Um
edifício chamado Sustentabilidade.
Por Dal Marcondes, da Envolverde –
Sede do Centro SEBRAE de Sustentabilidade, em
Cuiabá (MT), recebe de organização britânica a certificação de edifício em uso
mais sustentável da América Latina.
Pensado para ser uma referência de sustentabilidade
para profissionais do Sistema SEBRAE e para empreendedores de pequenos negócios
de todo o país, o Centro SEBRAE de Sustentabilidade, um pequeno edifício
construído em Cuiabá, tem rompido barreiras nunca imaginadas por seus
idealizadores. Na primeira semana de setembro, após dois anos de trabalho, o
que incluiu a instalação de uma moderna mini-usina solar, seu emblemático
edifício, que emula as condições de uma OCA da tribo Walapity, do Parque
Indígena do Xingu, conquistou um status inédito para prédios no Brasil, a
certificação BREEAM – Building Research Establishment’s Environmental
Assessment Method em seu mais alto grau.
Desenvolvida pela Building Research Establishment
(BRE), uma organização britânica multidisciplinar que estuda a ciência da
sustentabilidade em edificações, a Certificação BREEAM é feita a partir de uma
rigorosa análise de todo o processo construtivo, materiais utilizados, consumos
de materiais, água e energia, geração de resíduos e tudo o mais que possa
resultar em impactos negativos para o ambiente e as pessoas. No caso do prédio
de Cuiabá a análise foi especialmente rigorosa, porque foi feita em uma
edificação pronta, em uso, já visitada por mais de 43 mil pessoas em cursos,
atendimentos e exposições.
José
Guilherme Ribeiro, superintendente do SEBRAE – MT: sustentabilidade como
diferencial para pequenas empresas.
No início de sua história, oito anos atrás, os
idealizadores do CSS, sigla pela qual é conhecido o Centro SEBRAE de
Sustentabilidade, se impuseram o desafio de fazer uma construção que utilizasse
a natureza a seu favor, com a captação de água de chuva, refrigeração natural,
iluminação solar e outros quesitos de conforto e adequação à sua finalidade
principal, que é ensinar sustentabilidade pelo exemplo. “Queríamos mostrar que
o respeito ao meio ambiente e à vida deve ser a linha mestra de negócios de
sucesso, seja qual for o ramo de atividade”, explica José Guilherme Barbosa
Ribeiro, superintendente do SEBRAE Mato Grosso. Para ele sustentabilidade e
inovação são os esteios para negócios de sucesso. “O Brasil tem muitas
vantagens competitivas baseadas em recursos naturais e capacidade empreendedora,
para aproveitar essas oportunidades precisamos disseminar conhecimentos”,
explica o executivo, principal incentivador da iniciativa de se construir o
CSS.
Para tocar esse projeto a equipe do SEBRAE contou
com uma fiel defensora, a engenheira Suenia de Souza, que estava acabando de
atuar na construção do Centro de Eventos do Pantanal, outro ícone da
sustentabilidade na capital mato-grossense, também mantido pelo SEBRAE – MT. “O
sonho era construir sem destruir”, explica Suenia. As intervenções no terreno
foram mínimas e a maior parte da vegetação foi preservada, inclusive com grande
esforço para não espantar os animais que vivem no lugar.
Suenia de
Souza, gerente do Centro SEBRAE de Sustentabilidade.
O projeto arquitetônico foi encomendado a José
Afonso Botura Portocarrero, professor da Universidade Federal do Mato Grosso,
formado pela Universidade Católica de Santos (SP) e estudioso e autor de livros
sobre a arquitetura e processos construtivos dos índios. Segundo a engenheira
Suenia a primeira impressão sobre o projeto inovador apresentado por
Portocarrero foi de espanto. No entanto, os benefícios ambientais logo ficaram
explícitos. “No primeiro momento a intuição mostrava que estávamos no caminho
certo, hoje a conquista da certificação BREEAM comprova que valeu a pena
colocar todas as energias no inovador projeto do Portocarrero”, conta.
Para o arquiteto Portocarrero a demanda do SEBRAE
foi instigante. “Já estudava as formas das construções indígenas e aplicá-las
seria a realização de um sonho profissional”, explicou. A forma proposta foi
inspirada em uma OCA da tribo dos Yawalapiti uma das 16 etnias que vivem o
Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. “Trabalhamos para oferecer o máximo
de harmonia com o meio ambiente, ventilação natural e integração com o espaço,
mas receber essa certificação BREEAM foi uma grande surpresa”, disse. Para
todos os profissionais envolvidos a emoção pela comprovação do trabalho bem
realizado emocionou.
José
Afonso Botura Portocarrero: inspiração em arquitetura indígena.
