Apenas um
a cada 50 casos de intoxicação por agrotóxico é notificado.
por Juliana
Gonçalves, do Brasil de Fato –
“Agrotóxico mata”, o mote da Campanha Permanente
contra Agrotóxicos e Pela Vida, é mais do que uma frase de impacto. Há diversas
pesquisas nacionais e internacionais que abordam os malefícios para a saúde do
consumo de produtos cultivados com agrotóxicos.
Segundo dado da Organização Mundial da Saúde (OMS),
citado pelo pesquisador Leonardo Melgarejo, membro da Associação Brasileira de
Agroecologia e coordenador da Campanha, apenas um de cada 50 casos de
intoxicação por agrotóxico é notificado. Estima-se que cerca de 300 mil casos
permaneçam ocultos. O assunto foi debatido nesta sexta-feira (5), durante a 2ª
Feira Nacional da Reforma Agrária, na capital paulista, no seminário
“Agrotóxicos e Transgênicos: impactos sobre o alimentação, saúde e meio
ambiente”.
Os casos notificados geralmente são decorrentes da
intoxicação aguda, que rapidamente se agrava e pode levar ao óbito. A região
Nordeste, por exemplo, foi cenário de 41,8% das mortes desse tipo.
Porém,
Melgarejo alerta que esses casos não são maioria. “A maior parte dos problemas
com agrotóxicos são a longo prazo, vão aparecer em uma semana, um ano, dez anos
e esses números não estão sendo identificados ou monitorados”, afirma.
64% dos
alimentos produzidos no Brasil atualmente estão contaminados / Campanha
Permanente contra Agrotóxicos e Pela Vida.
Para a professora da Universidade Federal do
Cariri, médica e pesquisadora do projeto interdisciplinar Trabalho, Meio
Ambiente e Saúde (Tramas) Ada Cristina, os fetos e as crianças são os mais
vulneráveis às ações nocivas dos agrotóxicos.
Segundo ela, os embriões quando estão nos primeiros
trimestres de formação, passam por suscetíveis mudanças morfológicas que podem
alterar a forma do feto e trazer disfunções no metabolismo. “Os agrotóxicos são
substâncias que atuam no organismos das pessoas, simulam outros produtos
que existem no corpo humano só que provocam conseqüência desastrosas”, diz ao
citar o caso de uma criança que nasceu na comunidade sem os membros inferiores
e posteriores.
Segundo dados da ANVISA de 2012, cada brasileiro
consome cerca de cinco litros de agrotóxicos por ano.
Uma relação perigosa
A correlação entre commodities agrícolas
geneticamente modificadas e agrotóxicos já foi explorada por diversos estudos
de entidades internacionais e nacionais, a exemplo da Associação Brasileira de
Saúde Coletiva (Abrasco).
Notícia recente divulgada pela consultoria Céleres,
afirmou que o plantio de transgênicos de soja, milho e algodão avança para
93,4% do total do Brasil. Melgarejo afirma que a alteração genética das plantas
causa rebatimentos, conseqüências pouco estudadas. “Esses rebatimentos implicam
em alteração na própria qualidade da planta. Por exemplo, a soja hoje
temos menos proteína do que tinha há 30 anos quando era a soja não
transgênica”. Ou seja, há menos benefícios e mais veneno.
Retrocessos
Nivea Regina da Silva, da direção do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ressalta o contexto de retrocesso trazido
pelo governo golpista de Michel Temer no caso do agrotóxicos. “Há uma
flexibilização do ponto de vista do monitoramento, da legislação e uma abertura
para o maior impacto dos agrotóxicos na saúde humana como a questão do câncer
por exemplo”.
Pautar a reforma agrária nesse contexto diz
respeito também a prezar pela saúde do trabalhador do campo, também exposto à
ação dos produtos nocivos. Para Neiva, é preciso “repensar uma outra forma de
apropriação social ecológica e desta natureza e desta terra”
“A gente quer uma alimentação limpa não só de não
ter veneno, mas no sentido de alcançar uma justiça ambiental também”
Regulamentação
A CNTBio (Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança) é uma estrutura subordinada à Diretoria Técnica, nomeada pela
Presidência da República. É o órgão que decide sobre a liberação comercial do
transgênicos e dos agrotóxicos no país. No entanto, os movimentos populares
denunciam a falta de comprometimento com a pauta e a forte pressão que os
membros sofrem de setores do agronegócio.
Em 2016, a comissão fez 25
deliberações, ou seja, analisou um projeto a cada 2 minutos e meio. A maioria
dos pedidos das empresas foi aprovado.
Edição: Anelize Moreira
Fonte: ENVOLVERDE
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