quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Orientação vocacional: Você ainda não sabe o que estudar?


Ação empresas contra o desmatamento é fator de proteção ao lucro.
Levantamento global do CDP aponta riscos aos quais grandes corporações e suas cadeias de valores estão expostas por não conduzir atividades em uma economia de baixo carbono.

Sim, nós temos informação. Vasta, clara, abrangente e que dá a exata medida de para aonde caminhamos como espécie humana. Já sabemos que 15% das emissões de gás do efeito estufa vêm de desmatamento, que o cerrado brasileiro está ameaçado pela agropecuária, que as queimadas em Portugal originadas pelas fabricantes de papel e celulose podem causar desequilíbrios no mundo todo. 

Mas até que ponto o setor produtivo está realmente comprometido em construir uma agenda prática que reverta gradual e sustentavelmente a atividade, permanecendo lucrativa mas que possibilite a vida humana em 2050? A resposta pode ser óbvia: o ponto de inflexão está no risco ao negócio e na perda da lucratividade. E já estamos nesta etapa.

O relatório “Do risco para a receita: a oportunidade de investimento para enfrentar o desmatamento corporativo”, divulgado nesta terça-feira (21) pela plataforma de divulgação ambiental global sem fins lucrativos, CDP, aponta crescimento do prejuízo das empresas listadas em bolsa que perderam US$ 941 bilhões em volume de negócios neste ano ante perda de US$ 906 bilhões no ano passado (alta de 3,8%). Os quase US$ 1 trilhão em volumes de negócios foram perdidos por empresas de capital aberto de 2016 para 2017 que tinham suas operações vinculadas às commodities que mais alimentam o desmatamento no mundo – pecuária, soja, madeira e óleo de palma.

Neste cenário, o Brasil ganha importância negativa, pois é o segundo maior produtor de pecuária e de soja no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Caso essas empresas e seus stakeholders ainda não estejam se movimentando para modificar o caminho que fazem e a forma que atuam, esses dados desenham um futuro próximo no qual a longevidade delas fica comprometida. Em resumo, o ponto da virada chegou no Brasil e no mundo todo.

Dados do relatório mostram que a região na qual as empresas têm o maior percentual de riscos diretos nos negócios ligados às commodities é a América Latina, com 67% das empresas com amplos riscos diretos na cadeia de operações. A região é seguida pelo grupo Europa, Oriente Médio e África (57%), Ásia/Pacífico (33%) e América do Norte (26%). De acordo com os dados do CDP, as empresas dependem das florestas e reconhecem que os impactos ambientais e sociais do desmatamento ameaçam reduzir lucros e aumentar os riscos. Ao afetar as avaliações da empresa e a capacidade delas de reembolsar a dívida, esses riscos são suportados pelos investidores, ao mesmo tempo que os afasta.

O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.

No relatório de hoje sobre desmatamento, 87% das empresas que responderam ao questionamento reconhecem pelo menos um risco – e 32% já experimentaram impactos – associados à produção ou ao consumo de commodities de risco florestal.

As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. 

Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.

Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono.


Fonte: ENVOLVERDE
Dificuldades de leitura e escrita expõem a fragilidade dos processos de alfabetização.
Avaliação nacional aponta que mais da metade dos alunos na faixa dos oito anos não têm bom desempenho na leitura. Programa orienta professores e promove engajamento dos alunos para reverter esse cenário.

Um dos principais problemas da Educação Básica no país, a dificuldade de leitura e escrita é motivo constante de preocupação entre os educadores. Dados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) mostram que mais da metade dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental da rede pública têm níveis de leitura considerados insuficientes. Quando se trata da escrita, mais de um terço estão defasados. São estudantes que estão matriculados e frequentam a escola diariamente, mas não sabem ler e escrever como deveriam. Em alguns casos, sabem ler, mas não compreendem o que lêem; em outros, escrevem, mas cometem erros básicos de ortografia e gramática.

A avaliação nacional, realizada em 2016 com mais de 2 milhões de crianças, aponta que 55% dos alunos tiveram desempenho insuficiente em leitura e 34% em escrita. Especialistas afirmam que os problemas começam com processos inadequados de alfabetização. A supervisora editorial da Editora Positivo, Silvia Dumont, afirma que a alfabetização deve ser construída por meio de atividades que levem à reflexão sobre a língua, sobre seu uso, criando significados que façam sentido para a criança. 

“Escola e professores devem criar novos contextos para a aprendizagem da leitura e da escrita, situações que valorizem o sentido dessas práticas culturais, bem como os interesses, as linguagens e as culturas infantis”, explica Silvia. Segundo ela, é preciso construir um ambiente de letramento, de imersão e diálogo criativo com a cultura escrita, no qual ela seja alvo de interesse, pesquisa e muitas reflexões por parte das crianças.

Não existe solução mágica, a não ser envolver professores e alunos, fazendo com que os primeiros entendam que a alfabetização não deve ser um mero processo mecânico de decodificação da língua, mas que é preciso atrair as crianças, despertando a visão crítica e fazendo com que elas compreendam o que estão lendo e escrevendo. E, para ajudar a melhorar esse cenário e obter os resultados esperados, a Editora Positivo lança um programa de letramento e alfabetização voltado para alunos que ainda não estão alfabetizados ou que apresentam defasagem de alfabetização. O Letrix oferece às escolas assessoria pedagógica para envolver os professores nessa missão. As instituições que contratarem o programa terão acesso a orientações voltadas para os docentes por meio de 40 vídeo-aulas específicas sobre as unidades dos livros, webcursos, avaliações de entrada e de saída, além de suporte online e via telefone.

