ONU Meio Ambiente alerta para a poluição por plásticos no Planeta.
por
Caroline Ligório, especial para a Envolverde –
Planeta ou Plástico? O
questionamento foi tema do evento promovido pela ONU Meio Ambiente em
parceria com a National Geographic e a Abstartups no Dia Mundial do
Meio Ambiente (5 de junho).
O uso exacerbado, a destinação
incorreta e as conseqüências do plástico no meio ambiente foram
desenhadas através de números alarmantes.
A edição de junho da National
Geographic causou impacto nas redes sociais ao trazer a ilustração
do artista Jorge Gamboa na capa, na qual uma sacola plástica no mar
representa um iceberg. A imagem vem acompanhada da informação de
que por ano 8 bilhões de toneladas de plástico terminam no mar.
Nos mares as variedades de plásticos
aumentam cada dia mais. Entre 60% a 90% do lixo recolhido é composto
por vários tipos de plásticos com tamanhos variados – grande como
redes de pesca perdidas, médio como sacolas plásticas e pequeno
como microfibras de roupas e cosméticos.
No ritmo de produção e descarte
que há hoje, até 2050 poderemos ter mais plásticos do que peixes
no mar. A ONU Meio Ambiente considera a poluição plástica o grande
desafio do século. De 2000 a 2015, a produção do material dobrou e
a indústria nos próximos 10 a 15 anos pretende dobrar a produção.
De todo o lixo gerado pela
humanidade, 10% é plástico. De todo o plástico gerado, apenas 9%
foi reciclado e 40% foram usados uma única vez e em seguida
descartados. De 8 a 13 milhões de toneladas de plástico chegam aos
mares todos os anos causando a morte de 100 mil animais marinhos
todos os anos, cerca de 700 espécies de animais, entre elas espécies
ameaçadas de extinção já foram afetadas pelo plástico nos mares.
Em 2016, 71 milhões de toneladas de
lixo foi produzida no Brasil, 7 milhões de toneladas não foram
coletadas. Do lixo coletado, 13% era lixo plástico, só apenas 15%
foi reciclado. A produção elevada e a baixa reciclagem fazem com
que lixões e aterros fiquem repletos de plástico.
Para que o destino final não sejam
as águas oceânicas, Fernanda Daltro, gerente de campanhas da ONU
Meio Ambiente, destaca a urgência de uma nova forma de pensar o uso
e consumo do plástico descartável. “Para acabar com a poluição
plástica precisamos repensar como desenhamos, produzimos e usamos os
produtos plásticos. Parte do problema é o comportamento do
consumidor em consumir desnecessariamente produtos plásticos
descartáveis e fazer descarte incorreto”.
Essa responsabilidade também recai
sobre o setor pesqueiro, que não recolhe materiais danificados,
sobre as empresas, que devem rever seus produtos. Ainda há a
fraqueza ou ausência de leis. O maior mercado de plástico é o de
embalagens e as sacolas plásticas um dos principais produtos
consumidos. Até 5 trilhões de sacolas plásticas são distribuídas
por ano no mundo.
No Brasil, eram distribuídas 17
bilhões de sacolas por ano. Segundo Paulo Pompílio, vice-presidente
da Associação Paulista de Supermercados, a única medida efetiva
encontrada ao longo de 16 anos foi explicitar o valor da sacola para
o consumidor. A medida levou à redução de 70% do consumo de
sacolas e um uso mais consciente, antes uma sacola era usada para
apenas um produto, após a cobrança passou a ser usada para quatro a
cinco produtos.
Com o intuito de remodelar e
repensar as embalagens a Startup Oka Bioembalagens desenvolveu
tecnologia para produção de embalagens para substituir descartáveis
principalmente de uso efêmero, como talheres, canudos e pratos, com
a fécula da mandioca e água. O processo industrial tem o vapor de
água como único resíduo gerado, que é coletado e reutilizado no
ciclo. A embalagem é 100% biodegradável e comestível.
Se por um lado há iniciativas de
substituição do material usado, a sociedade pode contribuir com o
descarte correto e a reciclagem. “Cuidar do seu resíduo e dar a
destinação certa deveria ser igual votar, um dever cívico. Antes
mesmo de reduzir, reciclar e reutilizar deve-se não gerar. Tem que
trazer para o nosso dia a dia. O quanto reciclamos em casa, na
empresa”. Para Fernando Beltrame, da consultoria ambiental
Eccaplan, essa medida levaria a maior eficiência.
No Brasil, mais de 40% do resíduo
gerado é destinado de forma irregular. Isso faz com que as
cooperativas trabalhem com muita ineficiência, cerca de 10% do que
recebem é rejeito e não pode ser reaproveitado. A cidade de São
Paulo recicla entre 2% a 3% dos resíduos. Segundo Beltrame, apesar
de haver tecnologia, o mercado mostra-se inviável. O quilo da
latinha é de R$3 a R$4, enquanto o do plástico é de apenas R$1.
De forma a sensibilizar a
comunidade, mobilizar empresas, governos e sociedade para tratar a
poluição plástica no mar, a campanha Mares Limpos da ONU Meio
Ambiente lançada em 2017 tem o objetivo de integrar diferentes
atores para combater a poluição plástica. Quarenta e dois países
se juntaram a campanha, o Brasil o fez em setembro de 2017 e
estabeleceu como meta reduzir o volume de lixo plástico que chega
aos oceanos a partir do território brasileiro. A campanha atende a
ODS 12, consumo e produção sustentável e a ODS 14, vida na água.
O relatório da ONU Meio Ambiente indica que 60 países implementaram
ações de redução de plástico descartável.
Vilfredo Schurmann, velejador e
defensor da campanha Mares Limpo, ao longo dos 32 anos de expedição,
surpreendeu-se com a quantidade de plástico encontrada. Em uma ilha
do Pacífico Norte, com pouca circulação de pessoas, recolheram
mais de 160 garrafas de plástico em 20 metros. No Carnaval, na Ilha
Grande recolheram 25 sacos de lixo de plástico. Há 5 anos, a
família promoveu uma campanha em uma escola de Santa Catarina, a
qual gerou 5 toneladas de plástico reciclável. Schurmann acredita
que a educação é o ponto chave para a mudança. “Depende muito
de nós. Falta iniciativa.”
Fonte: ENVOLVERDE
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