quinta-feira, 7 de março de 2019


Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo.

País fica atrás apenas de EUA, China e Índia, com cada brasileiro gerando um quilo de lixo plástico por semana, aponta relatório do WWF. Apenas 1,2% do material produzido é reciclado.

Índice de reciclagem de plástico no Brasil está bem abaixo da média mundial.

No ranking dos maiores poluidores do planeta, o Brasil aparece em quarto lugar quanto à produção de lixo plástico. Por ano, o país gera 11,3 milhões de toneladas desse resíduo – número três vezes maior que sua produção anual de café, por exemplo.

No ranking dos maiores produtores de lixo plástico, o Brasil é precedido apenas por Estados Unidos (70,8 milhões de toneladas), China (54,7 milhões) e Índia (19,3 milhões). Na Europa Ocidental, a liderança é da Alemanha (8,2 milhões).

Os dados fazem parte do relatório internacional Global Plastics Report, levantamento do WWF divulgado nesta terça-feira (05/03), que aborda o impacto do plástico no meio ambiente, na economia e na sociedade. Para o estudo, a organização foi além dos números da geração desse tipo de lixo nas residências.

"Esse trabalho foi feito com base nas premissas do Banco Mundial, que engloba também os resíduos plásticos industriais, da construção civil, lixo eletrônico e agrícolas", detalha Gabriela Yamaguchi, do WWF Brasil.

Segundo o relatório, o brasileiro produz um quilo de lixo plástico por semana – uma das maiores médias mundiais.

"É uma produção alta porque, assim como China, Índia, Indonésia, o Brasil é um país de dimensões continentais, com uma sociedade de consumo em ascensão, onde também há um certo crescimento da infraestrutura", analisa Yamaguchi.

Fabricado para ser usado apenas uma vez na grande maioria dos casos, o plástico é em grande parte descartado na natureza e acaba chegando aos oceanos. Estima-se que 10 milhões de toneladas vão parar nos mares a cada ano – o que equivale a 417 mil contêineres com capacidade máxima.

Além de matar e contaminar animais marinhos, pequenos fragmentos do material, os chamados microplásticos, já são encontrados até em humanos. Um estudo científico divulgado no fim de 2018 estimou que até 50% da população mundial tenha microplásticos no intestino, incorporado por meio da ingestão de alimentos e água.

Uso e reciclagem

Embora esteja entre os maiores poluidores, o Brasil ainda está abaixo da média mundial de reciclagem. O relatório calcula que o país recicla apenas 1,28% do total de plástico produzido no país  – índice inferior aos à média global de 9%.

Entre os diferentes tipos de material, o PET é o que se sai melhor: cerca de 60% do que é produzido é reciclado, sendo transformado em fios para a indústria têxtil, por exemplo.

"Os números gerais ainda são tímidos. Não avançamos muito na implantação da coleta seletiva, dos programas de inserção de catadores, de acordos setoriais", avalia Sylmara Gonçalves Dias, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).

Quase dez anos depois da criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Brasil está aquém do que era esperado no combate ao lixo plástico, pontua Dias.

"As fontes de poluição são múltiplas. Não adianta nada restringir um tipo de uso e achar que está fazendo alguma coisa", diz, fazendo referência a leis recentes que banem canudos de plástico, por exemplo.

"É uma enganação que só mascara a complexidade do problema. É preciso olhar para tudo: copo, fralda descartável, sacolinha, garrafas, partes plásticas de produtos maiores."

Antes do consumo

Na avaliação de Yamaguchi, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei de 2010, é positiva, mas insuficiente. "O Brasil e o mundo têm um déficit legal em que a responsabilização pela coleta e o tratamento do resíduo não estão bem definidos para quem produz esses materiais", afirma.

A representante do WWF defende uma mudança de paradigma e leis mais rígidas. "Não é suficiente cuidar só do pós-consumo, da reciclagem. É preciso reduzir a produção de plástico no planeta, substituir por outros materiais, inovar."

Mesmo que toda a geração desse material fosse interrompida de imediato, o volume já despejado na natureza levaria centenas de anos para ser degradado. "Estamos nos afogando com tanto lixo. O plástico é um barato que saiu caro: o valor dele não condiz com o impacto que causa em todos nós", afirma Yamaguchi.

Na próxima semana, a assembleia do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (PNUMA) discute em Nairóbi, no Quênia, um acordo global para banir plásticos e microplásticos dos oceanos.

Para o WWF, seria um primeiro passo para responsabilizar produtores de plástico no que diz respeito aos custos de tratamento e coleta dos resíduos.


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