Um dos diferenciais do programa é estar alinhado às novas gerações de estudantes. Tanto a proposta pedagógica, quanto o projeto gráfico, conversam com o universo de jogos e elementos presentes no dia a dia dos alunos, nativos digitais, com algum acesso, mesmo que mínimo, às tecnologias digitais.O projeto gráfico do material, de vanguarda, aproxima o conteúdo dos alunos. “A Editora Positivo trouxe a gameficação para dentro das páginas dos livros, o que deve despertar o interesse por parte dos alunos e engaja-los no processo de aprendizagem da leitura”, destaca Damila Bonato, Gerente de Produtos. Com as orientações em vídeos, os professores poderão se preparar para as aulas e traçar novas estratégias.

Podendo ser adotado por escolas públicas e privadas, o programa está dividido em duas etapas. O Letrix 1 propõe um trabalho de letramento mais simples: os gêneros trabalhados apresentam menor complexidade, as propostas de leitura e compreensão dos textos também são menos desafiadoras. O foco é maior na alfabetização, na compreensão do sistema alfabético de escrita. Já o Letrix 2 mantém as atividades de reflexão sobre a escrita e sistematização desse sistema. Além disso, propõe um trabalho mais intenso de letramento, com textos de gêneros mais complexos e propostas de leitura e compreensão progressivamente mais desafiadores. “Dessa forma, sendo desafiado, o aluno com dificuldade acaba encontrando motivação para avançar e alcançar melhores desempenhos”, garante Silvia.


Fonte: ENVOLVERDE
Jovens representam mais de 35% dos desempregados do mundo, alerta OIT.
A juventude representa mais de 35% da população desempregada em todo o mundo, segundo relatório lançado nesta segunda-feira (20) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Apesar de o número estimado de 70,9 milhões de jovens desempregados este ano representar uma melhora frente ao auge da crise em 2009, a OIT estima que esse volume deve aumentar em mais 200 mil em 2018, atingindo um total de 71,1 milhões.

Jovens na Somalilândia. Foto: IRIN / Adrian Leversby

Enquanto em 2016 a taxa global de desemprego juvenil ficou estável em 13%, a expectativa é que ela aumente levemente para 13,1% este ano, segundo o documento “Tendências Globais de Emprego para a Juventude 2017”.

Globalmente, os aumentos consideráveis nas taxas de desemprego juvenil observadas entre 2010 e 2016 no norte da África, nos Estados árabes e na América Latina e no Caribe foram compensados por melhorias nos mercados de trabalho juvenil na Europa, na América do Norte e na África subsaariana.

O crescimento econômico geral continua desconectado do crescimento do emprego e a instabilidade econômica ameaça reverter os avanços observados no emprego juvenil. A diferença nas taxas de desemprego entre jovens e adultos quase não mudou na última década, ilustrando as desvantagens enraizadas e extensivas que a juventude enfrenta no mercado de trabalho.

O relatório também destaca as vulnerabilidades contínuas das mulheres jovens no mercado de trabalho. Em 2017, a taxa global de participação delas na força de trabalho é 16,6 pontos percentuais menor que a dos homens jovens.

As taxas de desemprego das mulheres jovens também são significativamente maiores do que as dos homens jovens. Além disso, a diferença de gênero na taxa de jovens que não estão trabalhando nem estudando ou recebendo treinamento é ainda maior: globalmente, essa taxa é de 34,4% das mulheres jovens, comparado a 9,8% dos homens jovens.

Em 2017, 39% dos 160,8 milhões de jovens trabalhadores no mundo emergente e em desenvolvimento vivem em pobreza moderada ou extrema, ou seja, com menos de 3,10 dólares por dia.

Atualmente, mais de dois em cada cinco jovens na força de trabalho estão desempregados ou estão trabalhando enquanto continuam na pobreza, uma realidade impressionante que afeta sociedades do mundo todo.

Para muitos deles, presente e futuro estão na economia informal. Três em cada quatro jovens mulheres e homens empregados estão no emprego informal, em comparação com três em cada cinco adultos. Nos países em desenvolvimento, essa proporção chega a 19 em cada 20 jovens mulheres e homens.

O desafio do emprego juvenil não é, portanto, apenas sobre a criação de emprego, mas também — e principalmente — sobre a qualidade do trabalho e empregos decentes para a juventude.

“Lidar com esses persistentes desafios sociais e do mercado de trabalho enfrentados por jovens mulheres e homens é crucial, não só para alcançar um crescimento sustentável e inclusivo, mas também para o futuro do trabalho e a coesão social”, disse a diretora-geral adjunta para políticas da OIT, Deborah Greenfield.

Outros resultados

O relatório também revela que os setores com algumas das maiores taxas de crescimento de emprego juvenil na última década incluem finanças, comércio e saúde.

Os jovens são relativamente mais fluentes em tecnologia do que os trabalhadores mais velhos e aproveitam isso cada vez mais para ganhar a vida, embora existam diferenças entre as regiões, dependendo da taxa de difusão e do acesso digital.

As habilidades demandadas também estão mudando. Houve um declínio na busca por capacidades de nível médio, enquanto a procura por trabalhadores altamente qualificados e menos qualificados está crescendo, contribuindo para uma maior polarização no mercado de trabalho.

A demanda por jovens altamente qualificados cresceu fortemente em países de renda alta, enquanto nos países em desenvolvimento e emergentes houve um aumento no trabalho de baixa habilidade.

O emprego de jovens trabalhadores semiqualificados diminuiu na maioria dos países, em todos os níveis de desenvolvimento. Essa tendência de polarização do trabalho pode ser acentuada pelas novas tecnologias e potencialmente exacerbar as desigualdades existentes.

Um número crescente de jovens à procura de emprego e de jovens empreendedores está recorrendo à Internet — ou seja, à economia sob demanda das plataformas digitais, conhecida como gig economy — onde encontram formas novas e diversas de emprego.

Um exemplo disso é o crowd-work realizado remotamente através de plataformas online, que pode oferecer flexibilidade e expandir as oportunidades de obtenção de renda. No entanto, existem riscos importantes, incluindo baixos rendimentos, nenhuma garantia de continuidade no emprego ou de renda e falta de acesso a benefícios relacionados ao trabalho.

