Apicultores brasileiros encontram meio bilhão de abelhas mortas em três meses.
Por Pedro Grigori – Agência
Pública / Repórter Brasil
Casos foram detectados no Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Análises
laboratoriais identificaram agrotóxicos em cerca de 80% dos enxames
mortos no RS.
Albert Einstein previu no século
passado que, se as abelhas desaparecessem da superfície da Terra, o
homem teria apenas mais quatro anos de vida. A morte em grande escala
desse animal, interpretada como apocalíptica na época, é hoje um
alerta real. Desde o começo do século, casos de morte e sumiço de
abelhas são registrados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil,
estudiosos destacam episódios alarmantes a partir de 2005.
Agora, o fenômeno parece chegar ao
ápice. Nos últimos três meses, mais de 500 milhões de abelhas
foram encontradas mortas por apicultores apenas em quatro estados
brasileiros, segundo levantamento da Agência Pública e
Repórter Brasil. Foram 400 milhões no Rio Grande
do Sul, 7 milhões em São Paulo, 50 milhões em Santa Catarina e 45
milhões em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de Associações
de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por
universidades.
O principal causador, afirmam
especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela reportagem, é
o contato com agrotóxicos à base de neonicotinoides e de Fipronil,
produto proibido na Europa há mais de uma década. Esses
ingredientes ativos são inseticidas, fatais para insetos, como é o
caso da abelha, e quando aplicados por pulverização aérea se
espalham pelo ambiente.
Impacto nos polinizadores faz Ibama
reavaliar registro de quatro ingredientes ativos (Foto: Pixabay).
As abelhas são as principais
polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor
em flor, elas polinizam e promovem a reprodução de diversas
espécies de plantas. No Brasil, das 141 espécies de plantas
cultivadas para alimentação humana e produção animal, cerca de
60% dependem em certo grau da polinização deste inseto. Segundo a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação
humana no mundo dependem das abelhas.
Em Cruz Alta, município de 60 mil
habitantes no Rio Grande do Sul, mais de 20% de todas as colmeias
foram perdidas apenas entre o Natal de 2018 e o começo de fevereiro.
Cerca de 100 milhões de abelhas apareceram mortas, segundo a
Apicultores de Cruz Alta (Apicruz). “Apareceram uns venenos muito
bravos. Eles colocam de avião de manhã e à tarde as abelhas já
começam a aparecer mortas”, relata o apicultor Salvador Gonçalves,
presidente da Apicruz.
No Brasil, há seis espécies de
abelhas nativas — Melipona scutellaris, Melipona
quadrifasciata, Melipona fasciculata, Melipona rufiventris,
Nannotrigona testaceicornis, Tetragonisca angustula – e mais
de 3 mil estrangeiras. A maioria delas não tem ferrão, ou tem o
órgão atrofiado.
Cada espécie é mais propícia para
polinização de determinadas culturas. Por exemplo, a
Mamangaba, conhecida popularmente como abelhão, é a principal
responsável pela polinização de maracujá. “O que aconteceria se
esse inseto fosse extinto? Ou deixaríamos de consumir essas frutas,
ou elas ficariam caríssimas, porque o trabalho de polinização para
produzi-la teria que ser feito manualmente pelo ser humano”,
explica Carmem Pires, pesquisadora da Embrapa e doutora em Ecologia
de Insetos.
A estudiosa conta que até em
lavouras que não são dependentes da ação direta dos
polinizadores, a presença de abelhas aumenta a safra. “Na de soja,
por exemplo, é identificado um aumento em 18% da produção. É
importante destacar também o efeito em cadeia. As plantas precisam
das abelhas para formar suas sementes e frutos, que são alimento de
diversas aves, que por sua vez são a dieta alimentar de outros
animais. A morte de abelhas afeta toda a cadeia alimentar”.
Agrotóxicos inimigos das
abelhas
Os principais inimigos das abelhas
são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas
derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid
e o Tiametoxam. A diferença para outros venenos é que ele tem a
capacidade de se espalhar por todas as partes da planta. Por isso,
costuma ser colocado na semente, e tudo acaba com vestígios: flores,
ramos, raízes e até no néctar e pólen. Eles são usados em
diversas culturas como de algodão, milho, soja, arroz e batata.