Foram feitos dois pequenos eventos para a entrega
dos certificados pela equipe do Building Research Establishment’s Environmental
Assessment Method. Um em Brasília, no dia 6 de setembro, na sede do SEBRAE
Nacional, e outro no dia 8, no próprio edifício do Centro SEBRAE de
Sustentabilidade, em Cuiabá. “Para nós é um orgulho ver o trabalho de nossas
equipes atingir tamanho patamar de excelência”, disse o presidente do SEBRAE
Nacional, Guilherme Afif Domingos. Ele explicou que a partir do Centro SEBRAE
de Sustentabilidade se irradia para todo o Brasil o compromisso que a organização
tem com a inovação e com as boas práticas ambientais e empresariais. “Em cada
regional do SEBRAE há pessoas que realizam cursos e treinamentos coordenados
pela equipe do CSS, de forma a ampliar ao máximo o compromisso com a
sustentabilidade das pequenas empresas”, disse Afif Domingos.
Cerimônia
de entrega da certificação BREEAM, na sede do SEBRAE Nacional, com a presença
de Guilherme Afif Domingos.
Para o diretor internacional do BREEAM, Orivaldo
Barros, um cuiabano que adotou Londres para viver, o reconhecimento do edifício
do Centro SEBRAE de Sustentabilidade como o mais sustentável em uso da América
Latina foi um processo árduo, que durou quase dois anos e passou em revista
todos os processos, desde a elaboração do projeto até que se chegasse à
certificação final. “Há diversos itens a ser analisados, desde o projeto, os
materiais, as intervenções no terreno, a preocupação com fauna e flora, até as
questões relacionadas ao cotidiano, como água, energia, conforto interno,
iluminação etc”, explicou Barros.
O executivo conta que a maior parte dos
trabalhos desenvolvidos por sua equipe é de projetos novos ou em especificações
de retrofit, quando uma edificação passa por reformas e modernizações, o que
não foi o caso do CSS, que manteve todos as suas características originais ao
ser submetido à avaliação. “Neste caso o que precisamos foi levantar dados que
estavam perdidos no tempo, uma vez que desde o início da obra se passaram oito
anos”, explicou, mas ressaltou que o edifício é, inclusive para a equipe da
BRE, uma enorme surpresa.
“Saber que tem gente construindo com tamanha
qualidade e compromisso com a sustentabilidade no Mato Grosso é um motivo de
orgulho”, disse o mato-grossense, que depois de tantos anos na Inglaterra já
carrega um leve sotaque.
O BREEAM – Building Research Establishment’s
Environmental Assessment Method (cuja tradução é Método de Avaliação Ambiental
do Instituto de Pesquisa de Edifícios), foi criado em 1990 e hoje está presente
em 77 países e aplicado em mais de 500 mil edificações. É um dos sistemas mais
abrangentes para avaliar o desempenho ambiental de edificações. É um
instrumento para incentivar arquitetos, construtores, clientes e outros a
pensar soluções que tenham a sustentabilidade como objetivo, com foco principal
em minimizar impactos ambientais e ampliar os benefícios para a sociedade.
Vista
interna do Centro SEBRAE de Sustentabilidade
O Centro SEBRAE de Sustentabilidade
As obras para construção do Centro SEBRAE de
Sustentabilidade começaram em 2008 e, do projeto à construção, a edificação foi
pensada minimizando impactos ambientais e em integração com a natureza. Ocupa
uma área de 2.500m², o prédio possui 1.000m² de área construída, dividida em
dois pavimentos, na área inferior abriga um auditório. O projeto, assinado pelo
arquiteto José Afonso Botura Portocarrero, foi desenvolvido a partir de um
resgate das culturas indígenas brasileiras.
O projeto e a construção receberam em 2013, o selo
Procel Edifica, certificação concedida pelo Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica (Procel) e Instituto Nacional de Metrologia Normalização
Qualidade Industrial (Inmetro), que mapeia as condições de eficiência
energética e conforto térmico das edificações. Com nota 5,6 em um total máximo
de 6, a edificação foi enquadrada no nível A, o mais alto do Programa
Brasileiro de Etiquetagem (PBE).
Concentra uma série de tecnologias sustentáveis e
atua como laboratório empresarial e é aberto à visitação para empresas, poderes
públicos e universidades. O prédio foi construído para melhor aproveitar a luz
solar e com beirais que evitam a radiação direta. Com a forma das casas
indígenas, possui pé direito de 7,5 metros e sua cobertura projetadas em duas
cascas (exterior e interior), espaçadas por cerca de 30 cm permite que a água
da chuva permeie seu interior para resfriamento natural ao mesmo tempo em que a
casca exterior protege a interior. O ar quente é encapsulado e possibilita
temperatura interna mais baixa (até 10 graus em relação ao exterior) e
constante em todo o pavimento térreo.
Espaço Interativo
O prédio do CSS abriga também o Espaço Interativo,
um ambiente criado para promover experiências e conhecimentos práticos sobre
sustentabilidade, aplicado à vida e aos negócios. Por meio de jogos,
aplicativos, ambientes interativos e vídeos, o visitante percorre uma trilha de
informações, práticas sustentáveis, vantagens e oportunidades para incorporar a
temática no dia a dia das empresas, um ponto de referência estratégico para
pessoas, empresas ou instituições que desejam conhecer como inovar e ser mais
competitivo, respeitando o meio ambiente e contribuindo para o desenvolvimento
social.
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