Sustentabilidade,
uma janela de oportunidade em tempos de crise!
Dal Marcondes*, da Envolverde –
A sustentabilidade e suas metas construídas ao
longo de décadas oferecem uma plataforma de conhecimentos que tem o potencial
de alimentar 10 bilhões de pessoas e oferecer todos os benefícios de uma
civilização tecnologicamente evoluída.
O início dos anos 2000 foram muito ricos em
iniciativas de sustentabilidade de empresas e organizações sociais no Brasil.
Muitos dos grandes pensadores da área, como Ignacy Sachs e Ray Anderson
passaram um bom tempo em reuniões e encontros com executivos e empresários que
sonharam com um país líder em Responsabilidade Social e em ações
socioeducativas capazes de criar, aqui, os paradigmas de uma nova economia.
Foi um tempo em que as empresas e organizações
colocaram como prioridade a adequação aos preceitos da Global Reporting
Iniciative (GRI) quando anualmente preparavam seus Relatórios de
Sustentabilidade. Organizações que propugnavam o respeito aos objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), aos Princípios do Equador tinham como sonho
integrar a carteira do Índice de Responsabilidade Social (ISE) da
BM&FBovespa.
Essas metas, diretrizes e sonhos sobrevivem em
algumas empresas e organizações, certamente não foram completamente sufocadas
por conta da crise institucional e econômica, mas refluíram grandemente em sua
capacidade de avançar em direção à utopia de uma sociedade estruturada em uma
economia sustentável, capaz de servir como paradigma para a economia global, o
que é o sonho de economistas como Sachs e Ladislau Dowbor.
Baixas nas estruturas corporativas
As estruturas de sustentabilidade dentro de grandes
empresas sofreram baixas e profissionais de primeira linha nos momentos de
avanço hoje ou padecem de trabalhos meramente burocráticos, ou simplesmente não
fazem mais parte das equipes. O cenário não é alentador se comparado a poucos
anos trás, quando o sonho de transformações reunia nos mesmos salões os
principais executivos nacionais de organizações como Greenpeace, WWF. Instituto
Socioambiental, Repórter Brasil e outros, e gigantes do mundo corporativo, como
Walmart Brasil, Unilever, Cargill e Maggi, entre outras organizações do mesmo
porte.
As grandes conferências de organizações como Ethos
e Cebds deixaram marcas na memória corporativa e dos profissionais que
investiram pesadamente em capacitação para fazer frente às demandas de
sustentabilidade que emergiam não apenas da sociedade, mas das próprias
empresas. O governo também avançou, mas a sensação é de que nunca liderou o
processo, veio, na maior parte das vezes a reboque.
Ao chegar à metade desta segunda década do século
21 a impressão que se tem é de que o esforço foi em vão. Ao final de 2015 a
Organização das Nações Unidas conseguiu o consenso necessário para lançar os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que substituíram os ODM –
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Com 17 objetivos e 169 metas que devem
ser alcançadas por todos os países até 2030. Sob o ponto de vista dos acordos e
regulações internacionais houve um grande avanço na última década e meia, com
as Conferências das Partes (COP) em diversas áreas, principalmente Clima, que
com os estudos realizados pelo IPPC conseguiram derrubar muitas das
argumentações apresentadas por céticos sobre o impacto das ações humanas em
relação às mudanças no clima global. O problema não está mais no campo das leis
e das regulações.
Retrocesso político e institucional
As maiores dificuldades são impostas agora pelos
campos político e econômico. O avanço de setores ultraliberais e xenófobos nas
principais economias do planeta está assegurando um retrocesso na implantação
de políticas de inclusão social mais consistentes. No campo das empresas o
retrocesso se dá pela busca ainda exacerbada da rentabilidade financeira em
detrimento dos ganhos estruturantes da sustentabilidade. Muitos dos executivos
mais comprometidos com os avanços socioambientais em paralelo aos ganhos
econômicos foram afastados de seus cargos e substituídos por pessoas focadas em
resultados, como se diz no meio corporativo.
Há ainda um esforço honesto de profissionais e
organizações em direção à manutenção dos desejos de sustentabilidade
demonstrados nos anos passados, no entanto é preciso um esforço adicional. Um
reforço da importância dos princípios e objetivos da sustentabilidade em um
planeta que caminha para 10 bilhões de habitantes ainda neste século.
Os diagnósticos estão feitos, sabe-se com grande
margem de certeza que o atual meio de exploração dos recursos naturais, a produção
linear e o descarte de resíduos no ambiente natural não podem continuar como
padrão. A alimentação industrializada e o nível de desperdício relacionado ao
consumo mostram uma sociedade ainda individualista e desligada dos problemas
naturais e humanos, lembrando que essa separação entre natural e humano é
artificial, uma vez que a humanidade é parte do ecossistema natural da Terra.
Plataforma para o futuro
A sustentabilidade e suas metas construídas ao
longo de décadas de estudos e conferências internacionais oferecem uma
plataforma de conhecimentos capazes de dar sustentação a uma economia que tem o
potencial de alimentar 10 bilhões de pessoas com qualidade e, ainda, oferecer
todos os benefícios de uma civilização tecnologicamente evoluída. Empresas,
governos e organizações sociais estão perfeitamente habilitados a estabelecer
suas metas e diretrizes em harmonia com o que há de mais avançado em
conhecimento, ciência e utopia sustentável.
Mas… o que falta? Basicamente pressão popular,
reforço institucional e decisão dentro de todos os nichos de poder,
institucionais ou empresariais.
Para garantir que isso pode ser feito há um
exército de profissionais qualificados à espera da oportunidade de fazer a
diferença. Pessoas que construíram o boom da sustentabilidade nos últimos 20
anos, que estudaram gestão ambiental nas dezenas de cursos que surgiram no
país, que atuaram e se capacitaram em centenas de atividades e que construíram
seu conhecimento e diálogos e debates estimulados por mídias ambientais, de
sustentabilidade e por jornalistas com atuação na mídia tradicional.
- Dal
Marcondes é jornalista com especialização em economia e meio ambiente e
passagens por grandes redações da imprensa paulista, como Gazeta Mercantil,
Agências France Presse, Dinheiro Vivo e Estado e revistas como Isto É e
Exame. Atualmente é mestrando da ESPM-SP com pesquisa em Modelos de
Negócios no Jornalismo Digital e Pós-Industrial.
Fonte: ENVOLVERDE