Pesquisadores alertam que
desmantelamento da ciência brasileira põe em risco a conservação da
biodiversidade global.
Por Daniela Klebis – Jornal da Ciência /
SBPC
Em artigo publicado na edição de setembro da
revista científica Perspectives in Ecology and Conservation, do grupo Elsevier,
pesquisadores brasileiros apontam as graves consequências dos cortes no
Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), do MCTIC.
Um grupo de 54 pesquisadores brasileiros acaba de
publicar um artigo na revista científica Perspectives in Ecology and
Conservation, do grupo Elsevier, denunciando que os cortes drásticos no
orçamento da ciência brasileira impõem riscos para a conservação da
biodiversidade global. O artigo descreve o caso do Programa de Pesquisa em
Biodiversidade (PPBio), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), que conta com mais de 600 pesquisadores associados,
realizando pesquisas em mais de 90 localidades do País, conforme conta o
professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Wilson
Fernandes, um dos autores do artigo.
“Temos uma malha de locais onde continuamente
amostramos a dinâmica da biodiversidade e os serviços ecossistêmicos fornecidos
pelo nosso capital natural (habitats, ecossistemas e biodiversidade), que estão
sendo pulverizados pela falta de recursos. Agora, tudo pode se perder. Não
teremos como manter estes locais, conquistados com muita labuta e durante um
período de mais de 10 anos”, lamenta o professor.
O artigo destaca que os sucessivos cortes
orçamentários afetam de maneira radical programas de pesquisa sobre
biodiversidade, fundamentais para o monitoramento e para a proposição de
políticas de conservação ambiental e de desenvolvimento sustentável. De acordo
a publicação, assinada por 54 cientistas, o PPBio é a maior rede de pesquisa em
biodiversidade do Brasil e o seu desmantelamento comprometerá o Plano
Estratégico de Biodiversidade 2011–2020 e, mais que isso, coloca em risco
ecossistemas e o bem-estar humano. Os impactos perdurarão por muito tempo,
afirmam.
“É através deste conhecimento que iremos planejar
o uso racional e mais sustentável dos nossos recursos naturais. Sem ele,
podemos continuar a cometer erros absurdos contra o meio ambiente e contra
nosso próprio cidadão”, declarou Fernandes ao Jornal da Ciência.
O PPBio foi criado em 2004 com o objetivo de
desenhar uma estratégia de investimento em ciência, tecnologia e inovação que
aponte prioridades, integre competências em diversos campos do conhecimento e
dissemine informações sobre biodiversidade que possam ser utilizadas para
diferentes finalidades. “Os dados que relatam a importância e pioneirismo das
nove redes que se espalham pelo território brasileiro estão claramente
mostrados no artigo, mas ressalta-se ainda que o PPBio e esta equipe invejável,
que tem desenvolvido a ciência do Brasil e aprimorando know-how, estão
severamente ameaçados com a política obtusa dos nossos governantes”, diz o pesquisador.
O artigo destaca ainda que, apesar dos esforços
do Brasil internacionalmente reconhecidos para alcançar os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio da ONU, os recuos em questões ambientais, por
consequência das politicas do atual governo, impactam negativamente no
compromisso do País com os objetivos de desenvolvimento sustentável. “Acabar
com programas como o PPBio, na tentativa de resolver uma crise orçamentária, é
uma opção míope que reduzirá criticamente a capacidade do País para responder aos
desafios presentes e futuros, não apenas no setor ambiental, mas em todos os
aspectos da sociedade”, alertam os pesquisadores no artigo.
Leia o artigo na íntegra:
Fonte: Jornal da Ciência
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