Fauna e Estradas – Do que os animais estão morrendo?
Por Júlia Beduschi para Fauna
News.
Bióloga e mestranda na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhando junto ao Núcleo de
Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma
instituição.
estradas@faunanews.com.br
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Interessados em determinar as causas
de mortalidade da fauna de vertebrados terrestres, um grupo de
pesquisadores da universidade estadual de Nova York fez uma revisão
bibliográfica compilando estudos de todo o mundo que usaram
telemetria (equipamentos anexados ou ancorados nos animais que
rastreiam seus movimentos) para determinar a causa-morte dos animais.
Jaguatirica morta por atropelamento
em 2015 em rodovia ao lado do Parque Nacional do Iguaçu (PR). Felino
era monitorado por pesquisadores. Foto: Lucas Dagostin e Marcos
Moreira/Carnívoros do Iguaçu.
O estudo nos mostra que as
atividades humanas são responsáveis pela retirada de mais de um
quarto de vertebrados terrestres do planeta. Foram levados em
consideração apenas os impactos diretos e não os indiretos, como
introdução de espécies exóticas, perda de habitat e poluição –
para todos esses fatores, as rodovias são um importante vetor. Além
disso, a porcentagem de animais atropelados vem aumentando com o
tempo, o que pode ser resultado do crescimento da malha rodoviária
no mundo todo.
Os pesquisadores buscaram por
estudos de 1970 a 2018 referentes a todos os grupos taxonômicos de
vertebrados. O resultado foi 1.114 trabalhos. Desses, foram
documentadas 42.755 mortes com causas conhecidas, das quais 28% eram
relativas a atividades humanas e 72% a causas naturais. A maior causa
de mortalidade foi a predação com 55% dos animais, seguido pela
caça legal com 17%. As outras causas, como atropelamento, caça
ilegal, fome, doenças e acidentes, somaram menos de 10% do total da
mortalidade.
De todos os grupos taxonômicos de
vertebrados, o que apresentou maior morte por atropelamento foram os
répteis adultos. Isso demonstra claramente a intenção do motorista
em atropelar esses animais quando identificados na rodovia. O estudo
também demonstrou que aves e mamíferos maiores são mais propensos
a serem atropelados do que espécies menores ou indivíduos juvenis.
Outra constatação foi a de que aves carnívoras são mais propensas
a serem atropeladas do que aves onívoras.
Os resultados encontrados pelos
pesquisadores não parecem ser alarmantes em relação ao
atropelamento de fauna. Mas considerando que a maioria dos estudos
ocorre no Estados Unidos e que tem como foco animais de grande porte,
principalmente mamíferos, podemos imaginar que a magnitude de
mortalidade causada por ações antrópicas e principalmente pelas
rodovias é muito maior do que a relatada – ainda mais quando
falamos em animais pequenos. No Brasil, por exemplo, a maior parte da
fauna é de pequeno porte e há poucos estudos que usam telemetria
para determinar a causa-morte dos animais, apesar de a carnificina
nas estradas brasileiras ser bem relatada.
Figura adaptada do artigo Hill,
DeVault e Belant 2018, mostrando a proporção da mortalidade para
cada causa avaliada.
Fonte: ENVOLVERDE
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