Os jovens muitas vezes iniciam suas vidas profissionais em empregos temporários, sabendo que talvez nunca consigam conquistar “segurança no trabalho”.

Eles são mais propensos a fazerem a transição para empregos estáveis e satisfatórios nas economias desenvolvidas e emergentes do que nos países em desenvolvimento.

Mais investimentos em educação de qualidade e desenvolvimento de habilidades são críticos, pois quanto mais tempo uma pessoa jovem estuda, menor é o tempo de transição para o emprego, mostrou o relatório.

O documento também destaca a necessidade de políticas que levem em conta as rápidas mudanças nas características do mundo do trabalho, impulsionadas pela tecnologia, e que permitam que mulheres e homens jovens estejam à frente da curva.

“Investir em mecanismos de aprendizagem ao longo da vida, habilidades digitais e estratégias setoriais que expandam o trabalho decente e abordem as vulnerabilidades dos mais desfavorecidos deve ser a prioridade das políticas nacionais”, disse a diretora do Departamento de Políticas de Emprego da OIT, Azita Berar Awad.

O relatório fez ainda um chamado por parcerias estratégicas com múltiplos atores no âmbito da Iniciativa Global sobre Empregos Decentes para a Juventude e da plataforma da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, no sentido de aumentar a ação e o impacto sobre o emprego juvenil.

Acesse o relatório:

Fonte: ENVOLVERDE
Longevidade das empresas depende da transição à economia de baixo carbono.
por Juliana Lopes, diretora do CDP Latin America – 

Adaptação e tomada de decisões com foco de longo prazo vão garatir investimentos e mudança de patamar de empresas que já têm estratégia para se perpetuar.

O que você quer ser quando crescer? Essa pergunta feita inúmeras vezes para crianças de regiões diferentes no mundo todo deve ser adaptada aos empresários e executivos hoje, pois é urgente ter um plano cuja meta seja a longevidade. Pensar desta forma é uma espécie de garantia da existência de seu negócio dentro da nova economia e passa obrigatoriamente pelo comprometimento com a transição para a economia de baixo carbono – que pavimentará nossa existência futura à medida que dermos passos objetivos para mitigar os impactos das mudanças climáticas e do aquecimento global. 

É esse diferencial, olhar para o todo e não apenas para o resultado de curto prazo, a linha de corte de quem vai se perpetuar ou não.

Uma empresa dentro da nova economia, assim como a criança que sonha ser bombeira ou astronauta, pensa nos passos que precisa dar para chegar ao seu objetivo. Ela sonha. Ela sonha, cria uma visão de futuro e age. A empresa que hoje sonha traça um caminho que possibilite ter a capacidade de regenerar a degradação que vivemos, em como se adaptar. Pensa na sua resiliência que nada mais é que manter aquela criança viva, seus objetivos no radar sem se seduzir pelos lucros do curto prazo. A empresa não ignora os fatos e dados, mas atua de forma transparente em suas operações. Esse é o comportamento que os investidores estão analisando, procurando entender por exemplo a exposição de seus portfólios de ativos e investimentos a riscos climáticos.

A procura desses agentes financeiros que movimentam trilhões de dólares e euros em mercados diversos é por companhias com estratégias de negócios resilientes às mudanças climáticas porque esse é o fato que consideram que possibilitará a atividade futura de corporações, mercados. É como se pensassem que essas empresas precisarão se manter vivas para que recebam investimentos futuros. É um pouco óbvio, sabemos, mas tem muita instituição desatenta com uma questão tão elementar e vital. Mas as holografias são muitas no caminho, como o fato de o presidente da maior economia global realizar um grande desserviço ao mundo pensando apenas no curto prazo e ignorando o Acordo de Paris, para ficarmos apenas em um exemplo.

Impactos além da produção  

O momento agora é de ir além da eficiência durante a produção, sendo capazes de entender os impactos ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos e serviços. Trata-se de um nível de demanda diferente em termos de performance socioambiental. Para atingi-lo, as empresas devem refletir se as suas ações estão tendo escala no setor em que atuam e na economia como um todo. Essa é a única forma de serem verdadeiramente sustentáveis. Pensar em rede. Observar e interferir positivamente na cadeia de valores.

As empresas devem se preparar para conduzir suas estratégias por trajetórias de descarbonização, o que exigirá inovação disruptiva e mudanças nos modelos de negócios. Elas precisarão se perguntar qual a natureza da sua atividade e quais as reais necessidades sociais atendidas por seus produtos e serviços. E assim, encontrar um modelo para que operem e prosperem dentro de limites ambientais e sociais seguros.

Uma empresa da nova economia não busca apenas gerenciar seus impactos ambientais e sociais, mas também ter impactos positivos ao orientar suas estratégias para oferecer soluções para os principais desafios de nossos tempos. Mudanças climáticas, mobilidade, desmatamento e declínio de serviços ecossistêmicos, segurança alimentar são alguns deles. Endereçar esses desafios representa novas oportunidades de negócios.

Como um exercício pedagógico de indicação de caminhos possíveis para a transição para a nova economia, o CDP desenvolve uma série de ações voltadas ao mercado financeiro, que acreditamos ser o grande catalisador da mudança necessária. As empresas devem se preparar para um escrutínio cada vez maior dos diferentes stakeholders em relação ao impacto ambiental dos negócios ao longo de toda a cadeia, notadamente a pegada de carbono, uma vez que será necessária uma redução drástica das emissões globais. Para manter o aumento da temperatura em 2°C em relação aos níveis pré-industriais, limite considerado seguro, a comunidade científica adverte que até 2050 as emissões devem ser reduzidas entre 41% e 72% em relação aos níveis de 2010. Isso resulta em um orçamento de aproximadamente 1000 giga toneladas disponíveis para serem “gastos”. Mantendo o nível atual de emissões de 49 giga toneladas ao ano, esse orçamento será gasto em 20 anos.

