SP: Morar perto de ciclovias e
ciclofaixas aumentou em 154% a chance de usar a bicicleta como meio
de transporte.
Construção de ciclovias em São Paulo incentiva uso de bicicletas.
Construção de ciclovias em São Paulo incentiva uso de bicicletas.
Por Maria Fernanda Ziegler | Agência
FAPESP
Pesquisas feitas em diversas partes
do mundo mostram que existe uma forte relação entre a instalação
de ciclovias e o aumento de ciclistas em uma cidade. Em São Paulo,
isso não é diferente.
Um estudo mostrou que o fato de
haver ciclovia perto de casa – a 500 metros de distância – bem
como o acesso a estações de trem ou metrô – a até 1.500 metros
de distância de casa – foram incentivos importantes para o uso da
bicicleta como meio de transporte.
O trabalho, apoiado
pela FAPESP, foi feito por pesquisadores da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades (EACH-USP) do Departamento de Geografia da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo, em colaboração com colegas da Universidade de Melbourne, na
Austrália.
Resultados publicados na
revista International
Journal of Environment Research and Public Health mostram
que moradores de áreas próximas às ciclovias têm a chance
aumentada de usar a bicicleta como meio de transporte em 154%. Para
aqueles que moram perto de estações de trem ou metrô, o aumento
ficou em 107%, independentemente de fatores como sexo, idade, nível
educacional ou bairro.
“A grande discussão é saber
quanto a ciclovia pode contribuir para que as pessoas usem mais a
bicicleta. Na época que tivemos uma política de construção de
ciclovias em São Paulo, nos últimos três anos, muito se criticou
que ninguém as estava usando. Esse é um pensamento imediatista.
Nosso estudo reforça que primeiro é preciso garantir o espaço,
principalmente em uma cidade como São Paulo que tem um trânsito tão
violento e capaz de inibir o uso da bicicleta”, disse Alex
Florindo, professor da EACH-USP e primeiro autor do estudo.
De acordo com o artigo, a lógica de
que as ciclovias impulsionam o uso da bicicleta e não o contrário
ocorre também em países de renda alta. “Países considerados
referência em ciclismo, como Dinamarca e Holanda – onde mais de
25% das viagens são realizadas de bicicleta –, passaram primeiro
por um processo de garantia de espaço para os ciclistas, para depois
haver um aumento significativo do uso das bicicletas”, disse
Florindo à Agência FAPESP.
Mesmo com o impulso dado pelas
ciclovias, a prevalência do uso de bicicletas como meio de
transporte continua baixa em São Paulo. Apenas 5,1% da população
de adultos as utiliza para se locomover pela cidade. De acordo com o
estudo, esse contingente é formado principalmente por homens,
solteiros e que têm bicicletas próprias.
“A prevalência de 5,1% é um
índice muito baixo. O uso das bicicletas está atrelado a vários
benefícios tanto individuais como para toda a cidade. O uso da
bicicleta aumenta a prática de atividade física, previne obesidade
e doenças relacionadas ao sedentarismo como as cardiovasculares,
além de contribuir para melhorar o trânsito, diminuindo a
quantidade de automóveis, e reduzir a poluição”, disse Florindo.
Programas de incentivo
O estudo foi feito com base nos
dados do Inquérito de Saúde de São Paulo (ISA), em colaboração
com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, realizado em 2015
– período em que houve uma política de construção de ciclovias
e ciclofaixas pela cidade.
Para os pesquisadores, no entanto, a
baixa aderência ao uso de bicicleta como meio de transporte na
cidade de São Paulo mostra a necessidade de programas de incentivo,
como campanhas educacionais e sistemas de compartilhamento de
bicicletas.
“É preciso estimular as pessoas,
as famílias principalmente, a usar as bicicletas. Atualmente, ela
continua sendo vista como um risco grande em um trânsito violento e
muitas vezes hostil aos ciclistas. Por isso, ciclofaixas em fim de
semana são tão importantes para que as pessoas comecem a usar
bicicleta. É preciso também melhorar o sistema de compartilhamento
de bicicletas e os bicicletários nas estações de trem e de metrô”,
disse Florindo.
O artigo também faz uma comparação
da realidade da capital paulista com outras cidades brasileiras. A
média nacional de prevalência do uso de bicicleta como meio de
transporte foi de 13,3% da população adulta, variando de, por
exemplo, 8,8% em Vitória a 16,6% no Recife. Em países europeus
conhecidos pelo uso da bicicleta, como a Holanda, a média chega a
27% da população adulta.
A equipe de pesquisadores agora fará
um estudo longitudinal do assunto. “Vamos entrevistar as mesmas
pessoas do estudo de 2015, para verificar o que mudou em relação ao
ambiente construído e esse incremento de ciclovia. Sabemos que houve
uma descontinuidade dessa política de incentivo a ciclovias na
cidade. Vamos ver o quanto isso impactou no uso de bicicletas”,
disse Florindo.
No novo estudo, os pesquisadores vão
medir também outras variáveis do ambiente, como parques, praças e
fatores relacionados com a saúde – como prática de atividade
física, alimentação, peso corporal. “Assim, poderemos ter uma
resposta dos possíveis impactos do ambiente nestes desfechos de
saúde”, disse Florindo.
O artigo Cycling for
Transportation in Sao Paulo City: Associations with Bike Paths, Train
and Subway Stations(doi:10.3390/ijerph15040562), de Alex Antonio
Florindo, Ligia Vizeu Barrozo, Gavin Turrell, João Paulo dos Anjos
Souza Barbosa, William Cabral-Miranda, Chester Luiz Galvão Cesar e
Moisés Goldbaum, pode ser lido na Int. J. Environ. Res.
Public Health em www.mdpi.com/1660-4601/15/4/562.
Fonte: Agência
FAPESP
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