Além dos neonicotinoides, há casos
de mortandade relacionados também ao uso de agrotóxicos à base de
Fipronil, inseticida que age nas células nervosas dos insetos e,
além de utilizado contra pragas em culturas como maçã, soja e
girassol, é usado até mesmo em coleiras antipulgas de animais
domésticos. Muitas vezes esse veneno é aplicado em pulverização
aérea, o que o expõe diretamente às abelhas. Segundo pesquisa
produzida pela
Embrapa em 2004, 19% do agrotóxico manejado através do método
de pulverização aérea é dispersado para áreas fora da região de
aplicação.
Dentro da colmeia as abelhas vivem
em sociedades organizadas, com papéis claros. Elas se dividem em
castas — rainha, operárias e zangões. A primeira delas é a única
fêmea fértil, é quem coloca os ovos —cerca de 2,5 mil por dia.
Os zangões são os machos e têm como papel fecundar a rainha. Já
as operárias são as fêmeas responsáveis por praticamente tudo
dentro da colmeia: limpeza, coleta de néctar e pólen,
alimentação das larvas (abelhas não adultas), elaboração do mel
e defesa do lar. A depender do tamanho da caixa e das condições
climáticas, uma única colmeia pode abrigar até 100 mil abelhas.
A morte dos polinizadores por
contato com os agrotóxicos pode ocorrer de vários modos. O mais
comum é quando a operária sai para a polinização. Muitas acabam
morrendo na hora, outras ficam desorientadas e infectadas. A partir
daquele momento elas tentam voltar a colmeia, mas muitas não
resistem ao caminho. As que conseguem voltar acabam infectando toda
colmeia — o enxame acaba morto em pouco mais de um dia.
Casos cada vez mais agudos
Não existem números oficiais de
mortes de abelhas no país, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Porém,
associações de apicultores e órgãos ligados à secretarias
estaduais de Agricultura fazem levantamentos próprios.
Entre dezembro do ano passado e
fevereiro de 2019, pelo menos 500 milhões de abelhas foram
encontradas mortas apenas nos estados de Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, segundo apurou a
reportagem. Mas o número pode ser muito maior, já que é impossível
contabilizar as mortes de abelhas silvestres – aquelas que não são
criadas por apicultores.
A maioria dos casos recentes ocorreu
no Rio Grande do Sul, onde, segundo a Câmara Setorial de Apicultura
da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do
estado, foram 400 milhões de baixas desde dezembro do ano passado. O
estado é o maior produtor apícola do país, com mais de 400 mil
colmeias, de acordo com a Emater. A produção de mel supera 6 mil
toneladas por safra, cerca de 15% do total brasileiro.
A
reportagem identificou casos de mortandade de
abelhas
em pelo menos dez estados brasileiros desde
2005.
A Secretaria recebeu comunicados de
óbitos em 10 municípios: Jaguari, Sant’Ana do Livramento,
Alegrete, Santiago, Livramento, Bagé, Mata, Cruz Alta, Boa Vista do
Cadeado, Santa Margarida. Isso significou mais de 1% das criações
de abelhas dizimadas. “O estado tem cerca de 463 mil colmeias.
Dessas, cerca de 5 mil foram completamente perdidas. O prejuízo está
em torno de 150 toneladas de mel”, conta Aldo Machado dos Santos,
coordenador da Câmara Setorial de Apicultura gaúcha.
Por meio de notícias da imprensa,
investigações do Ministério Público e estudos científicos, a
reportagem identificou casos de mortandade de abelhas em pelo menos
dez estados brasileiros desde 2005: Ceará, Distrito Federal, Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
O engenheiro agrônomo e professor
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Aroni Sattler é
especialista em sanidade das abelhas e trabalha na área desde 1973.
Segundo ele, casos de mortes de enxames se tornaram mais recorrentes
na última década. “Devido ao meu trabalho, sempre recebi amostras
de abelhas para análises, e vim percebendo que cada vez mais não
havia sinais de doenças nos insetos que explicassem mortandades tão
agudas”, explica.
Número de apicultores em Cruz Alta
caiu pela metade na última década, conta o presidente da Apicruz,
Salvador Gonçalves. Prejuízo com abatimento dos enxames é a
principal causa (Foto: Pedro Grigori/Agência Pública).
