Apenas nove estados brasileiros monitoram a qualidade do ar.
Qualidade do Ar – “Abaixa cobertura de estações de monitoramento significa que na maior parte do país a população não sabe o ar que está respirando”
Por
Isis R. Nóbile Diniz
Dos
27 estados do Brasil, apenas nove realizam o monitoramento da
qualidade do ar. São eles Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Distrito
Federal.
Embora
o estado com melhor cobertura do monitoramento seja São Paulo, em
geral, a cobertura da rede é insuficiente no país, sendo mais
crítica nas regiões Nordeste e Centro-Oeste; e no Norte, onde não
há nenhum monitoramento. Atualmente sete poluentes são regulados no
Brasil por seus reconhecidos danos à saúde: partículas totais em
suspensão (PTS), partículas inaláveis (MP10), fumaça,
dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2),
monóxido de carbono (CO) e ozônio (O3). Sendo que o
material particulado fino (MP2,5) e o ozônio são os
poluentes cujo o controle das concentrações é mais desafiador.
Esses poluentes são pouco acompanhados, apesar de seus impactos à
saúde, o MP2,5 é monitorado em apenas quatro estados e o
ozônio, em sete.
Esses
e outros dados sobre a poluição do ar no Brasil estão compilados
na nova versão da Plataforma Nacional de Qualidade do Ar
(http://qualidadedoar.org.br/)
desenvolvida e lançada dia 14 de novembro pelo Instituto de Energia
e Meio Ambiente (http://www.energiaeambiente.org.br/),
organização sem fins lucrativos que produz dados técnicos para
influenciar políticas públicas. A ferramenta online é a única no
país a reunir dados de concentração de poluentes e a indicar as
ultrapassagens dos padrões nacionais e das recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS), o que pode auxiliar
especialistas e gestores na avaliação dos efeitos da poluição do
ar na saúde.
“A
baixa cobertura de estações de monitoramento significa que na maior
parte do país a população não sabe o ar que está respirando”,
diz a meteorologista Beatriz Oyama, analista de qualidade do ar do
IEMA. “O monitoramento de qualidade do ar é uma ferramenta
importante para a gestão pública.” Com monitoramento adequado nas
cidades, é possível saber quando o ar está inadequado e tomar
medidas para reduzir as emissões de poluentes, como restringir
algumas atividades industriais e o uso de automóveis e incentivar o
uso do transporte público. No limite, é possível recomendar que os
cidadãos e os profissionais de saúde fiquem mais alertas nos dias
mais críticos.
O
monitoramento pode ajudar a identificar as fontes poluentes, como
indústrias específicas ou locais com trânsito intenso de veículos,
e agir para reduzir essas emissões. Medir a qualidade do ar é
também um dos instrumentos relevantes para verificar a eficácia do
programa de controle veicular (Proconve), que regulamenta a
tecnologia dos motores e a qualidade dos combustíveis. Também é
uma informação necessária para o poder público autorizar a
instalação de novas indústrias em áreas sensíveis para a saúde
da população.
Referência
para a OMS desde 2016, a nova versão da Plataforma do IEMA
disponibiliza informação detalhada sobre a distribuição das
estações de monitoramento e sobre as variações das concentrações
de poluentes monitorados. Ela também está mais interativa e prática
de consultar, mas a maior novidade são os dados de concentração
por hora do dia. Eles permitem saber, por exemplo, quais são os
horários do dia com picos de um tipo específico de poluente, os
meses do ano em que se observam maiores concentrações.
Uma
vez que cada estado tem sua metodologia para calcular concentrações
de poluentes, após estudar essas diferentes metodologias adotadas, a
plataforma do IEMA empregou o método utilizado pela maior parte dos
estados para padronizar os cálculos tornando dados de diferentes
estados comparáveis.
Entre
os poluentes atualmente medidos no Brasil, os únicos que não
apresentam uma tendência clara de queda são o material particulado
fino e o ozônio. Assim, esses são os poluentes que mais preocupam
por representarem altos riscos para a saúde quando em concentrações
elevadas.
O
material particulado mais fino (MP2,5) é um dos maiores
responsáveis por doenças respiratórias e cardiovasculares no
mundo. Ele é emitido pela queima de combustíveis nas indústrias e
nos veículos, essa segunda fonte se torna ainda mais relevantes nos
centros mais urbanizados. Também é formado na atmosfera a partir de
reações químicas com outros gases e poluentes. Embora o MP2,5
tenha seus danos à saúde cientificamente comprovados, somente
quatro estados fazem o monitoramento desse poluente: Minas Gerais,
Rio de Janeiro, São Paulo, e Espírito Santo, sendo que somente
nesses dois últimos o MP2,5 é regulado. Na Plataforma de
Qualidade do Ar, é possível verificar como a concentração de
material particulado evoluiu em vários pontos do país. Na estação
do bairro de Cerqueira César, na região da Avenida Paulista, da
cidade de São Paulo, a concentração média anual de material
particulado teve uma queda de 24 para 16 microgramas por metro cúbico
entre os anos 2000 e 2009. Depois começou a oscilar sem queda
aparente. Sempre acima da concentração de 10 microgramas por metro
cúbico, recomendada pela OMS.
O
ozônio é outro poluente que tem apresentado concentrações bem
acima dos valores recomendados pela OMS. Quem se expõe a ele
regularmente, corre risco de desenvolver asma e outras doenças
cardiovasculares e de ter sua capacidade pulmonar reduzida. Como não
é emitido diretamente por nenhuma fonte poluente, o controle do
ozônio é um grande desafio. Ele é formado durante o dia, a partir
da reação entre poluentes originados de processos incompletos de
queima (combustíveis, queimadas).
A
Plataforma de Qualidade do Ar também permite verificar as
concentrações de ozônio em várias cidades. A máxima média
de 8 horas de ozônio, no Parque do Ibirapuera em São Paulo, variou
entre cerca de 200 e 160 microgramas por metro cúbico entre os anos
de 2013 e 2016. Ou seja, ainda acima das recomendações da OMS, de
100 microgramas por metro cúbico.
A
plataforma mostra como os poluentes mais críticos hoje são o MP2,5
e O3, além dos demais poluentes regulados. Por outro
lado, a boa notícia da plataforma é que outros poluentes apresentam
queda. É o caso de material particulado (MP10), o dióxido
de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO) e dióxido de
nitrogênio (NO2). Todos esses poluentes têm apresentado
uma tendência de redução das concentrações ao longo dos anos e,
na maioria das estações, têm atendido as recomendações da OMS.
Link
para a Plataforma de Qualidade do Ar do IEMA
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário