terça-feira, 14 de novembro de 2017

COP 23: Diversificação para um futuro 100% renovável.
por Alice Marcondes, especial para a Envolverde diretamente de Bonn, na Alemanha –

Especialistas apontam uma matriz energética diversa, sustentada em eólica, solar e hídrica, como caminho na transição para um modelo mais limpo.

Podemos chegar a 2030 com uma matriz energética 100% renovável. Esta é a opinião de 71% dos especialistas ouvidos em uma pesquisa realizada pela organização REN 21. Os dados são parte do Renewables Global Futures Report e foram assunto do debate do dia 10 na Conferência do Clima da ONU (COP 23), em Bonn, na Alemanha, em uma conversa promovida pela Itaipu Binacional.
A empresa reuniu diferentes atores do setor de geração energética para discutir ações implementadas rumos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS’s) 6 e 7. As metas tratam de água e energia e são parte da lista de 17 objetivos ratificados em 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Na lista de tarefas estão missões ambiciosas de eficiência energética, cooperação internacional e universalização do acesso a ambos os recursos.

O diretor executivo da Itaipu, Helio Amaral, destacou que, ocupando o posto de maior hidrelétrica do mundo, é natural que a organização coloque no cerne de seus negócios a manutenção de sua principal matéria-prima: a água. O diretor explicou que a empresa desenvolve ações customizadas no Cultivando Água Boa, um amplo programa de cuidados com as microbacias da região. “Fazemos tudo com a participação da comunidade local e promovendo o desenvolvimento regional. Consideramos a segurança da água como parte dos nossos negócios”, disse.

As ações envolvem recuperação de nascentes, capacitação de agricultores, reflorestamento e também a diversificação da matriz energética. A empresa investe em geração de biogás a partir de dejetos dos animais e em breve deve colocar em funcionamento placas de geração de energia solar, porém, ainda em sistema piloto e sem objetivos de comercialização.

Para Cristine Lins, secretária-executiva da REN 21, o caminho é correto. “A energia hidroelétrica tem sido uma pilastra no avanço das renováveis, mas é preciso desenvolver as demais energias para chegarmos em uma matriz equilibrada e 100% renovável”, comentou. Ela destacou que os investidores tem apostado mais em outras fontes, como a solar. “A China, em 2016 ampliou em 34,5 GW capacidade instalada de geração de energia solar, aumentando em 45% seu potencial”, ressaltou.

Este equilíbrio entre as fontes é também o caminho para que investidores abracem de vez o setor. James Close, diretor de mudanças climáticas do World Bank Group, explica que a diversificação pode trazer mais segurança em um cenário de imprevisibilidade da disponibilidade de água. “Os padrões erráticos das chuvas e as secas e enchentes mais frequentes tem impactos severos quando falamos da falta de água. Para financiar projetos precisamos garantir todos estes aspectos. Assim os investidores podem entender os problemas e os riscos também”, comentou.

Richard Taylor, diretor executivo da International Hydropower Association, corroborou com a abordagem. “Não existe uma tecnologia única que seja a solução para a energia limpa. Precisamos de uma sinfonia de renováveis para o futuro”, enfatizou.

Ele destacou ainda o exemplo da Costa Rica, que tem em seu território a maior hidrelétrica da América Central e comercializa seu excedente energético com outros seis países, por meio do Central American Electricity Interconnection System (SIEPAC). “A eletricidade lá é cotidianamente comercializada. Quando existe mais energia o mercado se beneficia disso. Esse sistema fez o custo da energia descer e diminui a necessidade do uso de fontes não renováveis”, explica.

Lembrando os ODS’s, Taylor destaca o valor de parcerias deste tipo. “Não chegaremos a esses objetivos sem uma abordagem sistêmica, sem parcerias. Se você tiver uma interconexão ou uma rede mais ampla que combina várias fontes, você compartilha e compensa reservas Precisamos acelerar e pensar em um futuro com as energias renováveis”.

Para Cristine Lins, este é o futuro que precisa ser desenhado, mas para o processo é ainda lento. 

“Temos progresso, mas até agora não o suficiente para atingir as metas de Paris (estabelecidas na COP 21). Para chegar ao cenário de 100% de renováveis precisamos de políticas adequadas e não se pode negligenciar o tempo. 2050 parece estar muito longe, mas são só 33 anos e as decisões tomadas hoje é que vão influir neste resultado”, enfatizou, concluindo ainda que “16% da população global vive sem eletricidade. São 1.9 bilhão de pessoas. Isso é inaceitável no século 21. Somos a primeira geração que tem nas mãos a tecnologia para mudar isso e precisamos fazê-lo”.


Fonte: ENVOLVERDE

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