É crescente o entendimento dos investidores de que as mudanças climáticas podem impactar a estabilidade financeira. À exemplo disso, o Financial Stability Board – FSB divulgou em junho deste ano um conjunto de recomendações da Task Force on Climate Financial-Related Disclosure para reporte de informações sobre os riscos de transição das mudanças climáticas nos informes financeira. Por riscos de transição entende-se que as mudanças políticas, legais, tecnológicas e de mercado devem ser extensivas para atender aos requisitos de mitigação e adaptação relacionados às mudanças climáticas. Dependendo da natureza, velocidade e foco dessas mudanças, os riscos de transição podem representar níveis variáveis de risco financeiro e de reputação para as organizações.

Transparência sobre riscos climáticos

A TCFD reforça que a transparência sobre riscos climáticos é crucial para uma boa governança e para a perenidade do negócio, agenda que o CDP vem trabalhando nos últimos 15 anos com as principais forças do mercado com o respaldo de uma rede de investidores e clientes internacionais. A gestão corporativa de riscos climática tem agora o potencial de se tornar uma norma para se fazer negócios, por se tratar de uma iniciativa liderada pela indústria financeira como é o caso do FSB.

O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias, como este sobre desmatamento.

As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo. Acreditando na possível e urgente mudança de cenário, o CDP Latin America realiza no dia 30 de novembro, em São Paulo, o Conexão CDP, evento que vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.

Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região e que tipo de estratégias elas utilizam ou estão desenhando para embarcar no único futuro possível, o da economia de baixo carbono. Contamos com o apoio de todos os setores da sociedade!

Serviço: Conexão CDP 2017

Data: 30 de novembro
Local: Teatro Vivo – Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 – Vila Cordeiro, em São Paulo
Horário: 8h30 – 13h30 – atividade aberta ao público geral
13h30 – 15h – atividade exclusiva para as empresas inscritas na rodada de negócios
Inscrições:  https://goo.gl/seZsjb
#ConexaoCDP #EconomiaEmTransicao

Juliana Lopes é graduada em jornalismo, com um MBA em Marketing e Mestrado em Administração pela FEI na linha de pesquisa em sustentabilidade. Como diretora do CDP Latin America, é responsável pelas atividades da organização na região. Atuando há 12 anos na área de sustentabilidade, Juliana começou sua carreira no terceiro setor, onde liderou projetos de capacitação para empoderar a sociedade civil para uma gestão mais participativa e eficiente da água. Foi editora da revista Ideia Sustentável, a primeira revista brasileira especializada em Responsabilidade Social Corporativa, onde também coordenou projetos de estudos e pesquisas, bem como de consultoria estratégica em sustentabilidade. Trabalhou em empresas multinacionais como BASF e Bridgestone-Firestone na área de comunicação corporativa. Também se dedicou a elaboração e implementação de campanhas de comunicação da sustentabilidade para clientes corporativos e organizações internacionais como WWF. Integra o Grupo de pesquisa internacional sobre Licença social para operar.


Fonte: ENVOLVERDE
Evento Conexão CDP discute economia em transição na América Latina.
Evento que ocorre no dia 30 de novembro, em São Paulo, propõe a elaboração conjunta de projetos que inovem e encaminhem atividade para economia de baixo carbono.

São Paulo, novembro de 2017 – As decisões que estão sendo tomadas hoje determinarão se seremos capazes de fazer uma transição para uma economia próspera, que trabalhe para as pessoas e para o planeta a longo prazo? No dia 30 de novembro o Conexão CDP vai promover um diálogo com essa ótica entre investidores, empresas, cidades e governo, oferecendo protótipos de ideias e soluções para materializar a mudança que desejamos ver no mundo.

Além disso, neste ano será apresentado um infográfico inédito – que apresenta indicadores e dados de empresas e cidades na América Latina sobre como se preparam, monitoram e gerenciam seus recursos. Por meio dessa ferramenta será possível visualizar quais são as empresas que lideram em sustentabilidade na região.

O evento será dividido em duas partes. Durante a manhã, será apresentado o infográfico inédito do CDP, haverá uma rodada de diálogo e apresentação de experiências inovadoras de empresas e cidades. E também contará com uma apresentação no formato TED do Head Global de iniciativas com investidores do CDP, Rick Stathers. Na segunda parte, após o brunch, o evento será fechado para uma rodada de negócios entre empresas inscritas.

emissão de carbono para deslocamento do público e realização do evento será compensada. As inscrições podem ser feitas pelo link https://goo.gl/seZsjb.
O credenciamento de imprensa deve ser feito pelo e-mail maira.teixeira@cdp.net .

Serviço

Data: 30 de novembro
Local: Teatro Vivo – Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 – Vila Cordeiro, em São Paulo
Horário: 8h30 – 13h30 – atividade aberta ao público geral
13h30 – 15h – atividade exclusiva para as empresas inscritas na rodada de negócios
#ConexaoCDP #EconomiaEmTransicao

CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos, formada por grandes investidores interessados na avaliação do desempenho das empresas em função dos desafios ambientais de mudanças climáticas, recursos hídricos e florestas. Atualmente é formada por 827 investidores que administram um total de US$ 100 trilhões em ativos. A organização tem ainda em sua base de respondentes mais de 570 cidades no mundo todo reportando seus dados em 2017. A partir desses dados, são produzidos materiais que reportam regularmente a evolução no uso de recursos hídricos e ambientais pelas empresas e cidades signatárias.


