Estudo mostra novo perfil do migrante no Brasil.
O perfil
dos imigrantes que estão inseridos no mercado de trabalho brasileiro
está mudando, revela um estudo do Observatório das Migrações
Internacionais (OBMigra), divulgado durante o 3º Seminário da
Rede de Observatórios do Trabalho, que começou na segunda (11) e
terminou nesta terça-feira (12), na sede do Ministério do Trabalho,
em Brasília. “A pesquisa mostra mudança no perfil dos imigrantes
internacionais no mercado de trabalho brasileiro a partir de 2010.
Houve uma nova composição de imigrantes, que agora vêm
principalmente do chamado Sul Global, mas não de países de
fronteira, como os bolivianos ou paraguaios, nem do Norte Global,
como espanhóis, italianos e portugueses”, comenta o diretor do
Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), Leonardo
Cavalcanti.
Hoje, os
haitianos compõem o maior coletivo de imigrantes no mercado de
trabalho brasileiro. Eles eram “algumas dezenas em 2010”, mas o
número aumentou a partir daquele ano e, em 2013, já formavam o
grupo mais numeroso, situação que se mantém até hoje, com cerca
de 30 mil a 40 mil haitianos no mercado de trabalho formal
brasileiro. Além deles, o estudo mostrou a presença de senegaleses
e bengalis, assim como dos tradicionais portugueses, bolivianos e
paraguaios.
Agronegócio
– Segundo o
OBMigra, o Brasil tem hoje em torno de 130 mil imigrantes no mercado
de trabalho formal. Eles atuam sobretudo no final da cadeia produtiva
do agronegócio, principalmente no Brasil meridional, abrangendo São
Paulo e os três estados do Sul do País – Santa Catarina, Paraná
e Rio Grande do Sul. “Estão atuando em abate de frangos e de
suínos, ou no corte de frango halal (produzido conforme os
princípios do islã) para exportação. Foi essa indústria que
absorveu esse novo fluxo dos imigrantes”, diz Cavalcanti.
Ele
explica que esses estudos são essenciais porque permitem definir o
perfil do trabalhador, revelando itens como sexo, país de origem,
incorporação no mercado de trabalho, salário e possíveis
inconsistências, o que ajuda a elaborar políticas públicas
voltadas para esses trabalhadores. “Existem alguns profissionais
com formação de engenheiro, de arquiteto, de médico, trabalhando
em construção, em abate de aves e em outras situações de
inconsistência de status”, salienta o diretor da organização.
“Então, é fundamental ter esse conhecimento profundo do campo e
da realidade para construir políticas públicas que permitam a
inserção dos imigrantes no mercado de trabalho e na sociedade
brasileira.”
Já a
situação dos venezuelanos aponta para um perfil diferenciado,
porque eles estão concentrados na porta de entrada, que é Boa
Vista. Os que estão se interiorizando, indo para São Paulo e
Cuiabá, estão trabalhando no setor de serviços e no atendimento ao
público, como em bares e restaurantes. “Mas eles não se
misturaram, nem substituíram os imigrantes haitianos. É outro
perfil, outra realidade migratória”, enfatiza Cavalcanti.
A
diferença principal é que os haitianos vieram depois de um
terremoto no país de origem, enquanto os venezuelanos chegaram
devido a questões políticas e econômicas. Muitos deles ainda
resistem à interiorização e ficam em Boa Vista porque têm a
expectativa de que a situação vai melhorar no país de origem e
poderão voltar.
O
mais importante, de acordo com o diretor do OBMigra, é que ambos os
perfis têm um monitoramento estatístico, com dados sobre inserção
no mercado de trabalho, admissão, demissão e estoque dos
imigrantes, enquanto estão entrando e saindo do país. Esse
levantamento é publicado pelo Conselho Nacional de Imigração
(CNIg), ligado ao Ministério do Trabalho. Os dados permitem que o
CNIg defina resoluções normativas para os imigrantes, aplicando
políticas específicas e normatizando questões relevantes para o
Brasil.
Fonte:
Agência
Brasil
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