segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A face perversa da logística reversa?
uliana Zellauy, contribuição para a Envolverde – 

Assim como grande parte dos profissionais de sustentabilidade, tenho acompanhado de perto as discussões e iniciativas para atendimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10).

Para quem não está familiarizado, a PNRS, além de outros itens, prevê a responsabilidade compartilhada para a destinação correta dos resíduos sólidos urbanos, incluindo órgãos públicos, fabricantes, consumidores, importadores, distribuidores, comerciantes, entre outros. Uma das inovações da Política brasileira em relação à de outros países é a inclusão dos catadores de materiais recicláveis nos sistemas de Coleta Seletiva e de Logística Reversa.

Colocado este cenário inicial, gostaria de fazer um alerta importante para os catadores de materiais recicláveis e cooperativas que os representam.

Ao longo da minha carreira tive a grande oportunidade de trabalhar com os catadores e admiro o trabalho que eles desempenham. A inclusão dos mesmos na Política foi uma luta de anos e felizmente, conseguiu uma vitória social significativa no sentido de incluir estes importantes protagonistas na PNRS. Isto posto, tendo conhecido e mesmo gerenciado diversas iniciativas que visam a implementação de sistemas de logística reversa, posso dizer com propriedade que os catadores precisam se profissionalizar agora. Este é o momento em que não dá mais para postergar.

Existem cooperativas espalhadas por todo o Brasil que tem realizado um trabalho diferenciado, no entanto, grande parte delas ainda sofre com problemas sérios de gestão, falta de documentação básica, carência de procedimentos essenciais de saúde e segurança dos seus trabalhadores, dependência extrema de órgãos públicos, falta de capacitação e baixa produtividade.

Considerando que para atingir as metas estabelecidas pelo governo será necessário o manejo de volumes extremamente significativos de resíduos sólidos, se as cooperativas não se organizarem agora, perderão uma oportunidade única de serem peças-chave neste processo.

Alternativas como as reverse machines e outras máquinas que automatizam o processo, aumento no número de empresas especializadas, e a tendência de valorização gradual dos resíduos sólidos, significam a abertura de novos mercados e a inserção de novos atores interessados em concorrer neste cenário.

Não, isso não significa que o sistema é “mal”, mas, sendo direta, significa que quem estiver melhor preparado terá a preferência neste mercado.

Não existem desculpas. As cooperativas podem e tem plena capacidade de exercer este trabalho com a qualidade e a produtividade necessárias. Certamente não é um caminho fácil, mas já vi muitas fazerem acontecer, mesmo em condições extremamente desfavoráveis.

É claro que um sistema, para ser resiliente, não deve contar com uma alternativa única, mas ser diverso e incluir possibilidades diferentes para chegar a um objetivo comum. Assim, reverse machines, créditos de resíduos, empresas especializadas, startups de empreendedorismo social e cooperativas são peças importantes de um sistema complexo com características que se complementam.

O ponto que abordo aqui é o fato das cooperativas estarem correndo o sério risco de terem seu papel muito reduzido, caso não se preparem para atender os requisitos mínimos de um mercado que está cada vez mais exigente e profissionalizado.
Justamente por conhecer e admirar os catadores é que deixo este alerta. Bora fazer acontecer, todos juntos!

*Juliana Zellauy Feres é executiva da área de sustentabilidade, com passagens por diversas organizações e empresas.


Fonte: ENVOLVERDE

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