Fonte: ENVOLVERDE

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Operação de combate de irregularidades na aplicação de agrotóxicos contabiliza multas de R$ 2,9 milhões e 23 aeronaves interditadas.
Dados são preliminares, tendo em vista que o trabalho de fiscalização, iniciado no dia 20, prossegue

Deflagrada na última segunda-feira (20) e com ações previstas até a próxima sexta-feira (24), a Operação Deriva II, voltada ao combate de irregularidades na aplicação de agrotóxicos por empresas de aviação agrícola, já contabiliza R$ 2,9 milhões em multas e 23 aeronaves interditadas. A operação acontece simultaneamente nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná, sob coordenação dos Ministérios Públicos Federal, do Trabalho e Estaduais.

A fiscalização conjunta conta ainda com a participação da Polícia Militar Ambiental (PMA), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) e Instituto de Criminalística da Polícia Civil (PC), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do governo federal e Agências Estaduais de Defesa Sanitária Agropecuária de Mato Grosso (Indea) e Mato Grosso do Sul (Iagro).

Em Mato Grosso do Sul, nos dois primeiros dias de operação, 13 aeronaves foram interditadas pela Anac, sendo que uma delas acabou apreendida criminalmente pela Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Deco). Nove empresas foram fiscalizadas e oito autos de infração foram expedidos, totalizando R$ 1.865.672,00 em multas.

No estado de Mato Grosso, seis aeronaves utilizadas na aplicação de agrotóxicos foram interditadas. Quatro empresas foram fiscalizadas no município de Primavera do Leste, que tem a maior frota agrícola do país. As aeronaves interditadas apresentavam problemas como falta de documentação e irregularidades na manutenção dos aviões. Quatro empresas foram notificadas por não possuir Cadastro Técnico Federal.

Já no Paraná, foram expedidos dois autos de infração e seis notificações, com um valor de multa aproximado a R$ 1,1 milhão. Quatro aeronaves foram apreendidas e uma empresa foi embargada. 

Três empresas foram notificadas por colocarem os trabalhadores em exposição direta com agrotóxicos. A fiscalização verificou, também, que os trabalhadores não possuem capacitação sobre prevenção de acidentes com agrotóxicos. As empresas apresentaram documentação na qual consta a entrega dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) aos trabalhadores, porém, durante a fiscalização, não foi possível constatar o uso deles.

Os dados são preliminares, tendo em vista que o trabalho de fiscalização prossegue.

Fonte: Núcleo de Comunicação da Operação Deriva II / MPT em Mato Grosso do Sul


Fonte: EcoDebate
América Latina e Caribe despejam 30% de seu lixo em locais inadequados.
ONU
A geração diária de resíduos sólidos urbanos nos países da América Latina e do Caribe atingiu cerca de 540 mil toneladas, e a expectativa é de que, até 2050, o lixo gerado na região alcançará 671 mil toneladas por dia. É o que revelam dados apresentados pela ONU Meio Ambiente em evento realizado esta semana (21) pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), em São Paulo.

De acordo com a agência das Nações Unidas, mais de 145 mil toneladas de lixo, ou cerca de 30% do total, são destinadas a locais inadequados diariamente na região.
Foto: Flickr/João Guilherme de Carvalho (Creative Commons)

A geração diária de resíduos sólidos urbanos nos países da América Latina e do Caribe atingiu cerca de 540 mil toneladas, e a expectativa é de que, até 2050, o lixo gerado na região alcançará 671 mil toneladas por dia. É o que revelam dados apresentados pela ONU Meio Ambiente em evento realizado esta semana (21) pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), em São Paulo.

O levantamento, que faz parte do Atlas de Resíduos da América Latina, relatório da ONU Meio Ambiente que será lançado em breve, mostra que, em média, a cobertura da coleta na região da América Latina e Caribe supera 90%, mas pode variar de acordo com o país, e diminui sensivelmente nas periferias e áreas rurais.

De acordo com Jordi Pon, coordenador regional de resíduos e químicos da ONU Meio Ambiente e coordenador do estudo, “a região tem apresentado vários avanços na gestão de resíduos sólidos, porém, em relação à disposição final, ainda existe um déficit considerável, com mais de 145 mil toneladas de lixo, cerca de 30% do total, destinados para locais inadequados diariamente.

O tema da poluição, incluindo a causada pelos resíduos, faz parte de uma agenda mundial e é o principal tópico da Terceira Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, que acontecerá em Nairóbi, no Quênia, de 4 a 6 de dezembro. Como fórum decisório mundial de mais alto nível sobre questões ambientais, a assembleia reunirá governos, líderes empresariais, sociedade civil e outras partes interessadas em compartilhar ideias e se comprometer com ações contra a poluição.

Na ocasião, o novo relatório “Rumo a um planeta sem poluição“, do diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim, que traz um panorama atual de todos os continentes, permitirá examinar o que sabemos sobre a poluição e delinear elementos-chave de um quadro abrangente de ações para combatê-la.
Evento foi organizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), em São Paulo. Foto: ONU Meio Ambiente.

“Os dados apresentados pela ONU Meio Ambiente mostram que, mesmo com algumas melhorias alcançadas nos últimos anos, cerca de 170 milhões de pessoas ainda estão expostas às consequências desse problema em decorrência dos graves impactos causados ao meio ambiente (solo, ar e água) e à saúde da população”, disse Carlos Silva Filho, diretor-presidente da ABRELPE e membro do Comitê Diretivo do Atlas de Resíduos.

Na apresentação dos dados, Jordi Pon também destacou que o relatório faz uma análise sobre a composição dos resíduos sólidos urbanos. A fração orgânica, por exemplo, representa mais da metade de todo resíduo descartado nas cidades latino-americanas, índice que varia bastante de acordo com a renda do país. “Enquanto em países de baixa renda, 75% do lixo descartado é proveniente de matéria orgânica, em países com renda mais elevada esse índice é de 36%”, comentou Pon.

As informações apresentadas mostram ainda que é comum encontrar resíduos perigosos no lixo doméstico, como baterias, equipamentos elétricos e eletrônicos, remédios vencidos, entre outros. Já a fração restante é composta pelos chamados resíduos secos, como metais, papéis, papelão, plásticos, vidro e têxteis. De modo geral, as iniciativas de reciclagem atingem o índice de 20% em determinadas regiões da América Latina, em grande parte graças à contribuição do setor informal.

