Eliminar
para conservar – como espécies invasoras põem em risco a biodiversidade.
por Sílvia Ziller* –
Quem passeia pelas dunas da Lagoa da Conceição,
em Florianópolis (SC), pode se assustar ao ver o corte de árvores que acontece
no Parque Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição. O que acontece, na
verdade, é a retirada de pínus invasores que ameaçam espécies nativas e
endêmicas (que ocorrem apenas na região). Ao contrário do que se possa
imaginar, às vezes, para conservar o meio ambiente é preciso retirar plantas já
estabelecidas que desequilibram ambientes naturais e comprometem o
funcionamento dos ecossistemas.
Nativos da América do Norte, os pínus ou
pinheiros americanos, introduzidos no Brasil para fins de reflorestamento,
representam um problema ambiental para ambientes naturais porque eliminam,
gradativamente, as plantas nativas em função de sombreamento e utilizando a
água disponível no subsolo. Cada ecossistema possui suas características, seu
processo de evolução natural, adaptadas às diversas espécies que compõem
determinada região. Porém, a introdução de plantas ou animais que não fazem
parte dessa cadeia afeta consideravelmente todo ciclo de desenvolvimento entre
os seres vivos, assim como fazem os pínus na restinga da Lagoa da Conceição e
em outras unidades de conservação do sul e sudeste.
Para realizar o controle da espécie, grupos de
voluntários eliminam os pínus do parque desde 2010.
No momento há um esforço de
divulgação e solicitação de ajuda da população residente na região para que
também elimine os pínus de seus quintais, pois funcionam como fontes de
sementes para a invasão no parque. Até 2017, cerca de 270 mil pínus de todos os
tamanhos já foram eliminados.
Não faltam exemplos nos ambientes naturais
brasileiros de situações de invasão por espécies exóticas. Por motivos
econômicos, o caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) foi introduzido no
Brasil, causando impacto ambiental, econômico e à saúde humana. O javali,
introduzido ilegalmente para fins de caça e criação, invade a metade sul do
país e causa imensos prejuízos à agricultura, além de impactar espécies nativas
de porcos-do-mato. O mosquito-da-dengue Aedes aegypti (“odioso do Egito”, na
tradução do Latim) é outro exemplo muito conhecido. Causador das doenças
dengue, chikungunya e zika, acarreta grandes custos à saúde pública.
Para cada espécie naturalmente existente há
outras que interagem com ela ou dependem dela para que o ecossistema funcione
de forma harmônica. O conjunto de seres vivos em cada local se regula,
equilibrando o ambiente. Quando chega uma espécie exótica, o controle natural
pode não ocorrer, pois os inimigos naturais que fazem o controle da espécie não
vêm junto com ela. Quando a exótica se torna invasora, a consequência é a
propagação descontrolada e o desequilíbrio ambiental. Como as introduções de
espécies estão ligadas a interesses humanos, cabe também ao ser humano melhor
escolher espécies a introduzir e arcar com a responsabilidade de medidas de
prevenção e controle.
Há evidências contundentes de consequências
ecológicas negativas da invasão por espécies invasoras. Entre elas estão a
eliminação de espécies nativas por competição ou predação, alterações em ciclos
ecológicos como a produção de água e a frequência e intensidade de incêndios
naturais, mudanças químicas nos solos e mudanças em processos de polinização e
dispersão de sementes.
A disseminação global de um conjunto de espécies
de alta capacidade de adaptação e invasão tende a levar à homogeneização da
flora e da fauna em países com condições ambientais similares. Ou seja, ocorre
gradativa redução da diversidade natural de espécies e da relação entre os
diferentes seres vivos e os serviços ambientais provenientes dessas interações.
Sem a adoção contínua de medidas de prevenção e manejo para a conservação da
biodiversidade, invasões por espécies exóticas vão tomar cada vez mais espaço e
interferir na sustentabilidade dos processos naturais.
* Sílvia Ziller é fundadora e diretora
executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental e
membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Fonte: ENVOLVERDE
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