sexta-feira, 15 de junho de 2018


Estudo mostra novo perfil do migrante no Brasil.

O perfil dos imigrantes que estão inseridos no mercado de trabalho brasileiro está mudando, revela um estudo do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), divulgado durante o 3º Seminário da Rede de Observatórios do Trabalho, que começou na segunda (11) e terminou nesta terça-feira (12), na sede do Ministério do Trabalho, em Brasília. “A pesquisa mostra mudança no perfil dos imigrantes internacionais no mercado de trabalho brasileiro a partir de 2010. Houve uma nova composição de imigrantes, que agora vêm principalmente do chamado Sul Global, mas não de países de fronteira, como os bolivianos ou paraguaios, nem do Norte Global, como espanhóis, italianos e portugueses”, comenta o diretor do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), Leonardo Cavalcanti.

Hoje, os haitianos compõem o maior coletivo de imigrantes no mercado de trabalho brasileiro. Eles eram “algumas dezenas em 2010”, mas o número aumentou a partir daquele ano e, em 2013, já formavam o grupo mais numeroso, situação que se mantém até hoje, com cerca de 30 mil a 40 mil haitianos no mercado de trabalho formal brasileiro. Além deles, o estudo mostrou a presença de senegaleses e bengalis, assim como dos tradicionais portugueses, bolivianos e paraguaios.

Agronegócio – Segundo o OBMigra, o Brasil tem hoje em torno de 130 mil imigrantes no mercado de trabalho formal. Eles atuam sobretudo no final da cadeia produtiva do agronegócio, principalmente no Brasil meridional, abrangendo São Paulo e os três estados do Sul do País – Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. “Estão atuando em abate de frangos e de suínos, ou no corte de frango halal (produzido conforme os princípios do islã) para exportação. Foi essa indústria que absorveu esse novo fluxo dos imigrantes”, diz Cavalcanti.

Ele explica que esses estudos são essenciais porque permitem definir o perfil do trabalhador, revelando itens como sexo, país de origem, incorporação no mercado de trabalho, salário e possíveis inconsistências, o que ajuda a elaborar políticas públicas voltadas para esses trabalhadores. “Existem alguns profissionais com formação de engenheiro, de arquiteto, de médico, trabalhando em construção, em abate de aves e em outras situações de inconsistência de status”, salienta o diretor da organização. “Então, é fundamental ter esse conhecimento profundo do campo e da realidade para construir políticas públicas que permitam a inserção dos imigrantes no mercado de trabalho e na sociedade brasileira.”

Já a situação dos venezuelanos aponta para um perfil diferenciado, porque eles estão concentrados na porta de entrada, que é Boa Vista. Os que estão se interiorizando, indo para São Paulo e Cuiabá, estão trabalhando no setor de serviços e no atendimento ao público, como em bares e restaurantes. “Mas eles não se misturaram, nem substituíram os imigrantes haitianos. É outro perfil, outra realidade migratória”, enfatiza Cavalcanti.

A diferença principal é que os haitianos vieram depois de um terremoto no país de origem, enquanto os venezuelanos chegaram devido a questões políticas e econômicas. Muitos deles ainda resistem à interiorização e ficam em Boa Vista porque têm a expectativa de que a situação vai melhorar no país de origem e poderão voltar.

O mais importante, de acordo com o diretor do OBMigra, é que ambos os perfis têm um monitoramento estatístico, com dados sobre inserção no mercado de trabalho, admissão, demissão e estoque dos imigrantes, enquanto estão entrando e saindo do país. Esse levantamento é publicado pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg), ligado ao Ministério do Trabalho. Os dados permitem que o CNIg defina resoluções normativas para os imigrantes, aplicando políticas específicas e normatizando questões relevantes para o Brasil.

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