No ano passado, ele foi procurado
pelo Bioensaios, um laboratório privado, para orientar um trabalho
sobre coleta de amostras em casos de mortandade. Foram analisados 30
casos de grandes baixas em enxames no Rio Grande do Sul. Os
resultados mostram que cerca de 80% ingeriram ou tiveram contato com
Fipronil antes de sucumbir. “Pelos sinais clínicos e pelo
histórico apresentado pelos apicultores, percebemos que os
agricultores da região misturavam o Fipronil no tanque junto com
dessecantes desde o preparo do solo, passando pela fase vegetativa do
cultivo e depois na hora da colheita. Se trata de um inseticida, e as
abelhas são um tipo de inseto, por isso o ingrediente é bastante
tóxico para elas”, detalha.
O especialista aponta que, mesmo
naquelas que não apresentaram vestígio dos agrotóxicos, pode ter
ocorrido contato. “Nos outros 20% é notado que a coleta das
amostras não foi feita adequadamente, ou foi feita em um período
muito longo após a mortandade, o que dificulta a identificação dos
tóxicos”.
Quem é o culpado?
Desde que começou a fazer análises
de abelhas mortas, o engenheiro agrônomo Aroni Sattler emitiu 30
laudos para apicultores do Rio Grande do Sul que comprovam o contato
dos insetos com pesticidas. A partir daí eles podem levar os casos à
Justiça e buscar ressarcimento. O especialista alerta para um risco
ainda maior, o das abelhas nativas silvestres, pois não há como
enumerar quantas estão morrendo e nem denunciar quem aplicou o
veneno. “O impacto do uso desses agrotóxicos atinge um raio de 3 a
5 quilômetros das lavouras. Tudo no entorno desaparece”, afirma.
Aroni Sattler destaca também que
muitas vezes os desastres ocorrem por falta de informação. “Há
casos de mortandade que acontecem porque os agricultores utilizam o
agrotóxico de modo errado, ou até mesmo, por falta de conhecimento,
eles acham que a abelha prejudica a lavoura e passam veneno”.
O coordenador da Câmara Setorial de
Apicultura do Rio Grande do Sul, Aldo Machado, afirma que há
necessidade de um trabalho de conscientização: “Precisamos de
agrônomos nos campos, acompanhando essas aplicações, vendo se está
sendo feito conforme a bula”.
MPF investiga mortes de abelhas em 4
estados e no distrito federal (Foto: Pixabay).
Sobre realizar as denúncias, ele
explica que o canal indicado são as defensorias agrícolas ligadas
às secretarias estaduais ou municipais. Além disso, é aconselhável
informar a Polícia Militar Ambiental e fazer um boletim de
ocorrência na Polícia Civil. “O apicultor tem que vencer o medo e
denunciar.
Há dois anos, após um grande surto de casos no Rio
Grande do Sul, fizemos um levantamento e só existiam dois registros
de denúncia. Sabíamos que estava ocorrendo mais, mas sem denúncia
não se torna oficial para o Governo”. Só em Cruz Alta, segundo a
Associação dos Apicultores de Cruz Alta (Apicruz), 810 colmeias
foram totalmente perdidas entre 2015 e 2016 – cerca de 50 milhões
de abelhas. Porém, no último trimestre a Apicruz estima que o
número de abelhas mortas ultrapasse 100 milhões no município.
Mas, mesmo em casos onde há um
laudo que prove a relação das mortes com agrotóxicos, é difícil
conseguir identificar um culpado, afirma Aldo Machado. “Em Cruz
Alta, por exemplo, há diversos produtores de soja. Existe a
dificuldade de provar quem colocou esse princípio ativo na lavoura.
Em muitos casos, diversos produtores utilizam o agrotóxico, aí fica
difícil encontrar um culpado para cada caso específico”, pontua.
De acordo com a Lei Federal
7.802/89, a Lei dos Agrotóxicos, quem deve fazer a fiscalização do
uso são os órgãos estaduais. Portanto, todo problema decorrente do
uso desses químicos deve ser informado às secretarias de Meio
ambiente ou de Agricultura dos estados.
“Agricultores
utilizam o agrotóxico de modo errado,
eles
acham que a abelha prejudica a lavoura e passam
veneno”,
diz engenheiro agrônomo Aroni Sattler.
Há base legal para considerar a
morte de abelha como crime ambiental. De acordo com o artigo 56 da
Lei de Crimes Ambientais é crime “Produzir, processar, embalar,
importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar,
guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo
com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos”.
Porém, segundo o Ibama há grande
dificuldade para comprovar que a mortalidade se deu pelo uso em
desacordo com as instruções autorizadas no registro. “Quando isso
fica comprovado – uso onde não devia, na quantidade que não
devia, na época que não devia, usando equipamento que não devia e
causando a mortalidade – aí se enquadra no artigo e se trata de
crime ambiental”, informa o Instituto, através da assessoria de
imprensa.
