quinta-feira, 27 de setembro de 2018


Melhora a transparência da gestão ambiental em Mato Grosso.


Portal da Transparência da Sema-MT é um marco para a atuação conjunta da sociedade civil e órgãos públicos.

O acesso à informação ambiental ganhou um importante mecanismo em Mato Grosso: o Portal da Transparência da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, lançado nesta semana. Para o Instituto Centro de Vida, o Portal é uma conquista, resultado de mais de 10 anos de articulação de várias organizações da sociedade civil e órgãos públicos pela transparência.

>> Veja os Boletins Transparência Florestal desde 2006

Um avanço é a disponibilização das autorizações de desmate como dados geoespaciais, que podem ser usados por Sistemas de Informações Geográficas. Com isso, Mato Grosso é o único Estado da Amazônia Legal que facilita o uso destas informações pela sociedade civil, órgãos públicos e setor privado. A disponibilização dessa base de dados em formato espacial possibilita diferentes cruzamentos e análises, como identificar onde a floresta foi derrubada de forma ilegal.

“A partir de agora, a informação sobre quem desmata com a devida autorização do órgão ambiental está completamente transparente. Isso é um elemento fundamental para que a sociedade, empresas e outros órgãos públicos implementem mecanismos para combater o desmatamento ilegal”, aponta Ana Valdiones, especialista do ICV.

Mato Grosso também aumentou a transparência das informações sobre o Cadastro Ambiental Rural. 

No Portal da Transparência toda a base de dados do CAR está disponível, incluindo informações sobre a situação dos cadastros quanto a análise e validação. Também é possível visualizar os recibos de inscrição e os Termos de Compromisso que foram firmados. Com isso, a Sema volta a ter um papel de destaque na transparência desses dados,  atendendo a um dos objetivos do CAR estabelecidos no Código Florestal, que é de disponibilizar informações sobre a regularização ambiental dos imóveis rurais.

“Nós passamos os últimos 10 anos recomendando uma série de medidas que o Estado deveria tomar para melhorar a transparência da informação ambiental. Ficamos muito felizes de ver boa parte de nossas recomendações sendo postas em prática pelo Poder Público.” avalia Alice Thuault, diretora adjunta do ICV.

Alice destaca também outros instrumentos que foram chave para esta conquista, como o Ranking da Transparência Ambiental do Ministério Público Federal e a Ação Civil Pública do Ministério Público Estadual de Mato Grosso sobre a publicidade de informações ambientais.

Aprimoramento constante


Na visão do ICV, todo instrumento de política pública tem espaço para aprimoramento constante. 

Para o Portal da Transparência da Sema-MT, o ICV ainda recomenda inclusão de bases de dados e ajustes na forma de acesso às informações.

Por exemplo, a base de dados de Autorização Provisória de Funcionamento Rural (APF) poderia ser acrescentada ao Portal, e listas como os desembargo que se encontram em PDF poderiam ser alterados para formatos que facilitam a utilização dos dados.

O Portal da Transparência da Sema-MT está disponível no endereço: http://transparencia.sema.mt.gov.br/


Fonte: ICV

ICV elabora mapa do desmatamento de Mato Grosso.

Este é o primeiro ano em que conseguimos fazer um mapa do desmatamento quase completo para Mato Grosso com os dados federais. Com a divulgação dos números do Prodes para o Cerrado, foi possível fazer este mapa mostrando a concentração de desmatamento em quase todo o estado. Ainda falta o Governo Federal prover dados sobre o Pantanal, para termos uma fotografia completa.

Dois pontos são preocupantes. O tamanho: 2,3 mil km² de áreas desmatadas em 2017, o equivalente a 230 mil campos de futebol ou uma vez e meia a cidade de São Paulo. E o índice de ilegalidade: 93% foi deste desmatamento feito sem a devida autorização da Sema-MT.
Visualizar as áreas de concentração do desmatamento é uma ferramenta importante para o Poder Público e para a sociedade. Órgão ambientais podem utilizar de forma mais eficiente os recursos de fiscalização e monitoramento. Empresas podem avaliar melhor as jurisdições onde fazem negócios e apoiar as zonas livres de desmatamento. Sociedade pode acompanhar mais de perto o que está acontecendo nos municípios.
Confira as análises:


Fonte: ICV

Sem um ‘choque de gestão’ e ‘uma ação conjunta entre entes públicos e privados’ será impossível eliminar o desmatamento ilegal.

Sem choque de gestão é impossível eliminar o desmatamento ilegal. Entrevista especial com Ana Paula Valdiones

IHU

Sem um “choque de gestão” e “uma ação conjunta entre entes públicos e privados” será impossível eliminar o desmatamento ilegal em Mato Grosso, meta que deveria ser cumprida até 2020 segundo o acordo firmado na COP-21, adverte Ana Paula Valdiones, analista de Gestão Ambiental do Instituto Centro de Vida, na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.

Segundo ela, o aumento do desmatamento no estado entre 2014 e 2017 evidencia que “as ações que estão sendo realizadas até o momento para conter o desmatamento não estão sendo suficientes”. Ela informa que, do total de vegetação derrubada em 2017, “98% não detinha autorização do órgão ambiental estadual para desmatar” e que “46% da área do Cerrado desmatada estava coberta por pastagem, 44% por agricultura e 10% é um mosaico de agricultura e pastagem”.

Para reforçar o quadro de desmatamento, afirma, “o governo do estado sancionou uma lei (Lei Estadual nº 10.713/2018) que permite novos desmatamentos na Área de Proteção Ambiental das Cabeceiras do Rio Cuiabá”. Embora a legislação esteja suspensa pelo Ministério Público, essa é mais uma medida que dificulta o alcance das metas assumidas na COP-21 e é uma sinalização positiva para aqueles que desmataram ilegalmente. “Essa medida também diminui o grau de proteção de uma das poucas Unidades de Conservação – UC de Mato Grosso no Cerrado. As Ucs no estado protegem apenas 6% da área original do bioma Cerrado. Excetuando-se as Áreas de Proteção Ambiental – APA, categoria que conta com menor proteção e permite na maioria das unidades a exploração agropecuária, Mato Grosso possui menos de 2% do Cerrado protegido por Unidades de Conservação”, pontua.

Na avaliação de Ana Paula, o desmatamento ilegal em Mato Grosso é facilitado pela não implementação de acordos como a moratória da soja e os TACs da pecuária no estado. “Os acordos de cadeias para combater o desmatamento como a moratória da soja e os TACs da pecuária ainda não abrangem o bioma Cerrado, e se mantêm olhando exclusivamente para Amazônia. (…) É necessário que outras bases de dados chaves, como a Guia de Trânsito Animal, que registra a movimentação comercial do gado entre fazendas, também sejam disponibilizadas na íntegra para possibilitar o monitoramento de toda a cadeia, por meio do cruzamento entre diferentes bases de dados”.

Ana Paula Valdiones é graduada em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo – USP e mestra em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política da USP. Atualmente, é analista de Gestão Ambiental do Instituto Centro de Vida.
Confira a entrevista.

IHU On-Line – Segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, entre agosto de 2016 e julho de 2017, o desmatamento no Cerrado foi de 7,4 mil km². E entre 2014 e 2017, o desmatamento subiu 24% somente em Mato Grosso. Qual é o significado do aumento do desmatamento na região, considerando a atual situação do Cerrado?

Ana Paula Valdiones – Nossa análise foi apenas de Mato Grosso e a comparação com o bioma Cerrado como um todo, que envolve 11 estados e o DF. Mas não analisamos a dinâmica de desmate nos outros estados individualmente. Assim, sabemos que em Mato Grosso o desmatamento aumentou entre 2014 e 2017, enquanto o desmatamento total no bioma diminuiu nesse mesmo período. O aumento no estado demonstra que as ações que estão sendo realizadas até o momento para conter o desmatamento não estão sendo suficientes. Os órgãos ambientais responsáveis pelo combate ao desmatamento não estão conseguindo ser efetivos na dissuasão da derrubada ilegal da vegetaçãonatural, bem como os mercados ainda não estão cumprindo seus compromissos de eliminar o desmatamento de sua cadeia de fornecimento (notadamente soja e pecuária) evitando compras de produtos oriundos do desmatamento ilegal que ameaça esse bioma.

IHU On-Line – Como você avalia, de outro lado, a contestação desses dados do desmatamento pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso – Sema-MT, segundo a qual o desmatamento foi de 7,9% entre 2014 e 2017?

90% desse desmatamento recente se concentrou majoritariamente em grandes e médios imóveis rurais cadastrados no CAR – Ana Paula Valdiones.