Pon também observa que praticamente todos os países da região contam com disposições e normas legais para serem cumpridas pelos geradores e manipuladores de resíduos, bem como penalidades por descumprimento, mas o quadro institucional é fraco. “Isso cria um vácuo de responsabilidades governamentais, com poucas ações de acompanhamento e monitoramento, resultando, entre outras coisas, em uma aplicação deficiente da lei tanto no setor público quanto no privado”, explicou o coordenador da ONU Meio Ambiente.

Outro tópico abordado pelo estudo diz respeito aos níveis de investimento público e privado em gestão de resíduos, apontando que os mesmos não são suficientes para financiar a infraestrutura necessária para mitigar as principais deficiências, como ampliação da cobertura de coleta, baixas taxas de reciclagem e disposição final inadequada.

“O estudo mostra que o financiamento é uma questão fundamental para a melhoria e sustentabilidade dos mecanismos de gestão de resíduos, especialmente na América Latina e no Caribe, onde os modelos financiados por recursos municipais prevalecem e, em muitos casos, os custos dos serviços não são recuperados em sua totalidade”, disse Carlos Silva Filho, concluindo que “ainda não há uma consciência clara do fato de que o custo econômico dos impactos negativos causados pela gestão inadequada dos resíduos (o custo da inação) é maior do que o custo de investimento em um sistema adequado”.

Os dados apresentados fazem parte de um projeto da ONU Meio Ambiente, originado a partir do lançamento do Altas Global de Gestão de Resíduos em 2016, e incluem relatórios sobre a situação dos resíduos sólidos na América Latina e Caribe, Ásia, Ásia Central, África, Regiões Montanhosas e Pequenas Ilhas-estado (SIDS).


Fonte: ONU Brasil
Crise hídrica no Ceará, por conta das secas constantes e do uso excessivo de água pelas termelétricas, mobiliza a população.
Com ‘estado em colapso’ por conta das secas constantes e do uso excessivo de água pelas termelétricas, comunidades se unem para cobrar atitudes do governo.

Coesus – Coalizão Não Fracking Brasil e 350.org Brasil.
População se reúne no distrito de Siupé, região metropolitana de Fortaleza, para discutir estratégias de mobilização contra a crise da água no estado (Foto: Ceará no Clima).

O Ceará tem vivenciado nos últimos anos a maior sequência de secas jamais vista no estado. Isso movimenta uma engrenagem viciosa que tem colocado a população em alerta geral. A falta de chuvas afeta não só o consumo de água potável, mas também a geração de energia. Com os reservatórios das hidrelétricas vazios, o governo é obrigado a acionar as usinas termelétricas movidas a combustíveis fósseis, que possuem um custo maior de operação, aumentando consequentemente o valor da conta de luz. As térmicas, por sua vez, precisam de muita água para resfriar as máquinas. Dado esse contexto, além de estarem pagando mais pela energia utilizada em suas casas no momento, os cearenses ainda estão vendo a pouca água que lhes resta ser totalmente consumida pelas térmicas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).

Pecém I e II são as duas maiores térmicas movidas a carvão do país e têm autorização do governo estadual para captar até 800 litros de água por segundo (ou 70 milhões de litros por dia) do Açude Castanhão, o maior reservatório público do país para usos múltiplos, responsável pelo abastecimento de toda a região metropolitana de Fortaleza, onde vive quase metade da população do estado. 

Segundo Alexandre Costa Araújo, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e um dos fundadores do Fórum Ceará no Clima, esse tanto de água daria para abastecer uma cidade de 600 mil habitantes.

Há cerca de uma semana, o Castanhão atingiu o seu volume morto, termo utilizado quando o nível da água fica abaixo da captação normal. Em caso de escassez de água, a lei estadual de recursos hídricos prevê a suspensão das outorgas às empresas operadoras das usinas, sem que haja indenização à mesmas. Apesar disso, elas seguem operando e consumindo toda a já escassa água da região. A população local tem se mobilizado e denunciado o descaso do governo estadual, acusando-o de piorar a situação das comunidades em benefício das empresas operadoras do complexo.

“A conjunção da seca recorde devido às mudanças climáticas com o consumo absurdo dessas empresas colocou o Ceará em situação de colapso hídrico. E ao invés de desligar as termelétricas para assegurar a prioridade do abastecimento humano, o governo vem secando uma após outra as fontes de água locais. Começou com o Açude Sítios Novos, construído especificamente para abastecer o completo, depois o Castanhão, e agora querem detonar o Lagamar do Cauípe, uma zona de beleza natural formidável. Não podemos chamar essa atitude de outra coisa senão criminosa”, defendeu Alexandre Costa.

Esgotamento dos reservatórios e resistência local

Lagamar do Cauípe é uma Área de Preservação Ambiental (APA) onde, segundo relatos, há presença de comunidades ribeirinhas e até indígenas, como do povo Anacé. Paulo Rubens, presidente da Associação Comunitária do Cauípe, afirma que já há um projeto sendo colocado em prática no local para retirada de 200 litros de água por segundo. “O governo tem se preocupado em satisfazer as grandes empresas que consomem muita água e não com quem precisa de água para viver. Enquanto elas gastam, nós não temos nem para beber. Nenhum desses empreendimentos foi feito pensando no desenvolvimento sustentável da região. Não houve audiências públicas ou debate com a população”, atestou.

O cacique Roberto Anacé confirmou que não houve qualquer tipo de consulta, o que fere direitos nacionais e internacionais, como os previstos na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Juntar um grupo que só representa um tipo de interesse não é consulta. Toda a população precisa ser alertada do que está se passando. Eles têm que mostrar o que está ocorrendo no interior do estado, onde já está praticamente tudo seco. Está havendo ameaças, brigas por conta da água. Isso é o que vai acontecer aqui no litoral também caso o governo permita que essa situação continue”, alertou a liderança.

