Sustentômetro: o status da gestão da Sustentabilidade no Brasil.
Ricardo Voltolini, para a Revista da Reputação –
Quanto
mais integrada ao planejamento estratégico menos suscetível a sustentabilidade
fica a circunstâncias externas adversas, como, por exemplo, crises econômicas.
Esta foi uma das principais conclusões do Sustentômetro, estudo realizado pela
minha consultoria, a Ideia Sustentável, cujo objetivo é apresentar um status
atual da gestão da sustentabilidade em empresas do Brasil.
Os números colhidos pelo estudo contrastam com uma
percepção, observada mais recentemente no mercado, de que, com a crise
econômica, o tema perdeu força e investimentos nos últimos dois anos.
Isso é
verdade, em termos. Entre maio e junho de 2017, o Sustentômetro ouviu 170
profissionais de uma amostragem de 634 empresas selecionadas a partir de um
critério básico: a existência de uma área, uma equipe ou, pelo menos, um
colaborador responsável pelo tema.
Ricardo
Voltolini
Para 77% dos entrevistados, a sustentabilidade
integra hoje o planejamento estratégico de suas empresas, indicando que o
conceito, ao contrário de cenários anteriores há cinco anos, deixou a
superfície dos projetos pontuais para impactar, de algum modo, as estratégias
de negócios. Nessas empresas, perdeu força em apenas 16% dos casos por causa da
crise econômica. Nas que não inseriram a sustentabilidade no planejamento
estratégico, verificou-se uma perda, mais significativa, em 48% dos casos.
O mesmo raciocínio costuma valer — segundo nossa
experiência — para circunstâncias adversas internas, como, por exemplo, a saída
repentina de um CEO de empresa muito identificado com o tema: quanto mais
inserido no planejamento estratégico menores são as possibilidades de
interrupção ou esfriamento de iniciativas de sustentabilidade por conta dos
humores, crenças e convicções de novos líderes que chegam á empresa.
Se não estiver nas metas, sustentabilidade não
entrou para valer na estratégia, o que significa, que segue sendo um tema
vulnerável.
Importante observar, no entanto, os diferentes
níveis de intensidade da inserção do tema no planejamento estratégico. O
Sustentômetro identificou gaps entre intenção e ação que não podem ser
desprezados. Embora o tema seja visto como relevante na agenda de 86% dos CEOS
(número que corrobora outros estudos internacionais), ele afeta em 73% a visão.
Confirmando a distância entre desejo e ação, a sustentabilidade, segundo os
entrevistados, influencia mais os valores (81%) do que, por exemplo, as metas
dos líderes (64%) e dos colaboradores (58%%), parecendo mais confortável no
plano genérico das aspirações e propósitos do que no específico das consecuções
e métricas.
A inclusão do conceito entre os valores –vale
ressaltar– é uma decisão simples que se resume à alterações em textos. Já nos
objetivos estratégicos e nas metas, exige decisões de negócio não exatamente triviais
que, quase sempre, tendem a ser vistas como desvios de foco, de energia e
atenção, especialmente em momentos de crise.
Ainda que os dados não deixem dúvida quanto á
importância atribuída á sustentabilidade como tema de gestão, são vários os
desafios se as empresas quiserem transformá-lo efetivamente em vetor para uma
nova cultura de pensar e fazer negócios. Esses desafios têm a ver, entre outras
variáveis, com desenvolvimento de pessoas, recompensa por resultados e
inovação.
Desenvolver pessoas, estimular idéias e valorizar
desempenho ajudam a criar uma “cultura de sustentabilidade”.
De acordo com o Sustentômetro, 69% das empresas
admitem tratar de sustentabilidade em seus programas de educação corporativa.
Raras são, no entanto, as que possuem iniciativas estruturadas para além das
demandas pontuais — a imensa maioria (96%) prefere, não por acaso, o on the
job, isto é, o aprendizado na prática do trabalho. Menos de 30% dispõem de
estratégias de reconhecimento de idéias (22%) e de práticas (29%) de
colaboradores. Menos da metade (44%) aborda o conceito nos programas de
integração de novos funcionários e apenas 22% alegam trabalhar o tema nos
programas de trainees.
O estudo revelou ainda que não mais do que 25% das
empresas respondentes condicionam a remuneração variável de líderes e
colaboradores a resultados ligados ao triple botton line – um indicador
bastante seguro do nível de maturidade da cultura de sustentabilidade de uma
empresa. Diante de tais dados, cabe aqui uma provocação: “Como implantar
sustentabilidade na estratégia do negócio, para valer, sem integrar o tema ao
processo mais amplo de desenvolvimento de pessoas, a mecanismos de estímulo e
avaliação de desempenho e a sistemas de recompensa por resultados?”
Migrar do campo
das boas intenções para o das realizações, substituindo o uso pontual do tema
na gestão por uma cultura de sustentabilidade, exigirá que a empresa emita aos
seus stakeholders sinais mais consistentes do quanto valoriza o tema.
Baixa inovação revela que sustentabilidade não é
vista como vantagem competitiva.
A inovação pode ser um desses sinais. Ainda não é.
O estudo constatou que 40% das empresas admitem ter a sustentabilidade como
driver de inovação—quatro entre 10, portanto, implementam novos processos,
produtos ou modelos de negócio capazes de criar valor para todos os públicos de
interesse, conjugando resultados econômicos, sociais e ambientais. Minha
experiência me leva a crer que esse número seja menor— as empresas, regra
geral, superestimam suas iniciativas incrementais de inovação. O fato é que a
ainda modesta pegada inovadora parece atestar uma postura reativa quanto á
sustentabilidade como vantagem competitiva e, por tabela, uma falta de visão de
oportunidade.
Diversidade e compliance em alta, e cada vez mais
estratégicos.
Partindo da definição que Idéia Sustentável usa
para sustentabilidade empresarial, o Sustentômetro testou a importância
relativa de dois temas de sustentabilidade (na verdade dois conceitos
estruturantes), recentemente mais valorizados nas empresas: ética e
diversidade. Diversidade e compliance em alta, e cada vez mais estratégicos O
resultado apenas confirmou a ascensão dos mesmos: 51% das empresas já têm uma
política de diversidade; 60% das que não possuem planejam criar uma nos
próximos dois anos. Cerca de 85% das empresas dispõem de ferramentas e de um
sistema de compliance para eliminar/reduzir riscos de desvios éticos. Embora,
isoladamente, nem um nem outro represente fator decisivo na construção de
empresas mais sustentáveis, ambientes mais diversos do ponto de vista de
gênero, idade, etnia e orientação sexual, e relações mais éticas e
transparentes com as partes interessadas contribuem diretamente para a
consolidação de uma cultura de sustentabilidade nas empresas.
* Ricardo
Voltolini é diretor-presidente de Idéia Sustentável: Estratégia e
Inteligência em Sustentabilidade, Professor na Fundação Dom Cabral e na
Fundação Instituto Administração e fundador da Plataforma Liderança
Sustentável.
Fonte: ENVOLVERDE
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