Atentado a uma árvores de 700
anos.
Júlio Ottoboni, especial para a Envolverde –
Árvore símbolo do Vale do Paraíba já sofreu
inúmeros atentados em seus 7 séculos de existência. O atual, com fogo, pode ter
sido o mais devastador.
Um incêndio atingiu no início de abril o
jequitibá-rosa, no distrito de Eugênio de Melo de São José dos Campos, com 700
anos de idade. Ele já foi alvo de várias atos de vandalismo e atentados.
Atualmente é escorado por uma imensa estrutura de aço. A árvore, típica da Mata
Atlântica e sob ameaça de extinção, queimou por cinco horas e ainda passa por
avaliação de técnicos quanto a sua possibilidade de recuperação e de
sobrevivência.
Jequitibá de 700 anos que fica no distrito de
Eugênio de Melo de São José dos Campos. Foto de: Adenir Britto/PhotoUpBrasil
A árvore é um dos mais importantes símbolos de
defesa do meio ambiente da Vale do Paraíba paulista e foi declarada patrimônio
histórico e imune de corte por decreto municipal nº 8.25993, de 10 de dezembro
de 1993. Mesmo assim não se conseguiu conter os ataques ao jequitibá.
O fogo começou por volta das 11 horas da
terça-feira (11) e foi extinto às 16h por equipes do Corpo de Bombeiros e
populares. Funcionários da prefeitura também estiveram no local para acompanhar
e ajudar no trabalho de contenção do incêndio que adentrou por uma fresta no
tronco e queimou a árvore por dentro.
Segundo moradores da região, um homem capinou a
área de calçada e ateou fogo no mato, isso a poucos metros da árvores que em
minutos estava em chamas. A prefeitura realizará na próxima segunda-feira (17)
a limpeza e retirada da vegetação seca e queimada do entorno do jequitibá-rosa.
Equipes das secretarias de Manutenção da Cidade e
de Urbanismo e Sustentabilidade realizaram uma vistoria técnica para
identificar os graus de destruição e de lesões sofridas pela árvore. O
diagnóstico preliminar mostrou que o incêndio não atingiu profundamente o
tecido vivo do jequitibá-rosa. Isso pode ajudar numa futura recuperação da
árvore.
Segundo a prefeitura, as equipes técnicas
aguardarão o prazo de 20 dias para haver uma resposta fisiológica da árvore. Em
seguida vão reiniciar os serviços de adubação, tratamento nutricional e
controle de pragas e doenças por meio de inseticidas e fungicidas.
Foto: Adenir Britto/PhotoUpBrasil
Essas atividades são repetidas desde 2006 dentro de
um plano de recuperação. Agora ele será intensificado caso o exemplar reaja. As
condições de saúde da árvore antes do incêndio só serão alcançadas em um prazo
de quatro anos.
Esse exemplar tem 27 metros de altura e 30 de
diâmetro de copa e ainda pode durar cerca de mil anos. O Jequitibá teve uma
fissura no caule e além de uma armação metálica para impedir que seja derrubado
pelos ventos. O tratamento começou em 2002 e deve levar ainda de três a quatro
décadas até sua recuperação.
A árvore fica nas margens da antiga estrada velha
Rio-São Paulo, num trecho da Estrada Imperial. Ela foi abrigo de bandeirantes e
de Entradas que seguiam para Minas Gerais. Também testemunhou o ciclo da cana
de açúcar, o cafeeiro e de gado leiteiro, passando imune por mais de 3 séculos
de exploração econômica da região em atividade agrária.
Os primeiros problemas começaram a surgir na década
de 60, com cultos religiosos feitos sobre suas raízes e nas proximidades de seu
tronco. Velas acessas em diversos rituais acabaram por incendiar a árvore
diversas vezes e causaram danos significativos em sua saúde. Nos anos 80, a
fábrica de veículos militares Engesa usou a árvore para testes com seus
caminhões e jeeps, inclusive lançando-os contra o tronco ou mesmo atando
correntes na tentativa de derrubá-lo com veículos de tração 4 x 4.
Esses abusos comprometeram toda estrutura radicular
da árvore, a fez perder galhos e entrar em colapso até o tombamento. Porém,
mesmo com os cuidados, o jequitibá vem nestes 24 anos de preservação legal,
passando por uma série de atentados. Os mais comuns são incêndios e tentativas
de derrubada. Além da colocação de anéis metálicos em seu tronco, para evitar a
abertura da fissura existente, foi criada um imenso suporte de aço para
mantê-lo em pé.
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem
31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo
científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira,
tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA.
Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente
terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de
entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor
universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.
É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da
Rebia.
Fonte: ENVOLVERDE
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