A face
perversa da logística reversa?
uliana Zellauy, contribuição para a
Envolverde –
Assim como grande parte dos profissionais de
sustentabilidade, tenho acompanhado de perto as discussões e iniciativas para
atendimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10).
Para quem não está familiarizado, a PNRS, além de
outros itens, prevê a responsabilidade compartilhada para a destinação correta
dos resíduos sólidos urbanos, incluindo órgãos públicos, fabricantes,
consumidores, importadores, distribuidores, comerciantes, entre outros. Uma das
inovações da Política brasileira em relação à de outros países é a inclusão dos
catadores de materiais recicláveis nos sistemas de Coleta Seletiva e de
Logística Reversa.
Colocado este cenário inicial, gostaria de fazer
um alerta importante para os catadores de materiais recicláveis e cooperativas
que os representam.
Ao longo da minha carreira tive a grande
oportunidade de trabalhar com os catadores e admiro o trabalho que eles
desempenham. A inclusão dos mesmos na Política foi uma luta de anos e
felizmente, conseguiu uma vitória social significativa no sentido de incluir
estes importantes protagonistas na PNRS. Isto posto, tendo conhecido e mesmo
gerenciado diversas iniciativas que visam a implementação de sistemas de
logística reversa, posso dizer com propriedade que os catadores precisam se
profissionalizar agora. Este é o momento em que não dá mais para postergar.
Existem cooperativas espalhadas por todo o Brasil
que tem realizado um trabalho diferenciado, no entanto, grande parte delas
ainda sofre com problemas sérios de gestão, falta de documentação básica,
carência de procedimentos essenciais de saúde e segurança dos seus
trabalhadores, dependência extrema de órgãos públicos, falta de capacitação e
baixa produtividade.
Considerando que para atingir as metas
estabelecidas pelo governo será necessário o manejo de volumes extremamente
significativos de resíduos sólidos, se as cooperativas não se organizarem
agora, perderão uma oportunidade única de serem peças-chave neste processo.
Alternativas como as reverse machines e outras
máquinas que automatizam o processo, aumento no número de empresas
especializadas, e a tendência de valorização gradual dos resíduos sólidos,
significam a abertura de novos mercados e a inserção de novos atores
interessados em concorrer neste cenário.
Não, isso não significa que o sistema é “mal”,
mas, sendo direta, significa que quem estiver melhor preparado terá a preferência
neste mercado.
Não existem desculpas. As cooperativas podem e
tem plena capacidade de exercer este trabalho com a qualidade e a produtividade
necessárias. Certamente não é um caminho fácil, mas já vi muitas fazerem
acontecer, mesmo em condições extremamente desfavoráveis.
É claro que um sistema, para ser resiliente, não
deve contar com uma alternativa única, mas ser diverso e incluir possibilidades
diferentes para chegar a um objetivo comum. Assim, reverse machines, créditos
de resíduos, empresas especializadas, startups de empreendedorismo social e
cooperativas são peças importantes de um sistema complexo com características
que se complementam.
O ponto que abordo aqui é o fato das cooperativas
estarem correndo o sério risco de terem seu papel muito reduzido, caso não se
preparem para atender os requisitos mínimos de um mercado que está cada vez
mais exigente e profissionalizado.
Justamente por conhecer e admirar os catadores é
que deixo este alerta. Bora fazer acontecer, todos juntos!
*Juliana Zellauy Feres é executiva da
área de sustentabilidade, com passagens por diversas organizações e empresas.
Fonte: ENVOLVERDE
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