Na última segunda-feira aconteceu em Siupé, município de São Gonçalo, região metropolitana de Fortaleza, uma grande mobilização da população local afetada pela crise hídrica. Pescadores, agricultores, líderes religiosos e comunitários, associações e educadores reuniram-se para discutir ações para defender o direito à água e a preservação dos mananciais da região. A comunidade decidiu se posicionar de forma contrária à perfuração de 35 poços profundos que serviriam para abastecimento das usinas de Pecém. Segundo o movimento Ceará no Clima, estiveram presentes cerca de 600 pessoas. Na próxima sexta-feira (24) será realizada uma audiência pública para discutir os impactos socioambientais do complexo Pecém e do projeto de abertura dos poços para extração de água.

Para o professor Alexandre Costa, a situação atingiu um quadro de calamidade completa, com desalojamento de pessoas, perdas na agricultura familiar, na pesca artesanal, no turismo comunitário e no comércio local, além de outros prejuízos ao meio ambiente e à população. “Nós do Ceará no Clima defendemos há muito tempo o desligamento das termelétricas. Ninguém defende localmente essa energia. O estado não pode entrar em colapso para manter um complexo energético altamente poluente, que emite 7 milhões de toneladas de CO2 por ano, 1/4 das emissões de todo o estado. Esse modelo de ‘desenvolvimento’ é pura terra arrasada. A ação direta é a forma legítima de resistência que ainda nos resta para garantir nosso direito básico à água”, finalizou.

Desde 2015, a 350.org e a COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida – se uniram ao movimento contra os combustíveis fósseis no Ceará, apoiando e realizando audiências, palestras e espaços de debate entre as comunidades locais e as autoridades municipais e estaduais, levando conhecimento e informação à população. “Nos solidarizamos com a luta dos cearenses, marcharemos junto com eles, como já fizemos outras vezes, e faremos o que estiver ao nosso alcance para barrar Pecém e outros projetos que afetam as pessoas e o clima do estado e de todo o planeta”, defendeu Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina.


Fonte: EcoDebate
COP 23 – Gado ainda é vilão de desmatamento e emissões no Brasil.
por Alice Marcondes, enviada especial da Envolverde à COP23 – 
Brasil peca no monitoramento da cadeia produtiva bovina e enfrenta ainda muitos desafios para torná-la mais eficiente.
Raoni Rajão

“Precisamos dar a transparência à toda a cadeia, incluindo os intermediários, para de fato limpar a produção de carne brasileira do desmatamento”. A declaração do coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, Raoni Rajão, aponta para a difícil missão que o país precisa cumprir se quiser atingir suas metas de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para o Acordo de Paris, firmado em 2015, na 21 ª Conferência do Clima da ONU (COP).

Dentre outros objetivos, o Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestas 12 milhões de hectares de vegetação, além de acabar com o desmatamento ilegal. E, para Raoni, não é neste sentido que caminhamos. Ele falou ao público no debate “Economia de Baixo Carbono na Prática: Cases e Experiências Reais”, promovido pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, durante a COP 23, que se encerra hoje (17), em Bonn, na Alemanha.

O coordenador lembrou que ainda agora, dois anos depois de o acordo ter sido firmado, o país segue patinando na fiscalização da cadeia produtiva do gado. “Essa produção é ainda responsável pelo desmatamento de grandes áreas e por uma parcela significativa das emissões nacionais. E o que acontece é que, na hora de monitorar, as empresas não analisam a cadeia desde o início. Então o gado que teve origem em uma área de desmatamento passa por uma ‘maquiagem’ no meio do percurso e é vendido e exportado como uma carne limpa”, explica.

Para ele, é preciso investir na melhora desse sistema, porque “ao subsidiar a pecuária sem esses controles você também está subsidiando o desmatamento”.
Tasso Azevedo

Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) lembrou que as emissões brasileiras chegaram a 2,3 gigatoneladas de gases efeito estufa em 2016, o que coloca o país no 7° lugar no ranking de maiores emissores. Ele esclarece que este volume está intimamente relacionado com a produção bovina. “Com a crise econômica a gente consome menos carne, sobra mais boi no pasto e emite mais”, diz.

Como solução, ele aponta a melhora nos processos produtivos e diz que incentivar o menor consumo de carne é, nos modelos atuais, um tiro no pé. “ A índia não come carne e tem o maior rebanho do mundo, porque exporta. O Brasil também exporta cada vez mais. Então o incentivo ao não consumo é um processo que tem que ser muito bem pensado no longo prazo. Hoje é mais importante que a pecuária continue tendo valor, para que o produtor possa investir e sair de um pasto mal manejado para um bem manejado, onde ele produz mais em menos hectares. Depois a gente pensa em diminuir produção”.
Marcelo Vieira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)

Trazendo para o debate a questão da recuperação de áreas degradadas, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, destacou o papel da agricultura nesta tarefa. “Todas as regiões onde cresceu produção de grãos, de cana, cresceu em cima de pastagem degradada. Isso porque o agricultor reinveste. Então acho que a grande implantação desta NDC vai ser pelo agronegócio, por meio da restaurações de apps (Áreas de Proteção Ambiental) em propriedade privadas”, comenta.

Ainda assim, ele ressalta que o país tem desafios importantes para encarar, como a regulamentação do Programa de Regularização Ambiental (PRA). “Com o avanço do Cadastro Ambiental Rural (CAR) já temos informações. Agora já podemos seguir para a próxima etapa com esses produtores já cadastrados. O PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) pode ser o grande driver para levar fazendeiros em áreas marginais a um negócio de restauração e prestação de serviços ambientais ”, diz.

