Soltura de papagaios-de-peito-roxo no Parque Nacional das Araucárias é ameaçada por vandalismo.
Texto publicado em 15 de março
2019 no site Conexão
Planeta
Por Mônica Nunes*
–
Esta semana, o Instituto
Espaço Silvestre anunciou, com muito entusiasmo, mais
uma soltura de papagaios-de-peito-roxo no Parque
Nacional das Araucárias, no município de Passos Mais, em
Santa Catarina. “Após longo período de reabilitação, 36
papagaios serão levados para o parque para a sétima soltura que
ocorrerá na região onde a espécie estava extinta”.
No entanto, por falta de
segurança no local, essa operação corre risco de não se
realizar, e isso é muito grave: pode eliminar a chance de esses
bichos tão singelos viverem em liberdade e
“condená-los a passar o resto de suas vidas em cativeiro”,
como alerta a bióloga Vanessa Kanaan, diretora técnica do instituto
e membro da Comissão de Especialistas em Conservação de
Translocação da IUCN.
Esse projeto lindo, realizado pelo
Instituto Espaço Silvestre desde 2010, tem reintroduzido
essa espécie na região da qual estava extinta, principalmente por
causa do tráfico ilegal. Até agora, já foram
soltos 153 papagaios-de-peito-roxo e há mais 36 no viveiro instalado
no parque, esperando para viverem livres na natureza.
Casal de papagaios-de-peito-roxo em
liberdade com rádio-colares que facilitam o monitoramento.
Mas a missão do instituto desta vez
está ameaçada porque, na noite de quarta (12/3) para quinta (13),
foram roubados todos os equipamentos de proteção e
monitoramento do viveiro. Câmeras que funcionam como
armadilhas fotográficas, muito usadas por pesquisadores, e também
ajudam a monitorar as plataformas de alimentação, além de todos os
cadeados e correntes que as protegiam e mantinham a porta fechada.
“De manhã, as duas biólogas que
estão em campo encontraram a porta aberta. Entram no viveiro para
verificar se os papagaios estavam bem e, em seguida, perceberam que
as câmeras tinham sumido”, conta Vanessa. “Não acredito que
quem roubou os equipamentos tinha intenção de levar os papagaios.
Já poderiam ter feito isso, mas tiveram o cuidado de fechar a porta
com uma tranca externa”. E completa: “O sistema é seguro. Isso
nunca aconteceu. Por isso, agora, estamos apreensivas”.
Assim que foi avisada do ocorrido,
Vanessa acionou, por whatsapp, o que o grupo chama de Rede de
Proteção ao Papagaio-de-peito-roxo, formada por
instituições locais, regionais e nacionais como órgãos ambientais
– como ICMBio (instituição que faz a gestão do parque já
que é uma unidade de conservação federal),Ibama -,
pessoas-chave no processo de soltura, e as polícias ambiental,
militar e civil.
Vista de cima do viveiro onde estão
protegidos 36 papagaios-de-peito-roxo e parte dos pesquisadores
durante o monitoramento realizado todos os dias.
Ela conta que essa rede foi criada
após reunião que definiu a competência exata de cada instituição
para agilizar ações em casos desse tipo. Foi o que aconteceu agora.
Lá estiveram integrantes da polícia civil e militar e do ICMBio e
foi feito um B.O. (boletim de ocorrência). “Todos comprometidos e
engajados. A partir de hoje (14) estão nos apoiando na
fiscalização”, explica a Vanessa.
A mídia local foi avisada para que
noticiasse o roubo e comunicasse o oferecimento de
uma recompensa “para quem tiver informações que
nos levem às armadilhas, aos equipamentos roubados. Nossa estratégia
é fazer barulho localmente porque, quanto mais a comunidade souber,
mas fiscalizadores a gente tem e maior segurança”.
Vale destacar que os equipamentos
roubados são caríssimos e foram doados recentemente pelo Parque
das Aves e pelo ornitólogo Adrian
Rupp, guia de observação de aves que
atua na região.
“Faz quase um ano que eu comecei a
negociar o patrocínio desses equipamentos. E conseguimos. O Parque
das Aves doou as câmeras, o cartão de memória e as pilhas. E o
Adrian, as caixas de proteção, as correntes e os cadeados. Essa é
a tristeza! Um material tão batalhado, ir embora, assim, em menos de
uma semana de uso”.
Além de prejudicar o trabalho do
instituto, o roubo também impede que a parceria linda com o Parque
das Aves e Adrian se complete já que envolvia o
compartilhamento das informações obtidas a partir desse
monitoramento. Conhecimento científico se expande assim também, com
essas parcerias. Quem cometeu esse crime não faz ideia do tamanho do
estrago que causou e continua causando.
E se a soltura não puder ser feita?
A priori, a soltura dos 36
papagaios-de-peito-roxo está marcada para amanhã, 16/3, mas tudo
depende do que acontecerá nas próximas horas.
Há pouco, Vanessa me deu uma boa
notícia: ninguém esteve no viveiro durante esta madrugada. Mas,
caso não seja possível dar andamento à missão, as consequências
serão terríveis, como ela explica:
“Se os papagaios tiverem que
voltar ao centro de triagem de animais silvestres do instituto, não
teremos como fazer uma soltura em curto prazo porque teremos que
recomeçar o processo de reabilitação de saúde. Além de demorado,
este processo é muito caro porque cada papagaio precisa passar por
20 exames. E mais: tudo isso pode inviabilizar a continuidade do
projeto, que tanto depende de apoio financeiro, de parceiros,
voluntários…. Por causa de um ato de vandalismo”.
Estamos torcendo para que o projeto
pode seguir seu curso, mesmo com as adversidades. E que a rede
proteção ajude a impedir que mais atos como esse aconteçam e que a
comunidade continue ajudando este grupo de biólogas dedicadas à
vida silvestre a realizar sua missão.
Se tudo correr bem – e vai! –
semana que vem conto mais detalhes desta soltura e também do
trabalho lindo desenvolvido pelo Instituto Espaço Silvestre.
Quero ver os 36 papagaios-de-peito-roxo, como o dos flagrantes
bacanas publicados neste post (registrados pela Vanessa), vivendo
livres na natureza.
Fotos: Vanessa Kanaan/Instituto
Espaço Silvestre (papagaios) e Divulgação (viveiro).
Mônica
Nunes – Jornalista com experiência em revistas e internet,
escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e
sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi
editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou
com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site
Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United
Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de
Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da
conferência TEDxSãoPaulo.
Fonte: ENVOLVERDE
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