Maria-do-nordeste, ave nativa do
Nordeste brasileiro, corre risco de extinção e precisa de ajuda.
A maria-do-nordeste (Hemitriccus
mirandae)
Uma ave pequenina, amarela e parda, típica dos
chamados ”brejos de altitude”, localizados no estado do Ceará, Pernambuco e
Paraíba está em grande perigo. A maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae)
praticamente desapareceu de seu habitat natural e os pesquisadores buscam agora
descobrir seu paradeiro. Para isso, iniciaram o projeto de pesquisa intitulado
“Por onde anda a maria-do-nordeste no estado do Ceará?”.
O estudo, da Associação Caatinga, da Universidade
Federal do Ceará e Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com oapoio da
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, pretende melhor entender a
distribuição geográfica e tamanho populacional, além de reavaliar o status de
conservação da espécie.
Segundo a União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN) e o Ministério do Meio Ambiente, a maria-do-nordeste
encontra-se hoje ameaçada na categoria “vulnerável”, o que significa que a
espécie enfrenta um risco elevado de extinção na natureza em um futuro bem
próximo, a menos que as circunstâncias que ameaçam a sua sobrevivência e
reprodução melhorem. De acordo com a bióloga Flávia Guimarães Chaves, doutora
em Ecologia e Evolução da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e
responsável pelo estudo, as principais ameaças à espécie são a perda dehabitat,
a degradação do meio ambiente, dificuldade de troca genética e as mudanças
climáticas.
Segundo a pesquisadora, as mudanças climáticas podem
atuar modificando as condições que permitem a existência da ave. “As áreas de
ocorrência da ave têm temperaturas mais amenas e precipitações maiores que as
áreas ao redor”, explica. A doutora explica que um aumento de temperatura e
ausência de chuvas podem colocar em risco a espécie. “Por se encontrarem em
áreas isoladas, que são serras distantes umas das outras, e não serem aves
migratórias, também é praticamente impossível que haja uma troca genética entre
as populações, o que contribui para uma diminuição da variabilidade genética da
espécie”, alerta.
Desde o início da pesquisa, em setembro do ano
passado, até o momento, a ave foi encontrada em 11 municípios dentre os 18
visitados pela equipe. “A princípio, as quatro regiões amostradas seriam Serra de
Baturité, Serra de Ibiapina, Serra da Meruoca e Serra de Uruburetama.
Infelizmente, a ausência de detecção da espécie nesta última serra impede que
ela seja incluída no monitoramento do tamanho populacional. Observando a mata
presente no local onde ela foi avistada anos atrás, percebemos que pouco
resta”, lamenta a bióloga. Os últimos registros da maria-do-nordeste em
Uruburetama datam de 2007.
Para Malu Nunes, diretora executiva da Fundação
Grupo Boticário, um cenário tão ameaçador para uma espécie é um exemplo claro
da necessidade de mais esforços em prol da conservação da biodiversidade
brasileira. “A maria-do-Nordeste é apenas uma das diversas espécies altamente
prejudicadas pela degradação do meio ambiente. É preciso que haja um trabalho
integrado entre diversos atores, como instituições da sociedade civil, governos
e população, no sentido de conservar as áreas naturais que ainda restam no
nosso país e tentar reverter esse quadro”, completa Nunes.
Participação da comunidade
De acordo com a responsável pelo projeto, um
trabalho de sensibilização e acesso à informação da comunidade local está sendo
realizado em parceria com escolas e associações de moradores.
“Acreditamos que
apenas conseguimos conservar aquilo que conhecemos. A comunidade poderá nos ajudar
atuando na diminuição da degradação ambiental e perda de habitat, bem como
replantando mudas de espécies vegetais nativas para recuperar algumas áreas
degradadas”, explica Chaves.
Fonte: EcoDebate
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