COP 23:
Diversificação para um futuro 100% renovável.
por Alice Marcondes, especial para a
Envolverde diretamente de Bonn, na Alemanha –
Especialistas apontam uma matriz energética
diversa, sustentada em eólica, solar e hídrica, como caminho na transição para
um modelo mais limpo.
Podemos chegar a 2030 com uma matriz energética
100% renovável. Esta é a opinião de 71% dos especialistas ouvidos em uma
pesquisa realizada pela organização REN 21. Os dados são parte do Renewables
Global Futures Report e foram assunto do debate do dia 10 na Conferência do
Clima da ONU (COP 23), em Bonn, na Alemanha, em uma conversa promovida pela
Itaipu Binacional.
A empresa reuniu diferentes atores do setor de
geração energética para discutir ações implementadas rumos aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS’s) 6 e 7. As metas tratam de água e energia e
são parte da lista de 17 objetivos ratificados em 2015 pela Organização das
Nações Unidas (ONU). Na lista de tarefas estão missões ambiciosas de eficiência
energética, cooperação internacional e universalização do acesso a ambos os
recursos.
O diretor executivo da Itaipu, Helio Amaral,
destacou que, ocupando o posto de maior hidrelétrica do mundo, é natural que a
organização coloque no cerne de seus negócios a manutenção de sua principal
matéria-prima: a água. O diretor explicou que a empresa desenvolve ações
customizadas no Cultivando Água Boa, um amplo programa de cuidados com as
microbacias da região. “Fazemos tudo com a participação da comunidade local e
promovendo o desenvolvimento regional. Consideramos a segurança da água como
parte dos nossos negócios”, disse.
As ações envolvem recuperação de nascentes,
capacitação de agricultores, reflorestamento e também a diversificação da
matriz energética. A empresa investe em geração de biogás a partir de dejetos
dos animais e em breve deve colocar em funcionamento placas de geração de
energia solar, porém, ainda em sistema piloto e sem objetivos de comercialização.
Para Cristine Lins, secretária-executiva da REN
21, o caminho é correto. “A energia hidroelétrica tem sido uma pilastra no
avanço das renováveis, mas é preciso desenvolver as demais energias para
chegarmos em uma matriz equilibrada e 100% renovável”, comentou. Ela destacou
que os investidores tem apostado mais em outras fontes, como a solar. “A China,
em 2016 ampliou em 34,5 GW capacidade instalada de geração de energia solar,
aumentando em 45% seu potencial”, ressaltou.
Este equilíbrio entre as fontes é também o
caminho para que investidores abracem de vez o setor. James Close, diretor de
mudanças climáticas do World Bank Group, explica que a diversificação pode
trazer mais segurança em um cenário de imprevisibilidade da disponibilidade de
água. “Os padrões erráticos das chuvas e as secas e enchentes mais frequentes
tem impactos severos quando falamos da falta de água. Para financiar projetos
precisamos garantir todos estes aspectos. Assim os investidores podem entender os
problemas e os riscos também”, comentou.
Richard Taylor, diretor executivo da
International Hydropower Association, corroborou com a abordagem. “Não existe
uma tecnologia única que seja a solução para a energia limpa. Precisamos de uma
sinfonia de renováveis para o futuro”, enfatizou.
Ele destacou ainda o exemplo da Costa Rica, que
tem em seu território a maior hidrelétrica da América Central e comercializa
seu excedente energético com outros seis países, por meio do Central American
Electricity Interconnection System (SIEPAC). “A eletricidade lá é
cotidianamente comercializada. Quando existe mais energia o mercado se
beneficia disso. Esse sistema fez o custo da energia descer e diminui a
necessidade do uso de fontes não renováveis”, explica.
Lembrando os ODS’s, Taylor destaca o valor de
parcerias deste tipo. “Não chegaremos a esses objetivos sem uma abordagem
sistêmica, sem parcerias. Se você tiver uma interconexão ou uma rede mais ampla
que combina várias fontes, você compartilha e compensa reservas Precisamos
acelerar e pensar em um futuro com as energias renováveis”.
Para Cristine Lins, este é o futuro que precisa
ser desenhado, mas para o processo é ainda lento.
“Temos progresso, mas até
agora não o suficiente para atingir as metas de Paris (estabelecidas na COP
21). Para chegar ao cenário de 100% de renováveis precisamos de políticas
adequadas e não se pode negligenciar o tempo. 2050 parece estar muito longe,
mas são só 33 anos e as decisões tomadas hoje é que vão influir neste
resultado”, enfatizou, concluindo ainda que “16% da população global vive sem
eletricidade. São 1.9 bilhão de pessoas. Isso é inaceitável no século 21. Somos
a primeira geração que tem nas mãos a tecnologia para mudar isso e precisamos fazê-lo”.
Fonte: ENVOLVERDE
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