Poluentes de vida curta ameaçam clima, saúde e produção agrícola na América Latina, diz ONU.
Até 2050, se adotarem medidas para
combater os poluentes de vida curta, países da América Latina e do
Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento da temperatura regional.
A estimativa é de um relatório
divulgado neste mês (19) pela ONU Meio Ambiente, que alerta para os
riscos à saúde, à natureza e à produção agrícola de
substâncias como o metano, o carbono negro, os hidrofluorocarbonos
(HFC) e o ozônio.
Na imagem, poluição atmosférica
na cidade de São Paulo. Foto: Flickr/Thomas Hobbs (cc)
Até 2050, se adotarem medidas para
combater os poluentes de vida curta, países da América Latina e do
Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento da temperatura regional.
A estimativa é de um relatório divulgado neste mês (19) pela ONU
Meio Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à natureza e à
produção agrícola de substâncias como o metano, o carbono negro,
os hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
A pesquisa da agência das Nações
Unidas aponta que reduções desses compostos químicos poderiam
provocar uma queda de 26% no número de mortes prematuras causadas
pela poluição do ar por partículas finas. Quando considerados os
óbitos associados à contaminação por ozônio, o índice poderia
chegar a 40%.
A ONU Meio Ambiente estima que, em
2010, 64 mil pessoas morreram na América Latina e no Caribe devido à
exposição a esses materiais.
Estratégias para mitigar os
poluentes de vida curta também permitiriam evitar perdas anuais de 3
a 4 milhões de toneladas de cultivos básicos.
De acordo com o levantamento, em
2010, o ozônio foi responsável por um prejuízo de 7,4 milhões de
toneladas em produtos agrícolas, como soja, milho, trigo e arroz.
Segundo a análise da ONU, até
2050, a mortalidade prematura, associada às partículas finas e ao
ozônio, poderá dobrar. Já as perdas da agricultura poderão
alcançar 9 milhões de toneladas por ano.
Ozônio
O ozônio é um gás que se
forma tanto nas altas camadas da atmosfera (a estratosfera), como nas
baixas (a troposfera). Na estratosfera, a substância protege a vida
terrestre da radiação ultravioleta do sol. Mas na troposfera, ela
atua como um poluente perigoso. O ozônio é um dos principais
componentes de névoa urbana e o terceiro maior causador do
aquecimento global, atrás apenas do metano e do gás carbônico.
Pesquisas associaram o contato com a substância a índices mais
altos de infartos, acidentes vasculares cerebrais, doenças
cardiovasculares e problemas reprodutivos e de desenvolvimento. O gás
também reduz o rendimento das safras e a qualidade e produtividade
das plantações.
Podendo permanecer na atmosfera
desde horas até dias, o ozônio é considerado um poluente
secundário, pois não é emitido diretamente por uma atividade
humana. Na verdade, a substância se forma quando gases precursores,
como o metano, o monóxido de carbono e o óxido de nitrogênio,
reagem na presença da luz solar. Por isso, é tão importante
reduzir as emissões de metano.
A ONU Meio Ambiente lembra que o
potencial de aquecimento atmosférico dos poluentes de vida curta é
bem mais alto que o do gás carbônico, podendo atingir um valor mil
vezes maior que a taxa atribuída ao dióxido de carbono.
A agricultura, o transporte e a
refrigeração doméstica e comercial são, respectivamente, os
maiores responsáveis pelas emissões de metano; carbono negro e
partículas tóxicas finas; e hidrofluorocarbonos.
Soluções
O relatório das Nações Unidas
apresenta medidas para diminuir as emissões desses compostos que
desregulam o clima e ameaçam a vida no planeta.
Para combater o metano, são
necessárias mudanças em quatro setores-chave – produção e
distribuição de petróleo e gás, gestão de resíduos, mineração
de carvão e agricultura. A pesquisa recomenda práticas de captura e
uso dos gases liberados na produção de petróleo e gás; separação
e tratamento dos resíduos sólidos municipais que sejam
biodegradáveis; e captura do biogás proveniente do esterco do gado.
Até 2050, estratégias poderiam
reduzir em 45% as emissões de metano.
Metano
O metano é o segundo gás com
maior impacto sobre o aquecimento do planeta, depois do gás
carbônico. A América Latina e o Caribe respondem por
aproximadamente 15% de todas as emissões dessa substância. Quase
todo o metano liberado na atmosfera vem de três setores: agricultura
(cerca de 50%); produção e distribuição de carvão, petróleo e
gás (em torno de 40%); e gestão de resíduos (por volta de 10%). O
gás permanece na atmosfera por aproximadamente 12 anos e é
considerado um importante precursor do ozônio.
O volume de carbono negro liberado
nos países latino-americanos e caribenhos também pode ter queda
considerável – de 80% – até 2050. Para isso, governos devem
adotar normas equivalentes ao padrão europeu para regular os
veículos a diesel, além de incorporar filtros para as partículas
liberadas pelo combustível nesses automóveis.
Outras iniciativas exigidas são a
eliminação dos veículos de altas emissões; a modernização de
cozinhas e estufas; e a proibição da queima a céu aberto de
resíduos agrícolas.
No caso dos hidrofluorocarbonos, a
ONU Meio Ambiente recomenda a substituição desses compostos por
alternativas que não tenham impacto sobre as variações do clima.
Os HFCs são usados principalmente nos sistemas de refrigeração e
ar condicionado, bem como na confecção de espumas isolantes e
mecanismos de disparo aerosol. Até 2020, o consumo dessas
substâncias deverá dobrar. Uma vez no ambiente, elas permanecem de
15 a 29 anos na atmosfera.
“Muitos países já estão
implementando medidas para eliminar as emissões procedentes dos
setores de transporte e energia, mas sua aplicação não é uniforme
na região”, avalia a chefe da Secretaria da Coalizão Clima e Ar
Limpo, Helena Molin Valdés.
“Políticas públicas mais
exigentes e um maior controle da contaminação podem impulsionar os
incentivos econômicos e os benefícios para a ação climática, a
saúde, a agricultura e o desenvolvimento sustentável. É essencial
agir rapidamente.”
Carbono negro
O carbono negro é formado a
partir da combustão incompleta de combustíveis fósseis ou
biocombustíveis. A substância contribui para a produção de
partículas finas, associadas a doenças pulmonares e
cardiovasculares, derrames, infartos, patologias respiratórias
crônicas, como bronquite, e agravamento da asma.
A América Latina e o Caribe são
responsáveis por menos de 10% do total global de emissões de
carbono negro geradas pelo homem, excluindo da estimativa os
incêndios florestais e em regiões de savana. O transporte e a
queima residencial de combustíveis sólidos para o preparo de
alimentos e aquecimento residencial são a causa de 75% das emissões
na região. Mais de 60% delas vêm do Brasil e do México.
Para o diretor da ONU Meio Ambiente
para a América Latina e o Caribe, Leo Heileman, nações devem se
inspirar nas soluções apresentadas pelo levantamento.
“Se os países da região as
adotarem, contribuirão para manter o aumento da temperatura do
planeta abaixo do limiar de 2ºC estabelecido no Acordo Climático de
Paris”, afirmou o representante do organismo internacional.
O relatório Avaliação
Integrada dos Poluentes Climáticos de Vida Curta é o primeiro
do tipo elaborado pela agência das Nações Unidas e reúne
trabalhos de 90 autores, coordenados por um grupo de especialistas. A
publicação foi lançada pela ONU em parceria com a Coalizão Clima
e Ar Limpo.
Acesse o documento na íntegra
clicando
aqui.
Fonte:
ONUBr
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