O que mudou na sustentabilidade das empresas.
por Dal Marcondes, diretor
executivo da Envolverde –
Companhias precisam se
redescobrir enquanto atores sociais. Não basta mais parecer
sustentável em belas páginas, é preciso ser no âmago de sua
missão.
Empresas e organizações que as
representam constroem políticas de sustentabilidade na maioria das
vezes pautadas por metas ambientais. Poucas vezes avançam em
desafios sociais e quando o fazem na maior parte das vezes são ações
com foco em filantropia. Grande parte das pautas ambientais colocadas
para as empresas no último quarto do século XX já foi plenamente
absorvida e incorporada pelas grandes empresas nacionais e globais.
Não se joga mais poluentes em rios, as chaminés têm filtros e a
gestão de resíduos está no topo das listas de prioridades. Mas, e
as verdadeiras pautas sociais? Como estão sendo tratadas?
O mundo mudou e as necessidades
sociais também. Fazer projetos com comunidades e oferecer benefícios
periféricos para grupos de colaboradores, pequenas coisas que vão
além da lei e de acordos coletivos, devem ser estimulados, mas não
fazem mais sentido enquanto “marketing social ou de causas”. As
empresas precisam se redescobrir enquanto atores sociais e compreende
que seu papel vai além da simples “remuneração dos acionistas”
e bom relacionamento com seus “stakeholders”. Fazer relatórios
de sustentabilidade já é uma linha de corte estabelecida pelo
próprio mercado, uma vez que a B3, uma das principais bolsas de
valores do mundo, já lançou uma campanha para que as empresas
listadas publiquem seus relatórios ou expliquem por que não o
fazem.
Nessa nova era de crises econômicas
e sociais as empresas devem mudar as perguntas que lançam para
dentro de suas estruturas. Não basta mais parecer sustentável em
belas páginas e filmes para TV, é preciso ser sustentável no âmago
de sua missão. E a pergunta que deve ser feita é o que as empresas
estão, de fato, fazendo para ajudar a manter a humanidade em
evolução? Qual é sua contribuição para o futuro. Como ela se
reconstrói a partir de novas forças que estão surgindo na
sociedade? Mas, principalmente, como ela estão incorporando os
milhões de jovens que chegam à idade do trabalho todos os anos?
Empresas existem para gerar riquezas
e oferecer trabalho. Nos últimos 20 anos as “modernas” técnicas
de gestão foram eliminando postos de trabalho e estabelecendo linhas
de corte de produtividade cada vez mais ferozes. Isso é parte do
grande problema de desemprego global para jovens. Cada CEO deveria se
perguntar como incorporar jovens em suas empresas, como oferecer
trabalho em todas as faixas de jovens e não apenas a aqueles que
possuem MBA e são capazes de conversar em duas ou mais línguas. São
esses os jovens que estão nas ruas e buscam alternativas de
sobrevivência através de “comportamentos antissociais” .
Quando a sociedade se dispõe a
debater questões como a maioridade penal é preciso discutir,
também, o que esta mesma sociedade está fazendo para ampliar a
oferta de trabalho para jovens de baixa renda, jovens mal preparados
pelas escolas públicas e que vem de famílias incapazes de oferecer
os padrões de consumo estimulados pela publicidade.
Portas tradicionais de acesso ao
trabalho foram fechadas, como os antigos “office boys”, que
construíam relações nas empresas em que trabalhavam e nas empresas
clientes, “networkings” que os ajudavam a escalar cargos nas
empresas e construir uma carreira. Agora se utiliza o trabalho de
“motoboys”, que correm de portaria em portaria, sem conhecer
ninguém além de porteiro, e que são execrados no trânsito como
“destruidores de espelhinhos”. Machucam-se ou morrem pelas ruas
das cidades em nome de uma suposta eficiência para as empresas, mas
em trabalhos que não oferecem nada, sequer uma renda decente.
As novas questões da
sustentabilidade das empresas estão mais ligadas ao que as empresas
podem fazer para melhorar a sociedade onde estão inseridas, não
apenas sob o ponto de vista ambiental, mas também em relação à
sua responsabilidade me oferecer caminhos para o desenvolvimento das
pessoas.
*Dal Marcondes
é especialista em sustentabilidade e comunicação, diretor
executivo da Envolverde.
Fonte: ENVOLVERDE
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