COP 23 –
Gado ainda é vilão de desmatamento e emissões no Brasil.
por Alice Marcondes, enviada especial da Envolverde
à COP23 –
Brasil peca no monitoramento da cadeia produtiva
bovina e enfrenta ainda muitos desafios para torná-la mais eficiente.
Raoni
Rajão
“Precisamos dar a transparência à toda a cadeia,
incluindo os intermediários, para de fato limpar a produção de carne brasileira
do desmatamento”. A declaração do coordenador do Laboratório de Gestão de
Serviços Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, Raoni Rajão,
aponta para a difícil missão que o país precisa cumprir se quiser atingir suas
metas de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para o Acordo de Paris,
firmado em 2015, na 21 ª Conferência do Clima da ONU (COP).
Dentre outros objetivos, o Brasil se comprometeu a
restaurar e reflorestas 12 milhões de hectares de vegetação, além de acabar com
o desmatamento ilegal. E, para Raoni, não é neste sentido que caminhamos. Ele
falou ao público no debate “Economia de Baixo Carbono na Prática: Cases e
Experiências Reais”, promovido pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e
Agricultura, durante a COP 23, que se encerra hoje (17), em Bonn, na Alemanha.
O coordenador lembrou que ainda agora, dois anos
depois de o acordo ter sido firmado, o país segue patinando na fiscalização da
cadeia produtiva do gado. “Essa produção é ainda responsável pelo desmatamento
de grandes áreas e por uma parcela significativa das emissões nacionais. E o
que acontece é que, na hora de monitorar, as empresas não analisam a cadeia
desde o início. Então o gado que teve origem em uma área de desmatamento passa
por uma ‘maquiagem’ no meio do percurso e é vendido e exportado como uma carne
limpa”, explica.
Para ele, é preciso investir na melhora desse
sistema, porque “ao subsidiar a pecuária sem esses controles você também está
subsidiando o desmatamento”.
Tasso
Azevedo
Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa
de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) lembrou
que as emissões brasileiras chegaram a 2,3 gigatoneladas de gases efeito estufa
em 2016, o que coloca o país no 7° lugar no ranking de maiores emissores. Ele
esclarece que este volume está intimamente relacionado com a produção bovina.
“Com a crise econômica a gente consome menos carne, sobra mais boi no pasto e
emite mais”, diz.
Como solução, ele aponta a melhora nos processos
produtivos e diz que incentivar o menor consumo de carne é, nos modelos atuais,
um tiro no pé. “ A índia não come carne e tem o maior rebanho do mundo, porque
exporta. O Brasil também exporta cada vez mais. Então o incentivo ao não
consumo é um processo que tem que ser muito bem pensado no longo prazo. Hoje é
mais importante que a pecuária continue tendo valor, para que o produtor possa
investir e sair de um pasto mal manejado para um bem manejado, onde ele produz
mais em menos hectares. Depois a gente pensa em diminuir produção”.
Marcelo
Vieira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)
Trazendo para o debate a questão da recuperação de
áreas degradadas, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo
Vieira, destacou o papel da agricultura nesta tarefa. “Todas as regiões onde
cresceu produção de grãos, de cana, cresceu em cima de pastagem degradada. Isso
porque o agricultor reinveste. Então acho que a grande implantação desta NDC
vai ser pelo agronegócio, por meio da restaurações de apps (Áreas de Proteção
Ambiental) em propriedade privadas”, comenta.
Ainda assim, ele ressalta que o país tem desafios
importantes para encarar, como a regulamentação do Programa de Regularização
Ambiental (PRA). “Com o avanço do Cadastro Ambiental Rural (CAR) já temos
informações. Agora já podemos seguir para a próxima etapa com esses produtores
já cadastrados. O PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) pode ser o grande
driver para levar fazendeiros em áreas marginais a um negócio de restauração e
prestação de serviços ambientais ”, diz.
Marcelo Furtado, facilitador da Coalizão Brasil,
endossou a visão de seu xará e contou sobre o projeto VERENA (Valorização
Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas), conduzido pela instituição.
“Temos um grupo de trabalho de restauração e estamos mapeando iniciativas dos
membros da Coalizão. As informações irão para uma plataforma de pesquisa e
desenvolvimento. A ideia é ter um lugar onde os produtores terão ‘tudo o que
eles querem saber sobre restauração e tem medo de perguntar’”, brinca e conclui
desejando que “todo brasileiro vire um produtor e que, ao produzir, produza
restaurando”.
Fonte: ENVOLVERDE
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