MAC
mostra os infinitos caminhos que levam à arte.
Por Leila Kiyomura – Agência USP
Apresentar os diferentes caminhos
da arte contemporânea brasileira é o desafio da mostra Os desígnios da arte contemporânea no Brasil,
que está sendo apresentada no segundo andar do Museu de Arte Contemporânea
(MAC) da USP. Um desafio que o curador José Antonio Marton propõe reunindo o
trabalho de nove artistas de diferentes regiões do Brasil. “São trabalhos que,
apesar da diversidade de paisagens, dialogam entre si e questionam o público”,
explica.
A reflexão sobre os movimentos da sociedade se
fundem na arte de Alan Fontes, Ana Prata, Fernando Lindote, James Kudo, Paulo Almeida,
Rodrigo Bivar, Sergio Lucena, Tatiana Blass e Ulysses Boscolo. Porém, trazem
narrativas diversas.
“A mostra nos revela uma produção contemporânea
pulsante”, observa Ana Magalhães, curadora do MAC. “Ao longo da história da
arte contemporânea, a questão da morte da pintura foi levantada para falar do
esgotamento desse suporte como um suporte necessariamente atrelado à tradição
artística, contra a qual se bateram e se fascinaram os artistas do século 20.
Mas também para falar do fim da narrativa linear da arte, ou do fim da história
da arte como discurso sobre a produção artística. Mas efetivamente a pintura
permaneceu como meio importante da prática artística contemporânea, em várias
partes do mundo. No Brasil, os artistas que lançam mão desse meio são muitos e
o fazem, como veremos aqui, de formas muito diferentes.”
Onde as
memórias se perdem
O jeito de ver, contar, sentir e registrar a
história resulta nos múltiplos caminhos que o visitante percorre no espaço.
Alan Fontes, mineiro de Belo Horizonte, questiona a destruição da história e da
natureza. Na instalação Onde as Memórias se Perdem, apresenta uma
pintura retratando as Cataratas de Foz do Iguaçu. “A obra foi executada com uma
paleta reduzida em tons frios, que instaura uma indefinição espacial e temporal
na cena”, explica o artista. “O fluxo contínuo de água que abre seu caminho de
forma contundente na paisagem, erodindo e lavando infinitamente a rocha, está
metaforicamente relacionado com o volume intermitente de imagens produzidas na
contemporaneidade, assim como a consequente sensação de esquecimento gerada
pela constatação da nossa incapacidade de lembrar e reter definitivamente a
memória.”
No fundo, outras duas pinturas questionam a
destruição dos casarões da avenida Paulista.
Ana Prata, também mineira, de Sete Lagoas, traz
as séries Sol e Montanha, Amarelo e Grande Circo.
São imagens
de quem busca o invisível. “Os desígnios da arte contemporânea são múltiplos e
inumeráveis”, opina a artista. “Acho que se decifrarmos os seus desígnios
perderíamos a vontade de olhar, de entender e buscar. Perderia o sentido que a
arte tem de tornar visíveis coisas invisíveis.”
As cores de Fernando Lindote, de Santana do
Livramento, cidade gaúcha que faz fronteira com o Uruguai, movimentam o espaço.
Buscam a simbologia da cultura brasileira na escultura do papagaio em bronze e
na pintura Primeiro Imperador, uma espécie de ser mítico que habita as
florestas. Na mostra, é possível observar o artista que não abdica do humor do
cartunista e chargista.
Tatiana Blass debate o tempo, a vida e a morte em
sua instalações e pinturas. Na instalação Zona Morta, 2007, o
visitante revê e reflete sobre sonhos e lembranças. Há quadros, discos, um
velho piano com uma partitura do caderno Invenções a Duas Vozes,
obrigatório no aprendizado clássico, fotos, uma decoração dos anos 1960. E, ao
sair, há um corpo estendido no chão de alumínio fundido, com o título Para
o Morto.
Sergio
Lucena e o encontro da luz
Nas telas de Sergio Lucena, o visitante mergulha
no silêncio. Paraibano de João Pessoa, o artista surpreende pelo encontro com a
luz. As cores se fundem e são a paisagem. E o retrato de um pintor consagrado
no Brasil e no exterior.
Para chegar à luz e cor, Lucena, 53 anos,
percorreu um longo caminho. Entrou nos cursos de Física e Psicologia na Universidade
Federal da Paraíba, mas não concluiu. Acreditou e trabalhou pelas trilhas que a
sua arte foi desenhando. Em 1992, ganha uma bolsa de estudos para estudar em
Berlim. Sua trajetória é pontuada por diversas fases. Uma árdua busca. O
desenho denso em detalhes, perfeito, foi se libertando da forma e hoje é a
nuance do tempo, do espaço, da natureza do ser sensível. “A paisagem é o meu
tema maior. Ela corresponde para mim à fusão dos estados físico, psicológico e
espiritual”, explica Lucena. “A pintura de paisagem é o caminho que percorro na
busca das relações entre as múltiplas esferas da realidade.”
Memórias de
um lugar
James Kudo, 49 anos, paulista de Pereira Barreto,
traz a série Florestas e surpreende pelas cores e síntese da paisagem.
Uma síntese também da sua própria história e lembranças.
Nos tons de azul do céu, da água, o preto que
transformou as montanhas, no aconchego de um tecido xadrez que remete à memória
de uma casa, de um lar, Kudo pinta a trajetória da sua cidade natal, fundada
por imigrantes japoneses no dia 11 de agosto de 1928, chamada de Novo
Oriente. Parte desse município que passou a ser chamado de Pereira Barreto foi
inundada, em 1990, pela usina hidrelétrica de Três Irmãos. São as imagens dos
lugares de sua infância que são reverenciadas em seus desenhos.
Universo
poético
Na série Pássaros, o paulistano
Ulysses Bôscolo, 39 anos, propicia ao visitante as imagens e cores dos
pássaros. “Uma série de telas pequenas e do mesmo tamanho distribuídas no
espaço como se fossem notas musicais em uma partitura”, define o curador
Antonio Marton. Apresenta também uma série de xilogravuras. Não tem o encanto e
a delicadeza dos pássaros mas trazem a força do seu desenho. São obras que
revelam as várias faces do artista, gravador e ilustrador.
A obra do paulistano Paulo Almeida, 39 anos,
também registra os ambientes que o cercam. São grandes pinturas que trazem detalhes da arquitetura ou
reflexos dos espaços captados ou flagrados pelo seu olhar fotográfico. São
estratégias onde ele reconstrói um novo espaço com as suas obras e compartilha
esse universo com os artistas e os visitantes da mostra.
Descobertas
do contemporâneo
Nas imagens de Rodrigo
Bivar, há a pausa de uma busca. Apesar de jovem – nasceu no Distrito Federal,
Brasília , em 1981 – a sua inquietação já o levou por diversos caminhos. Vai
seguindo os desígnios da contemporaneidade. E se até há pouco tempo ele
registrava cenas e paisagens do cotidiano, agora ele compõe as formas das
cores. Nada a ver com o óbvio dos limites dos espaços.
Ele se dá a autonomia e
o direito ao infinito da arte.
A exposição Os desígnios da arte contemporânea no Brasil,
com curadoria de José Antônio Marton, está no Museu de Arte Contemporânea da
USP, na Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, até 30 de julho de 2017. Funciona
às terças, das 10 às 21 horas, e quarta a domingo, das 10 às 18 horas. Entrada
gratuita. Mais informações no tel. (11) 2648-0254.
Fonte: MAC
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