Milhões de mortes também
em São Paulo – e por agrotóxicos
Testes laboratoriais apontaram o
contato com agrotóxico como causador da morte de abelhas também no
estado de São Paulo, onde a produção de mel chega a 3,7 mil
toneladas por safra – cerca de 10% do total nacional. Entre 2014 e
2017, uma pesquisa com a participação da Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFScar)
realizou um mapeamento sobre os fatores que contribuem para a perda
de enxames. Em 78 cidades, os pesquisadores contabilizaram 107
produtores que sofreram com perdas de colmeias. Em três anos eles
relataram que cerca de 255 milhões de abelhas morreram.
O professor e pesquisador da Unesp
Rio Claro Osmar Malaspina, um dos responsáveis pelo trabalho, diz
que os casos em São Paulo vêm acontecendo desde 2005. “Eles se
acentuam a partir de 2012, e até aquele momento os apicultores não
sabiam como, mas todas as abelhas passavam a morrer do nada e em
menos de 24 horas. A grande suspeita era de agrotóxicos, mas até
aquele momento não tínhamos uma análise para provar isso”.
O projeto começou em 2013 com
patrocínio de empresas produtoras de agrotóxicos. Batizado de
Colmeia
Viva, o projeto recebeu um telefone 0800 para denúncias. Quando
uma abelha morria, o apicultor ligava e fazia a queixa. “Após a
análise, entregamos um laudo para cada criador, que era público. E
ele poderia usá-lo para entrar com ação na Justiça”, explica.
Pesticidas que causaram extermínio
no Brasil já estão banidos na União Europeia (Foto: Pixabay).
O relatório
do mapeamento foi lançado no ano passado com conclusões
voltadas para a criação de um plano de ação nacional para boas
práticas de aplicações de agrotóxicos. O objetivo é manter uma
relação produtiva entre a agricultura e a apicultura, sem que
nenhuma das duas áreas saia enfraquecida.
A iniciativa contou com 222
atendimentos voltados a apicultores, das quais 107 originaram visitas
ao campo. Em 88 ocorreram coletas de abelhas para análise focada na
relação com a aplicação de agrotóxicos. Em 59 casos – cerca de
67% – o resultado foi positivo para resíduos de pesticidas. Em 27
casos, a hipótese é que a aplicação de tóxico tenha sido feita
fora da lavoura onde a colmeia fica, e em 21 casos a suspeita é de
uso incorreto dentro da própria residência (11 destes foram
causados por produtos à base de neonicotinoides e 10 à base de
Fipronil).
O grupo também fez um trabalho
educativo com agricultores, ensinando modos de aplicação de
pesticidas que diminuam o impacto em abelhas. “Nos últimos meses
estamos percebendo uma queda nas ocorrências de mortandade, mas
ainda temos que esperar mais alguns anos para fazer um novo estudo
que confirme isso e nos mostre os motivos”, explica. Nos últimos
dois meses as baixas em colmeias foram reduzidas para cerca de 25.
Reavaliação de
agrotóxicos
Em decorrência dos casos de
mortandade de abelhas, o Ibama deu início em 2012 à reavaliação
de diversos ingredientes químicos usados em plantações. O primeiro
está sendo o neonicotinoides Imidacloprid, o mais usado do grupo.
Empresas declararam ao Ibama a comercialização de 1.934 toneladas
de Imidacloprido só em 2010. Simultaneamente, o Instituto está
reavaliando também os neonicotinoides Clotianidina e o Tiametoxam, e
ao fim dos três processos iniciará os testes com o Fipronil.
Em 19 de julho de 2012 o Ibama
chegou a proibir a pulverização aérea do ingrediente ativo
Imidacloprid. O órgão determinou também que todos os produtos
deveriam conter nas embalagens o seguinte aviso: “Este produto é
tóxico para abelhas. A aplicação aérea NÃO É PERMITIDA. Não
aplique este produto em época de floração, nem imediatamente antes
do florescimento ou quando for observada visitação de abelhas na
cultura. O descumprimento dessas determinações constitui crime
ambiental, sujeito a penalidades”. Porém, o Ministério da
Agricultura alegou que a aplicação aérea do Imidacloprid era
imprescindível para determinadas culturas. Com isso, três meses
depois, ficou autorizada a pulverização para culturas de arroz,
cana-de-açúcar, soja, trigo e algodão.
