Apenas 30% dos municípios
brasileiros cumprem lei e realizam plano de saneamento básico.
Dez anos após promulgação do Marco Regulatório do Saneamento, dados mostram que quase metade dos brasileiros não tem acesso à coleta de esgoto.
Por Tácido Rodrigues
Dez anos após promulgação do Marco Regulatório do Saneamento, dados mostram que quase metade dos brasileiros não tem acesso à coleta de esgoto.
Por Tácido Rodrigues
No Brasil, o acesso aos serviços de saneamento
básico ainda é um enorme desafio a ser enfrentado. Dados de 2015 publicados no
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostram que cerca de 34
milhões de brasileiros não possuem acesso à água potável, mais de 100 milhões
de pessoas – quase metade da população – não tem acesso à coleta de esgoto. O
portal, ligado ao Ministério das Cidades, indica ainda que somente 42% destes
esgotos produzidos são tratados.
Em 2007, após a promulgação da Lei 11.445,
conhecida como Marco Regulatório do Saneamento, o setor ganhou diretrizes para
estimular o acesso a esses serviços básicos para toda a população. Uma das
obrigatoriedades mais importantes previstas na norma é a que determina que
todos os municípios brasileiros elaborem um Plano Municipal de Saneamento
Básico, o PMSB.
A elaboração desse plano é uma das condições para
que cidade e empresa operadora dos serviços públicos de água e esgotos consigam
recursos federais para projetos e obras de saneamento básico. A partir do dia
31 de dezembro deste ano, cidades que não cumprirem as determinações legais
ficarão impedidas de acessar verbas da União para ações no setor, conforme
prevê decreto assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2015 (8.629/15). O
prazo, no entanto, já foi protelado três vezes.
PANORAMA NACIONAL
Mesmo após dez anos de vigência do Marco
Regulatório do Saneamento (Lei 11.445), a situação no país ainda é preocupante.
É o que revela o “Panorama dos Planos Municipais de Saneamento Básico”,
documento elaborado em janeiro deste ano pela Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental. Segundo o levantamento, das 5.570 cidades brasileiras, apenas 1.693
(30%) realizaram seus Planos Municipais. Por outro lado, 38% dos municípios
declararam que estão com os planos em andamento.
O presidente executivo do Instituto Trata Brasil,
Édison Carlos, ressalta que os municípios deveriam dar mais atenção para o
saneamento. “A preocupação com o índice é ainda maior porque o Plano Municipal
é apenas a primeira etapa. Sabemos que há uma dificuldade imensa por parte dos
municípios de pequeno e médio portes, então os Estados e o Governo Federal
devem ajudar com orientação técnica e recursos”, disse o representante da
entidade que discute e realiza ações de saneamento básico e proteção dos
recursos hídricos no Brasil.
De acordo com o “Panorama dos Planos Municipais
de Saneamento Básico”, os únicos três estados onde mais de 50% dos municípios
fizeram seus PMSBs foram Santa Catarina (86%), São Paulo (64%) e Rio Grande do
Sul (54%). Em 15 estados, menos de 20% dos municípios fizeram os Planos, o que
mostra a distância para atingir a obrigatoriedade da Lei.
Em número de cidades, o Estado de São Paulo foi o
que mais avançou, com 411 cidades tendo planos entre os 645 municípios
paulistas. Os maiores gargalos estão nos estados do Norte, especialmente os
níveis do Amapá (0%), Pará (15%) e Rondônia (10%).
RETROCESSO
Um projeto de lei que está em discussão no
Congresso quer alterar a Política Nacional de Recursos Hídricos, um dos
instrumentos que orienta a gestão das águas no Brasil. O objetivo do PL 29/2011
é vincular o recebimento de recursos e financiamentos federais à existência de
planos estaduais de recursos hídricos concluídos.
Na visão do secretário executivo da Associação
Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), Ubiratan Pereira, a
proposta é inviável na prática. “É um retrocesso porque prejudica os estados
mais vulneráveis. Como eles vão criar e gerenciar Comitês de Bacia, que é um
dos pontos previstos no PL? O setor precisa é de investimentos”, opinou.
O PL 29/2011, anexado ao PL 7450/2014, prevê a
criação dos Comitês de Bacia para que haja repasses estaduais destinados a
empreendimentos e serviços de abastecimento de água potável e esgotamento
sanitário. A proposta também confere aos comitês a prerrogativa de se
manifestarem em processos de outorga pelo uso de água. Isso significa que
ficaria a cargo desses comitês o controle quantitativo e qualitativo do uso da
água no âmbito dos estados.
Nas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (CMADS) e de Minas e Energia (CME) da Câmara, foram apresentados
pareceres que rejeitam o texto principal (PL 29/2011) e aprovam o apensado (PL
7450/2014). Na CME, a deputada Dâmina Pereira (PSL/MG) apresentou voto em
separado pela rejeição da matéria.
A parlamentar é crítica à proposta por considerar
que as alterações na legislação dificultam ainda mais o planejamento dos
estados. “Se os estados e o DF não instituírem os comitês, não serão repassados
recursos federais para saneamento básico e abastecimento de água potável. Logo,
os estados mais pobres serão mais prejudicados”, argumentou Dâmina.
Em Minas Gerais, mais de 80% dos 853 municípios
possuem atendimento total de água (82,47%).
Em relação ao esgoto, 69,11% das
cidades mineiras têm atendimento total. O índice de esgoto tratado no estado é
superior a 30% (34,91%). Os dados são do Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS, 2015).
ESTÍMULO
Em maio deste ano, o Ministério das Cidades,
lançou o programa “Avançar Cidades – Saneamento”.
A estimativa é que cerca de
R$ 2,2 bilhões sejam liberados para projetos, obras, programas de redução de
perdas e elaboração de planos municipais através de financiamento do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os recursos têm
condições especiais para que estados, municípios e prestadores de serviços
possam contratar a elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico.
Outro estudo feito pelo Instituto Trata Brasil
indica que sete crianças morrem diariamente no Brasil em decorrência de
diarreias e ligadas à ausência de saneamento. Além disso, o levantamento estima
que 65% das internações de crianças com menos de 10 anos também têm como causa
o déficit de saneamento.
Na visão do presidente executivo do Instituto
Trata Brasil, quando o saneamento é aplicado corretamente, os benefícios vão
além da redução de doenças. “Ele, quando existe, melhora várias coisas. O
saneamento traz ganhos econômicos, inclusive. Em compensação, quando não
existe, piora muita coisa”, avaliou Édison Carlos.
Fonte: Agência do Rádio Mais
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