Supercomputador
facilita pesquisa climática.
Por Zadie Neufville, da IPS –
Kingston, Jamaica, 15/3/2017 – O Caribe já desfruta
de seu novo supercomputador de alto rendimento conhecido como Sparks (acrônimo
em inglês de Plataforma Científica para a Pesquisa Aplicada e o Intercâmbio de
Conhecimento), fundamental para prognosticar as variações do clima e mitigar os
efeitos da mudança climática. O Sparks, instalado no dia 30 de novembro na
Universidade das Índias Ocidentais, na Jamaica, já prepara os macrodados
necessários para que os países insulares do Caribe não sucumbam ao aquecimento
global.
Os especialistas preparam a região para mitigar os
devastadores efeitos derivados da mudança climática, como elevação do nível do
mar, prolongamento das secas, precipitações mais extremas e crescentes impactos
dos ciclones tropicais. As consequências do aquecimento da Terra poderiam
dizimar as economias dos Estados em desenvolvimento e de muitos pequenos países
insulares, ao reverterem os avanços sociais obtidos nos últimos anos e
exacerbarem a pobreza.
Antes de contar com o Sparks, os cientistas da
região tinham dificuldades para reunir dados confiáveis, necessários para elaborar
projeções climáticas de longo prazo. Há apenas uns meses, a incapacidade da
universidade de trabalhar com a informação fazia os pesquisadores terem de
processar um único grupo de dados por vez, explicou Jay Campbell, cientista do
grupo de estudo do clima.
Cada processamento de dados demorava seis meses,
devido à limitada capacidade de armazenamento e à falta de redundância,
acrescentou Campbell, afirmando que, “se algo dava errado, simplesmente
tínhamos que recomeçar”. Quando foi instalado, o Sparks começou a atender à
necessidade de armazenamento, análise, modelação, acesso e difusão de
informação climática sobre o Caribe.
No longo prazo, os especialistas poderão elaborar
projeções climáticas mais precisas e confiáveis com maior resolução espacial para
facilitar, entre outras coisas, o desenho de inovadoras iniciativas-piloto para
melhorar a resiliência e depois ampliá-las. Quando Grupo Intergovernamental de
Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) elaborar o próximo informe de
avaliação, em 2018, haverá muito mais informação sobre o Caribe, o que converte
o supercomputador em um instrumento essencial da luta contra a mudança
climática.
O Sparks, descrito como um dos mais rápidos do
Caribe, não só impulsionou as possibilidades de pesquisa como, segundo o
professor principal, Archibald Gordon, “deverá ajudar os governantes da região
a tomar melhores decisões no tocante às suas respostas e estratégias de
adaptação, a fim de mitigar o impacto da mudança climática”.
Os especialistas destacaram a necessidade de
contarem com macrodados para fornecer a informação necessária a fim de melhorar
os prognósticos de curto, médio e longo prazos. Agora têm capacidade e
habilidade para completar o processamento de dados em apenas dois dias. O
sistema ajudará os cientistas a melhorarem a “avaliação dos possíveis riscos e
impactos e mitigá-los de forma efetiva, na medida em que construímos uma
infraestrutura mais resiliente”, apontou Gordon.
Os cientistas do Caribe utilizam macrodados para
elaborar prognósticos sobre as condições de seca para os agricultores e outros
interessados do setor. Foto: Zadie Neufville/IPS
Quando a Organização Meteorológica Mundial (OMM) informou,
em junho de 2016, que se vivia o “14º mês consecutivo da maior calor registrado
em terra e nos oceanos, e o 378º mês consecutivo com temperaturas acima da
média do século 20”, os cientistas da região se comprometeram a fornecer a
informação que os governos do Caribe necessitam para tomarem as medidas que
permitam diminuir as consequências da mudança climática.
A região busca constantemente formas para
fortalecer sua capacidade de fornecer dados climáticos precisos e consistentes.
Os esforços foram redobrados depois que, em setembro de 2013, uma “análise
climática rápida” no Caribe oriental identificou o que ficou conhecido como
certo “número de limitações e vulnerabilidades à mudança climática para uma
adaptação efetiva”.
O estudo, da Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional (Usaid), identificou, entre outras coisas, “a
falta de dados climáticos precisos e consistentes para compreender a mudança
climática, prognosticar seus impactos e planejar medidas de adaptação”. Para
enfrentar o desafio, a OMM e o Instituto de Meteorologia e Hidrologia do
Caribe, com fundos da Usaid, criaram o Centro Climático Regional, em Barbados.
A instalação do novo computador é outro passo para
superar as limitações. Sua inauguração, por ocasião de uma reunião do IPCC na
sede da Jamaica da Universidade das Índias Ocidentais, foi significativa,
porque mostrou aos especialistas que o Caribe não estava pronto e não seria
capaz de produzir os macrodados necessários para o próximo informe de avaliação
de 2018.
O diretor do Grupo Climático do Caribe, professor
Michael Taylor, explicou que a credibilidade e a precisão dos dados são obtidas
com computadores muito velozes, com rápida devolução de resultados, bem como
com capacidade de processar múltiplos conjuntos de dados e maior resolução para
produzir a informação que as autoridades da região necessitam.
“A pesquisa climática e os métodos de redução de
escala já não estarão limitados pelo computador nem pelos programas de
computação”, ressaltou Taylor, tentando, sem êxito, conter a emoção. O Sparks
coloca a Jamaica e a Universidade das Índias Ocidentais bem acima de outros
países do Caribe anglo-saxão, e ao lado de algumas das maiores instituições do
Norte Global.
Essa melhoria na capacidade informática é um valor
que atrairá especialistas mais capacitados e estudantes de fora da região.
Fundamentalmente, contribui para o esforço da Universidade destinado a se
colocar como importante instituição de pesquisa, além de seus estudos sobre os
usos medicinais da maconha. “Isso expande as capacidades de pesquisa, uma área
em que a Universidade não havia incursionado até agora. Antes, o processamento
de macrodados só podia acontecer com colaboradores de fora da região”, explicou
Taylor.
Além de sua importância na contribuição com dados
valiosos para o informe do IPCC, o Sparks revoluciona as pesquisas de
sequenciamento de dados do DNA, médicas e biológicas, entre outras, que são
realizadas na Universidade. E o mais importante: os pesquisadores
universitários concordam que um supercomputador reúne os esforços das
instituições que estão à frente da luta climática regional.
Fica claro que o Sparks representa “um ponto de
inflexão e uma grande mudança” para a pesquisa climática em escala regional,
bem como para a comunidade acadêmica da Universidade das Índias Ocidentais.
Fonte: ENVOLVERDE
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