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Ana Paula Valdiones – Estamos nos referindo a duas informações que são “medidas” de formas diferentes. O Inpe, que é o órgão federal responsável, dentre outras atribuições, pelo monitoramento do desmatamento nos diferentes biomas, tem uma metodologia diferente daquela empregada pela Sema. Seria interessante que o próprio órgão ambiental estadual, que é o responsável pela metodologia e pela produção da informação, explicitasse as divergências metodológicas ao contestar os dados federais, deixando mais claras as limitações e pontos fortes de cada metodologia.

IHU On-Line – Em que regiões de Mato Grosso o desmatamento do Cerrado é maior?

Ana Paula Valdiones – Assim como na Amazônia mato-grossense, o desmatamento no Cerrado também está bastante concentrado. 53% de todo o desmatamento de 2017 se concentrou em 10 municípios, dentre eles Nova Nazaré, Ribeirão Cascalheira e Cocalinho.

IHU On-Line – Quais são as implicações do desmatamento para o Cerrado como um todo?

Ana Paula Valdiones – O Cerrado é o segundo maior bioma do país e o mais rico em biodiversidade. O bioma presta serviços diversos à sociedade, como a manutenção da quantidade e qualidade de água, regulação do clima, conservação da biodiversidade e oferta de alimentos. Além disso, dele dependem diversas populações tradicionais, que compõem o patrimônio histórico e cultural brasileiro. Contudo esse desmatamento ameaça a continuidade da prestação desses serviços ecossistêmicos, inclusive aqueles essenciais ao agronegócio, que reduzem as possibilidades de quebras de safras, como a provisão de água e regulação climática, e coloca em risco a subsistência dos povos e comunidades tradicionais e tem impactos irreversíveis sobre a biodiversidade.

IHU On-Line – O levantamento do Instituto Centro de Vida – ICV também aponta que 46% do Cerrado foi convertido em outros usos. Quais são eles?

Ana Paula Valdiones – Segundo os dados do Mapbiomas, em 2017, 46% da área do Cerrado desmatada estava coberta por pastagem, 44% por agricultura e 10% é um mosaico de agricultura e pastagem.

IHU On-Line – Que fatores têm contribuído para o desmatamento do Cerrado e para a conversão do bioma em outros usos? Há um incentivo para a expansão do agronegócio no estado? Isso tem um impacto no Cerrado?

Ana Paula Valdiones – As ações de desincentivo (dissuasão) do desmatamento ilegal ainda são insuficientes. Do total de vegetação derrubada em 2017, 98% não detinha autorização do órgão ambiental estadual para desmatar. A capacidade de fiscalização do estado ainda é limitada perante o desafio de combater o desmatamento ilegal. É necessário implementar ferramentas mais eficientes e ampliar a transparência de informações fundamentais para o controle ambiental, possibilitando que toda a sociedade possa contribuir para o monitoramento e combate ao desmatamento. Um passo importante foi dado nesse sentido semana passada (19/09), com o lançamento do Portal da Transparência da Sema.
Bioma Cerrado (Foto: Todo Estudo)

Além disso, incentivos econômicos para se conservar a floresta em pé ainda não foram implementados. Aqueles produtores com áreas de vegetação superior ao exigido pela lei não têm hoje mecanismos financeiros que tornem atrativa a manutenção dessas áreas com vegetação excedente.

IHU On-Line – O estado de Mato Grosso se comprometeu em eliminar o desmatamento ilegal até 2020 para atender as metas da COP-21. Qual é a possibilidade de essa meta se concretizar?

Os acordos de cadeias para combater o desmatamento como a moratória da soja e os TACs da pecuária ainda não abrangem o bioma Cerrado, e se mantêm olhando exclusivamente para Amazônia – Ana Paula Valdiones

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Ana Paula Valdiones – A não ser que ocorra um choque de gestão e uma ação conjunta entre entes públicos e privados, infelizmente será muito difícil atingir essa meta no prazo. A ilegalidade na abertura de novas áreas é muito alta. Em 2017, 98% de tudo que foi aberto no Cerrado e 89% do total desmatado na Amazônia foi ilegal.

IHU On-Line – Recentemente você mencionou que dois decretos não favoreceram a proteção das Áreas de Proteção Ambiental – APA do Rio Cuiabá e das planícies do Guaporé e do Araguaia. Pode nos dar algumas informações sobre que decretos são esses e quais suas finalidades?

