembradas no
encontro outras legislações, como o Plano Nacional de Mudanças
Climáticas (PNMC), ou ainda os ODSs (Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável) estabelecidos pela ONU (Organização das Nações
Unidas) como uma agenda positiva válida até 2030, que os países
signatários, incluindo o Brasil, devem seguir. A omissão poderia se
justificar pelo recorte temático do encontro, que tinha o objetivo
de contar as experiências das empresas no envolvimento do
departamento de recursos humanos na disseminação da cultura da
sustentabilidade nas estruturas de cada organização. Porém, não
seria destes homens e mulheres que cuidam de gente dentro das
empresas o papel de conectá-los às regras que envolvem segundo
setor e poder público na mitigação de impactos ambientais e
criação de modelos de desenvolvimentos sustentável?
Ficaram nas entrelinhas. Foi
possível ver o PNMC no relato de Claudia Politanski, VP de Recursos
Humanos do Itaú Unibanco. Ela falou dos esforços do banco em
adaptar a relação com os colaboradores, olhando jornada, entendendo
pontos altos e baixos da convivência com a empresa, aplicando
códigos de vestimenta mais liberais, valorizando a diversidade e
reforçando o compromisso público do banco, por meio de programas
como o Bike Itaú, que coloca as bicicletas laranjas à disposição
da população em grandes centros urbanos como São Paulo, impactando
positivamente aspectos como a mobilidade e o clima das cidades.
Estava lá também na história da
Duratex, que para provocar em seus colaboradores a sensação de
pertencimento em relação às mudanças climáticas incorporou em
seus treinamentos de sustentabilidade, realizados nas suas mais de 20
unidades por todo o Brasil, um momento de fotos.
“São imagens que
remetem a escassez, mudanças climáticas e outros temas, mas que
estão mais próximas da realidade daquelas pessoas. As pessoas olham
a foto e falam sobre. Então a gente faz o link com os grandes temas
mundiais da sustentabilidade”, explica Luciana Alvarez, gerente de
sustentabilidade corporativa da Duratex.
Ela contou sobre um caso
interessante, ocorrido em 2015, em um treinamento na cidade de
Queimados (RJ). “Era uma foto de enchente e era a rua onde o
colaborador morava. Ele contou como foi o dia e nós falamos de
mudança climática. Isso gera pensamento sistêmico. Muda a atitude
da pessoa na sua casa, no seu bairro”.

E como não ver um punhado de ODSs e
na história da Ambev? Renato Biava, diretor de Gente e Gestão
Ambev, contou que o incentivo ao voluntariado já era uma prática
antiga da organização, mas que recentemente foi revista para
potencializar resultados. “Entendemos que o voluntariado causava
efeito positivo na sociedade mas que não era perene. Para mudar isso
lançamos o programa VOA, onde a gente compartilha nossas ferramentas
de gestão com ONGs. É uma consultoria de gestão que ajuda essas
organizações a ampliar resultado. Até o nosso CEO é voluntário e
dá aulas. São mais de mil colaboradores causando impacto positivo
exponencial em cadeia. Isso melhora engajamento do time, que fica com
mais orgulho da companhia”, avalia.
Sem muito esforço, era possível
relacionar cada uma dos relatos dos líderes que estiveram no palco
do evento às legislações e compromissos nacionais na pauta da
sustentabilidade. Talvez o link claro não venha por um senso comum
(e real) de que o conhecimento sobre o tema é ainda escasso e
elitizado e que, especialmente quando a mensagem vai para públicos
diversos, é preciso adaptá-la.
O Guia sustentabilidade para RH –
10 Desafios pode ajudar estas organizações a transporem seus muros
na construção destas mensagens, expandindo o olhar de seus
colaboradores para a sustentabilidade, conectando-os de forma mais
efetiva ao que já existe sobre o tema, permeando vida pessoal e
profissional e cruzando portas de uma empresa a outra. Isso inclui um
olhar para políticas públicas e falar abertamente sobre elas. O
conteúdo da publicação é uma ótima base para este avanço.
Fonte: ENVOLVERDE
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