segunda-feira, 9 de abril de 2018


“Água não pode ser oferecida de graça”, diz secretário de SP.

Por Reinaldo Canto, jornalista

Não são muitos os brasileiros em destaque na governança mundial, entre os poucos, destacam-se Roberto Azevêdo (diretor-geral da Organização Mundial do Comércio – a OMC) e José Graziano (diretor-geral da FAO, órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).

Benedito Braga pode ser incluído nesse seleto time canarinho. Desde 2012 é presidente do Conselho Mundial da Água, principal órgão internacional no tema recursos hídricos. Braga é uma autoridade no assunto já tendo sido diretor da ANA – Agência Nacional de Águas e também foi Presidente do Conselho Brasileiro do Programa Hidrológico Internacional (PHI) da UNESCO.

Além do CMA, Benedito Braga acumula atualmente outras funções, entre elas, Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo e professor da USP.

Na qualidade de executivo da entidade ao mesmo tempo anfitrião Braga se sentiu bastante à vontade para emitir suas opiniões sobre a situação da água no Brasil e no mundo.

Veja abaixo algumas de suas principais análises e opiniões antes, durante e após a realização do fórum:


RESULTADOS DO FÓRUM

Atingimos plenamente nosso objetivo. Tivemos não só um número muito grande de pessoas participando, mas também uma qualidade de trabalhos fantástica, Destaco a participação das pessoas não familiarizadas com o tema.
Considero fundamental que a água esteja na agenda dos cidadãos!

Importante foi também a troca de experiências envolvendo a classe política junto a classe profissional técnica. Foi uma oportunidade de ouro de motivação daqueles que tomam decisão em torno do tema da água.

O evento tem contribuído para o diálogo e para o processo de decisão em nível global, em prol da segurança hídrica. Sua abrangência e ampla participação reforçam seu caráter aberto e democrático, com a presença de empresas, governos e ONGs.


TEMA COMPARTILHANDO ÁGUA

Os temas dos fóruns são sempre uma sequência de discussões, mantendo um diálogo constante e evolutivo.

A escolha do “Compartilhando Água” foi muito importante, pois temos pelo menos 261 países que dividem bacias hidrográficas e com esse recurso se tornando cada vez mais escasso, é fundamental criar políticas que permitam o seu uso racional em conjunto. O Brasil, por exemplo, compartilha os rios da Bacia Amazônica e a do Paraná/Prata com nossos vizinhos.


ÁGUA NÃO PODE SER OFERECIDA DE GRAÇA

Quando essa água está na natureza, nós temos que tratá-la para que depois ela seja servida para a população. Isso tem um custo em obras e serviços. Ela tem um preço e tem de ser paga! Se não for por meio de tarifas terá de ser por meio dos impostos. Entre as duas, melhor que seja por tarifas, pois dessa forma irá pagar quem está usufruindo dessa água de boa qualidade.


A CRISE HÍDRICA NO BRASIL E NO MUNDO

Essa crise não é apenas uma ameaça em si mesma, mas um risco amplo, envolvendo saúde, produção de alimentos e geração de energia, que se reflete na estabilidade política e social.

A segurança hídrica para ser alcançada exige proteger a sociedade de enchentes e secas ao mesmo tempo garantir níveis aceitáveis de quantidade e qualidade de água para a saúde das pessoas e para a produção.

Para Benedito Braga a garantia do acesso à água está ligada diretamente à investimentos de longo prazo em infraestrutura, fortalecendo o planejamento, a governança e o uso eficiente dos recursos.

O Banco Mundial estima que para que o mundo todo tenha acesso a abastecimento de água e saneamento até 2030 seriam necessários investimentos em torno de 50 bilhões de dólares anuais (165 bilhões de reais aproximadamente). Isso proporcionaria um crescimento de 0,5% a mais na economia mundial, ou seja, cerca de 500 bilhões de dólares por ano.


SITUAÇÃO DA ÁGUA NO BRASIL

O país tem um aparato legal institucional muito sofisticado com a participação da sociedade civil nos comitês de bacia para tomada de decisão. Foi importante compartilhar essas experiências com o resto do mundo.

O país possui uma das maiores reservas de água doce e cenários diferentes, desde o excesso de chuvas até a seca histórica no semiárido do Nordeste. Por todos esses fatores temos avançado em governança, engenharia e pesquisa na área.


LEGADO DA CRISE HÍDRICA

São Paulo enfrentou uma crise hídrica profunda e inédita em 2014/15. As soluções e o aprendizado foram importantes tanto que outros estados e países foram conhecer o que foi feito.

E posso destacar a mudança de comportamento da população em relação à falta d´água. A crise fez com que todos entendessem a importância da água e tivemos a aderência de mais de 80% da população da Grande São Paulo. Os índices de consumo permanecem 20% abaixo dos registrados anteriormente à crise hídrica.

SANEAMENTO BÁSICO

Tivemos várias discussões sobre o tema, não só sobre saneamento, mas também como financia-lo. 

Abordamos a participação e envolvimento tanto de agentes públicos como privados no saneamento. 

A questão do financiamento dos serviços de água e saneamento é muito séria, principalmente nos países da África, Ásia e América Latina.


MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ÁGUA

Temos que levar em conta a questão da resiliência às mudanças climáticas, na adaptação. No CMA fizemos ações para que a questão dos recursos hídricos, bastante afetados pelo aquecimento global, seja discutida nas COPs (Conferências Climáticas).

Com as mudanças do clima, a questão da água se torna cada vez mais importante, porque ela tem reflexos diretos na qualidade de vida e no crescimento econômico.

Fonte: ENVOLVERDE

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