quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Ação empresas contra o desmatamento é fator de proteção ao lucro.
Levantamento global do CDP aponta riscos aos quais grandes corporações e suas cadeias de valores estão expostas por não conduzir atividades em uma economia de baixo carbono.

Sim, nós temos informação. Vasta, clara, abrangente e que dá a exata medida de para aonde caminhamos como espécie humana. Já sabemos que 15% das emissões de gás do efeito estufa vêm de desmatamento, que o cerrado brasileiro está ameaçado pela agropecuária, que as queimadas em Portugal originadas pelas fabricantes de papel e celulose podem causar desequilíbrios no mundo todo. 

Mas até que ponto o setor produtivo está realmente comprometido em construir uma agenda prática que reverta gradual e sustentavelmente a atividade, permanecendo lucrativa mas que possibilite a vida humana em 2050? A resposta pode ser óbvia: o ponto de inflexão está no risco ao negócio e na perda da lucratividade. E já estamos nesta etapa.

O relatório “Do risco para a receita: a oportunidade de investimento para enfrentar o desmatamento corporativo”, divulgado nesta terça-feira (21) pela plataforma de divulgação ambiental global sem fins lucrativos, CDP, aponta crescimento do prejuízo das empresas listadas em bolsa que perderam US$ 941 bilhões em volume de negócios neste ano ante perda de US$ 906 bilhões no ano passado (alta de 3,8%). Os quase US$ 1 trilhão em volumes de negócios foram perdidos por empresas de capital aberto de 2016 para 2017 que tinham suas operações vinculadas às commodities que mais alimentam o desmatamento no mundo – pecuária, soja, madeira e óleo de palma.

Neste cenário, o Brasil ganha importância negativa, pois é o segundo maior produtor de pecuária e de soja no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Caso essas empresas e seus stakeholders ainda não estejam se movimentando para modificar o caminho que fazem e a forma que atuam, esses dados desenham um futuro próximo no qual a longevidade delas fica comprometida. Em resumo, o ponto da virada chegou no Brasil e no mundo todo.

Dados do relatório mostram que a região na qual as empresas têm o maior percentual de riscos diretos nos negócios ligados às commodities é a América Latina, com 67% das empresas com amplos riscos diretos na cadeia de operações. A região é seguida pelo grupo Europa, Oriente Médio e África (57%), Ásia/Pacífico (33%) e América do Norte (26%). De acordo com os dados do CDP, as empresas dependem das florestas e reconhecem que os impactos ambientais e sociais do desmatamento ameaçam reduzir lucros e aumentar os riscos. Ao afetar as avaliações da empresa e a capacidade delas de reembolsar a dívida, esses riscos são suportados pelos investidores, ao mesmo tempo que os afasta.

O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.

No relatório de hoje sobre desmatamento, 87% das empresas que responderam ao questionamento reconhecem pelo menos um risco – e 32% já experimentaram impactos – associados à produção ou ao consumo de commodities de risco florestal.

As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. 

Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.

Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono.


Fonte: ENVOLVERDE

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