França anuncia “guerra” contra agrotóxico da Monsanto.
O ministro da Transição
Ecológica, Nicolas Hulot, lidera os protestos contra o glifosato.
O presidente Macron promete erradicar o produto até 2021.
A
condenação da Monsanto
a pagar uma multa milionária a um americano que desenvolveu um
câncer devido ao glifosato reacendeu o debate na França contra
esse agrotóxico. O ministro da Transição Ecológica, Nicolas
Hulot, evocou “o começo de uma guerra” contra a substância,
que poderá ser utilizada até 2021 nas plantações francesas,
segundo anúncio pelo atual governo.
A decisão do júri de São
Francisco, que condenou a Monsanto a pagar quase 290 milhões de
dólares ao jardineiro californiano Dewayne Johnson – que
desenvolveu um câncer devido ao contato com o pesticida Roundup –
entusiasmou os ecologistas europeus. Em novembro do ano passado, a
União Europeia renovou por mais cinco anos a prolongação da
licença do herbicida no bloco, provocando a ira dos ambientalistas.
Segundo a OMS, o glifosato
é um “provável cancerígeno”, de periculosidade 4, em uma
escala de 1 a 5.
Na França, o combate é liderado
pelo ministro da Transição Ecológica, Nicolas Hulot. A principal
batalha dele acontece dentro do próprio governo. O ecologista trava
um braço de ferro com o Ministério da Agricultura, mais
precisamente contra o ministro Stéphane Travert , contrário à
inserir a proibição do glifosato na lei francesa até 2021.
Por outro lado, o presidente Macron
se comprometeu, em maio, a banir a substância dentro desse prazo de
três anos, segundo ele, “logo que alternativas forem encontradas”.
Assim, na Assembleia francesa, um grupo de trabalho tem a complicada
tarefa de discutir soluções para o rápido fim da utilização do
glifosato na França.
“Tomamos uma primeira decisão na
França, mas ela é apenas o começo de uma guerra que vamos realizar
juntos para reduzir massivamente as moléculas mais perigosas”,
afirmou Nicolas Hulot no sábado 11 à BFMTV sobre o
compromisso firmado por Macron. Para ele, não são mais necessárias
demonstrações sobre o perigo do glifosato “porque, enquanto
esperamos, esses venenos farão efeito e a quantidade de vítimas
será excessiva”, advertiu.
Uma declaração considerada
exagerada por Franck Garnier, presidente da filial francesa do grupo
Bayer, proprietário da Monsanto. Em entrevista à rádio Europe 1
no domingo 12, ele ratificou o discurso da gigante alemã que “o
uso correto” do Roundup não representa risco à saúde.
“O termo ‘guerra’ é forte e
eu considero inapropriado. Eu falaria muito mais do trabalho que
devemos fazer em cooperação. Diria também que nós somos parte da
solução” declarou, em referência às “medidas alternativas”
à agricultura sem o glifosato, sobre as quais diz que a Bayer
trabalha “intensamente”.
A eurodeputada Karima Delli, do
partido Europa Ecologia Os Verdes, acredita que o ministro francês
da Transição Ecológica deve ser mais categórico sobre o fim do
uso do glifosato na França. “Sugiro que Nicolas Hulot diga
concretamente: ‘agora é preciso probir’. Isso quer dizer que
necessitamos definir uma data e um plano de ajuda que convença os
agricultores que há alternativas para substituir o glifosato. Mas
para isso é preciso que o ministro bata o martelo e que se aja
rapidamente contra essa substância”, declarou em entrevista à
rádio France Inter nesta segunda-feira 13.
Segundo ela, é preciso
conscientizar os trabalhadores rurais que há soluções não-químicas
para suas plantações. “O problema é que aprisionamos nossos
agricultores em um sistema que depende do glifosato há cerca de 30
anos, convencendo-os de que essa substância era eficaz, fácil e
barata, em detrimento de nossa saúde e nosso futuro. Por isso é
preciso ajudá-los a encontrarem novas técnicas e materiais para
alternativas menos químicas”, salienta.
Contra o glifosato na França
Dezenas de casos similares àquele
do jardineiro americano Dewayne Johnson existem na França.
Entre os
mais conhecidos estão o da família Grataloup, de Vienne, no
sudeste. O casal Sabine e Thomas acusa a Monsanto de ser a
responsável pelas malformações do filho Théo, de 11 anos, que
nasceu com graves problemas no esôfago e na laringe.
Sem saber que estava grávida,
Sabine matava as ervas daninhas do espaço de equitação da família
com o produto Glyper, da mesma gama do Roundup da Monsanto. Nove
meses depois, Théo nascia e ia direto para a mesa de operação para
que os médicos separassem seu sistema respiratório do digestivo.
Com apenas 11 anos, o garoto passou por 53 cirurgias, tem dificuldade
para se alimentar e falar.
Glifosato no Brasil
O glifosato é o agrotóxico mais
utilizado no Brasil, principalmente nas plantações de soja. No
início deste mês, a 7ª Vara da Justiça Federal do Distrito
Federal deu o prazo de 30 dias para a suspensão do registro de
produtos que utilizem três substâncias presentes em agroquímicos:
o glifosato, abamectina e tiram. Segundo a juíza Luciana Raquel
Tolentino de Moura, “está mais que suficientemente demonstrada a
toxidade desses produtos para a saúde humana”.
A Agência
Nacional de Vigilância Sanitária tem o prazo até o fim do ano
para realizar uma nova avaliação dessas substâncias. A
Advocacia-Geral da União tenta, no entanto, derrubar a decisão. O
próprio ministro da Agricultura, Blairo
Maggi, anunciou que o governo vai tentar revertê-la antes da
próxima colheita porque, segundo ele, “todo o sistema de plantio
direto é baseado no glifosato” e suspendê-lo seria “um
retrocesso ambiental gigantesco”.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário