Tragédia de Mariana: Além do Rio
Doce, águas subterrâneas da bacia também estão contaminadas.
Águas
subterrâneas da bacia do Rio Doce também estão contaminadas com metais pesados,
segundo estudo. Foto: Fred Loureiro/Secom ES.
Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Greenpeace, revelou que, além do Rio Doce, as águas subterrâneas da região estão contaminadas com altos níveis de metais pesados. A água dos poços artesianos locais apresentaram níveis desses metais acima do permitido pelo governo brasileiro. Os pequenos agricultores são os mais prejudicados, já que não têm outra fonte de água para a produção e para beber.
As águas do Rio Doce foram contaminadas pelo
rompimento da Barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco,
no município mineiro de Mariana, em 5 de novembro de 2015. O incidente devastou
a vegetação nativa e poluiu toda a bacia do Rio Doce, atingindo outros
municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo. Dezenove pessoas morreram e
diversas comunidades foram destruídas. O episódio é considerado a maior
tragédia ambiental do país.
Após o desastre, agricultores familiares recorreram
a poços artesianos para irrigar suas plantações e ter água para beber. As
amostras coletadas pela equipe da UFRJ apresentaram altos níveis de ferro e
manganês, que prejudicam o desenvolvimento das plantações e oferecem riscos à saúde,
no longo prazo, segundo os pesquisadores.
Um dos objetivos do estudo do Instituto de
Biofísica da UFRJ, em parceira com o Greenpeace, foi avaliar se os
agricultores, impossibilitados de utilizar em suas plantações as águas do Rio
Doce contaminadas pelo desastre, poderiam empregar com segurança os poços
artesianos como fonte de irrigação e consumo.
Resultados
Pesquisadores analisaram a presença de metais
pesados na água em 48 amostras coletadas de três regiões diferentes da bacia do
Rio Doce: Belo Oriente (MG), Governador Valadares (MG), e Colatina (ES). As
amostras foram coletadas em poços, em pontos do rio e na água tratada fornecida
pela prefeitura ou pela Samarco.
A cidade de Belo Oriente apresentou cinco pontos de
coleta com níveis de ferro e manganês acima do estabelecido pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão do Ministério do Meio Ambiente. Em
Governador Valadares foram identificados 12 pontos e, em Colatina, dez pontos
com os valores acima do permitido. Segundo o estudo, a água desses locais não é
adequada para consumo humano e, em alguns casos, também não é recomendado o uso
para irrigação de plantas – situação de alguns pontos de Governador Valadares e
Colatina.
A contaminação do Rio Doce se deu pelos rejeitos
que vazaram com o rompimento da barragem. No entanto, os pesquisadores disseram
não poder afirmar que os poços sofreram a contaminação por conta da lama vinda
da barragem, por falta de estudos prévios na região. “Contudo, podemos afirmar
que a escavação dos poços e sua posterior utilização se deu por conta do
derramamento da lama na água do rio, que porventura, a inutilizou”, diz o
relatório.
No longo prazo, para a saúde, a exposição ao
manganês pode causar problemas neurológicos, semelhantes ao mal de Parkinson,
enquanto o ferro, em quantidades acimas das permitidas, pode danificar rins,
fígado e o sistema digestivo.
“A contaminação por metais pesados pode ter
consequências futuras graves para as populações do entorno, que necessitam de
suporte e apoio pós-desastre. Isso deve ser arcado pela Samarco e suas
controladoras, Vale e BHP Billiton, e monitorado de perto pelo governo
brasileiro”, defendeu Fabiana Alves, da Campanha de Água do Greenpeace.
Agricultura
No curto prazo, o grande impacto tem sido na
agricultura, identificou a pesquisa. O estudo buscou pequenos produtores locais
para analisar como seus modos de vida foram atingidos pela lama. Muitos dos que
não abandonaram suas terras enfrentaram dificuldades financeiras por não
conseguir mais produzir com o solo e a água que têm.
De acordo com o relatório, 88% dos entrevistados
afirmaram ter alterado o tipo de cultivo e/ou criação realizada pela família
após o incidente. A produção de cabras foi bastante afetada pelo desastre e as
atividades de pesca e criação de peixes praticamente desapareceram na bacia.
Dados apresentados pelos pesquisadores após
entrevistas com os agricultores demonstraram também que, antes do desastre, 98%
dos entrevistados utilizavam água do Rio Doce para atividade econômica do dia a
dia. Após a tragédia, somente 36% continuaram usando a mesma água. Destes, 87%
utilizam a água para irrigação. Cerca de 60% dos entrevistados considera a água
imprópria para uso, o que demonstra a insegurança no uso desse recurso
fundamental para as populações que vivem à beira do rio.
Fonte: Agência
Brasil
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