Marcelo Furtado, facilitador da Coalizão Brasil, endossou a visão de seu xará e contou sobre o projeto VERENA (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas), conduzido pela instituição. “Temos um grupo de trabalho de restauração e estamos mapeando iniciativas dos membros da Coalizão. As informações irão para uma plataforma de pesquisa e desenvolvimento. A ideia é ter um lugar onde os produtores terão ‘tudo o que eles querem saber sobre restauração e tem medo de perguntar’”, brinca e conclui desejando que “todo brasileiro vire um produtor e que, ao produzir, produza restaurando”.


Fonte: ENVOLVERDE
Vida em risco: quase metade dos anfíbios estão fora das áreas de conservação.
*Rafael Magalhães e Reuber Brandão – 

Unidades de conservação, quando bem planejadas e geridas, são a forma mais eficiente de preservar a biodiversidade em seu ambiente natural. Entretanto, de uma maneira geral, a rede global de áreas protegidas é bastante ineficaz. Um exemplo disso é que 42% de todas as espécies de anfíbios estão pobremente representadas ou completamente fora das unidades de conservação, de acordo com estudo publicado em 2015 sobre a situação de conservação desses animais. Esta estatística é ainda mais grave se considerarmos que os anfíbios estão entre os vertebrados mais ameaçados de extinção do planeta.

Para piorar a situação, a maioria das espécies de anfíbios possui baixa capacidade de locomoção. Isso leva a um processo evolutivo chamado de diversificação críptica: quando populações isoladas se tornam diferentes geneticamente, mas são muito parecidas quanto a aparência externa.

Muitas vezes, nem mesmo os pesquisadores são capazes de perceber diferenças evolutivas importantes avaliando apenas as características externas dos animais. Como consequência, essas diferentes populações acabam não sendo contempladas em políticas de conservação, como nos estudos para a criação de unidades de conservação. Mas é importante ressaltar que a manutenção da diversidade genética é essencial para a preservar o potencial de adaptação das espécies frente às mudanças climáticas ou outras mudanças ambientais importantes. A importância desta manutenção funciona da seguinte forma: imagine que a espécie possui duas populações, uma com o conjunto de genes X e outra com o conjunto de genes Y. Se a população com o conjunto X se extinguir, a espécie continua existindo, através da população com genes Y. Entretanto, o conjunto de genes X poderia fornecer à espécie melhores capacidades de enfrentar as mudanças ambientais em curso. A perda deste conjunto de genes, através da extinção, torna a espécie ameaçada no futuro.

Pensando nisso, um grupo de pesquisadores sul-americanos investigou a eficiência das unidades de conservação na proteção de linhagens crípticas de uma espécie de perereca que só existe no Brasil. Esta eficiência foi investigada tanto no presente como em um cenário de mudanças climáticas futuras. A espécie em questão, Pithecopus ayeaye, possui uma inconsistência entre listas nacionais e globais (Lista Vermelha da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, ICMBio, IUCN) que pode ser resultado da forma como os grupos de avaliação interpretam os critérios de classificação das espécies ameaçadas de extinção. Enquanto o grupo de avaliação global adota uma postura precaucionaria na classificação das espécies, o grupo nacional opta por uma postura evidenciaria. Mas, apesar de ainda ser considerada globalmente ameaçada, a espécie não se encontra na lista de prioridades em políticas nacionais de conservação.

Essa perereca pode ser encontrada em campos rupestres, que estão distribuídos em menos de 1% do território brasileiro. Apesar de serem ricos em espécies restritas, os campos rupestres têm sofrido impactos de atividades mineradoras, queimadas induzidas, silvicultura de eucalipto, pecuária, “ecoturismo” não-sustentável e urbanização. Uma das linhagens da Pithecopus ayeaye, que ocorre no planalto de Poços de Caldas (MG), está em declínio e não está protegida por nenhuma unidade de conservação, podendo se extinguir em um curto período de tempo. Outra, que ocorre no Quadrilátero Ferrífero e nos Campos das Vertentes (ambos em Minas Gerais), apesar de estar protegida por três unidades de conservação de proteção integral, possui níveis de diversidade genética tão baixos quanto a linhagem de Poços de Caldas, estando tão vulnerável a impactos humanos quanto ela. A terceira, do Planalto da Canastra (MG) e em áreas altas no noroeste do estado de São Paulo, possui maior diversidade genética do que a das outras duas linhagens e está protegida por duas unidades de conservação de proteção integral. Contudo, mesmo estas unidades de conservação são insuficientes para a proteção da espécie, conservando menos de 4% da área de distribuição geográfica da espécie, tanto no presente como em projeções futuras. Vale ressaltar que a espécie em questão produz substâncias na pele com potencial farmacológico, podendo ser utilizadas para a produção de medicamentos no futuro.

Esses resultados sugerem que outros organismos endêmicos dos campos rupestres, incluindo outras espécies ameaçadas, também podem apresentar diversificação críptica semelhante à de Pithecopus ayeaye. Portanto, pode-se concluir que a conservação de diversas espécies dos campos rupestres (e de outros tipos de ecossistemas naturalmente fragmentados) deve ser planejada com atenção, considerando a distribuição discreta deste ecossistema. A prática de conservação no Brasil deve ser repensada, e novas evidências taxonômicas, moleculares, evolutivas e ecológicas devem ser combinadas ao melhor entendimento da distribuição dos organismos para que possamos ser mais eficientes nas políticas de conservação nacionais.

Rafael Magalhães é biólogo e pesquisador do Laboratório de Biodiversidade e Evolução Molecular da Universidade Federal de Minas Gerais.

Reuber Brandão é membro da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, biólogo e professor da Universidade de Brasília.

Este estudo foi apoiado pela Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza em 2006 no contexto do projeto “Conservação, ecologia e taxonomia das espécies de Phyllomedusa do grupo hypochondrialis” e pelo Programa de Capacitação em Taxonomia do CNPq/CAPES.


Fonte: ENVOLVERDE