Tendo em vista que os agrotóxicos
mais nocivos às abelhas estão sendo reavaliados, passando agora
pela Avaliação de Risco, o Ibama criou em 2015 um Grupo Técnico de
Trabalho para discutir os procedimentos a serem adotados para
proteger especificamente as abelhas. O grupo se reúne bimestralmente
e conta com 13 participantes vindos do setor acadêmico, da Embrapa,
da Indústria e também do Ministério do Meio Ambiente. Sua missão
é propor uma avaliação obrigatória de risco de agrotóxicos
para abelhas. Porém, não há previsão de quando isso ocorrerá.
Ministério Público
Federal cobra respostas
Há procedimentos em curso sobre a
morte de abelhas em cinco procuradorias estaduais, no Distrito
Federal, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul,
segundo a Procuradoria-Geral da República. A Agência
Pública teve acesso a documentos relativos a dois
desses casos.
No Rio Grande do Sul, há uma ação
civil pública tramitando na 9ª Vara Federal de Porto Alegre. A ação
foi ajuizada em outubro de 2017 contra o Ibama, para obrigar a
autarquia a concluir no prazo de seis meses o processo de reavaliação
da substância Imidacloprid.
Porém, o Ibama afirma que terá
dificuldade de concluir o processo administrativo nesse prazo.
Segundo um memorando, o órgão está construindo diversos protocolos
de testes, por se tratar de avaliações ainda inéditas no país. A
equipe que realiza as reavaliações é composta por apenas cinco
analistas ambientais: três biólogos, um químico e um zootecnista.
Confira a publicação na íntegra aqui.
O Ibama
chegou a proibir a pulverização aérea do
Imidacloprid,
mas o Ministério da Agricultura alegou
que a
aplicação era imprescindível para determinadas
culturas.
Em Mato Grosso do Sul, a Associação
de Produtores de Mel de Dourados entrou com uma representação
protocolada em março de 2018 pedindo investigação do MPF/MS. Na
justificativa, a associação afirma que os apicultores estão
perdendo sua renda e produção por causa das mortes de abelhas “pelo
uso indiscriminado e abusivo de agrotóxico nas lavouras de cana de
açúcar, soja, milho, arroz e outras culturas agrícolas”.
A representação deu origem a uma
Notícia de Fato, uma demanda encaminhada aos órgãos para
investigação, e agora o MPF de Mato Grosso do Sul avalia se vai
instaurar ou não um procedimento próprio.
Leis para reduzir
pesticidas e salvar as abelhas
20 de maio é o Dia Mundial das
Abelhas, data criada para lembrar a importância desses insetos para
a produção de alimentos em escala global. Elas não são as únicas
agentes polinizadoras — pássaros, morcegos, esquilos, besouros e
diversos outros contribuem para a reprodução das plantas – mas o
grande número e espécies de abelhas as colocam no papel principal.
Para defendê-las, a FAO/ONU, em
parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), elaborou o
Código Internacional de Conduta para o Manejo de Pesticidas. A
organização destaca, entretanto, que sem a diminuição do uso de
agrotóxicos as abelhas continuarão em risco. “Não podemos
continuar nos concentrando em aumentar a produção e a produtividade
com base no uso generalizado de pesticidas e produtos químicos que
ameaçam os cultivos e os polinizadores”, alertou o diretor-geral
da agência da ONU, José Graziano da Silva.
A passos lentos, alguns países vão
adotando leis para salvar os zangões, rainhas e operárias. O
Fipronil já é proibido em toda a União Europeia há mais de uma
década. Em 2004, ele foi banido da França após ações que
denunciavam o impacto do veneno — naquele ano, cerca de 40% dos
insetos criados nos apiários franceses foram encontrados mortos. Os
neonicotinoides entraram em discussão logo depois. Em 2013 tiveram
os registros congelados por dois anos, e em 2018 veio o banimento
permanente.
Até os Estados Unidos caminham na
mesma direção. Em 2013, um relatório do Departamento de
Agricultura americano (USDA) mostrou que quase um terço das abelhas
de colônias do país morreram durante o inverno de 2012/2013. No ano
seguinte, o então presidente americano Barack Obama proibiu o uso de
neonicotinoides em áreas de vida selvagem.
Esta reportagem faz parte do projeto
Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter
Brasil para investigar o uso de agrotóxicos. A cobertura completa
está no site
do projeto.
Fonte:
ENVOLVERDE
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