Ana Paula Valdiones – Recentemente o governo do estado sancionou uma lei (Lei Estadual nº 10.713/2018) que permite novos desmatamentos na Área de Proteção Ambiental das Cabeceiras do Rio Cuiabá. A medida, que está suspensa pelo Ministério Público, significa um retrocesso em relação aos compromissos firmados na COP-21. Além de ser uma sinalização positiva para novos desmatamentos e um afrouxamento para aqueles que já desmataram ilegalmente, essa medida também diminui o grau de proteção de uma das poucas Unidades de Conservação – UC de Mato Grosso no Cerrado. As UCs no estado protegem apenas 6% da área original do bioma Cerrado

Excetuando-se as Áreas de Proteção Ambiental – APA, categoria que conta com menor proteção e permite na maioria das unidades a exploração agropecuária, Mato Grosso possui menos de 2% do Cerrado protegido por Unidades de Conservação.

Outro decreto publicado há poucos dias (Decreto Estadual 1.647/2018) retira o uso restrito em regiões do Vale do Araguaia e do Guaporé, que até então tinham restrições semelhantes às áreas do Pantanal. Essa é novamente uma redução na proteção de ecossistemas frágeis.

IHU On-Line – Qual é a situação ambiental das Áreas de Proteção Ambiental do Rio Cuiabá e das planícies do Guaporé e do Araguaia?

40% da APA Cabeceiras do Rio Cuiabá já foi desmatada; 1/3 disso ocorreu após a criação da Unidade de Conservação, ilegalmente – Ana Paula Valdiones

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Ana Paula Valdiones – APA Cabeceiras do Rio Cuiabá foi criada em 1999 e cobre uma área de aproximadamente 462 mil hectares. Localiza-se numa região de extremamente alta prioridade para conservação por estar no divisor das bacias do Rio Cuiabá, Arinos, Teles Pires e Manso. 40% da APA Cabeceiras do Rio Cuiabá já foi desmatada; 1/3 disso ocorreu após a criação da Unidade de Conservação, ilegalmente; 90% desse desmatamento recente se concentrou majoritariamente em grandes e médios imóveis rurais cadastrados no CAR [Cadastro Ambiental Rural]. A área destinada à produção agropecuária no entorno está crescendo e significa uma pressão à manutenção da vegetação remanescente nesta UC. A Lei que permite novos desmatamentos autorizados pode afetar quase 100 mil hectares de Cerrado inseridos na APA e que, até então, estavam sob proteção legal.

Já as áreas úmidas do Guaporé e do Araguaia, assim como outros ecossistemas de interface entre ambientes terrestres e aquáticos, têm um papel importante para o provimento de água e conservação da biodiversidade. Assim, quando o decreto determina “Não se aplicam às planícies alagáveis do Guaporé e do Araguaia as restrições impostas por lei específica ao Pantanal mato-grossense e planície pantaneira do Rio Paraguai”, significa mais uma redução na proteção de ecossistemas frágeis.

IHU On-Line – Por que, na sua avaliação, o Cadastro Ambiental Rural não tem sido suficiente ou efetivo para evitar a compra de produtos oriundos de regiões em que ocorre o desmatamento ilegal?

Ana Paula Valdiones – Os acordos de cadeias para combater o desmatamentocomo a moratória da soja e os TACs [termos de ajustamento de conduta] da pecuária ainda não abrangem o bioma Cerrado, e se mantêm olhando exclusivamente para Amazônia. Recentemente, aumentou significativamente o nível de transparência que temos do CAR no estado de Mato Grosso. É necessário que outras bases de dados chaves, como a Guia de Trânsito Animal, que registra a movimentação comercial do gado entre fazendas, também sejam disponibilizadas na íntegra para possibilitar o monitoramento de toda a cadeia, por meio do cruzamento entre diferentes bases de dados.

Fonte: IHU On-line

Por ano, 33 mil toneladas de alimentos das feiras livres de São Paulo vão para o lixo.

Pesquisa dimensiona desperdício e propõe, entre outras, uma finalidade social para esses alimentos: creches, asilos e escolas públicas.

Por Ivanir Ferreira, Jornal da USP

Os dados sobre desperdício de alimentos no mundo são alarmantes. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas são jogadas fora por ano. O Brasil tem uma grande participação nesta conta porque está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos. Em média, descartamos 50% do que produzimos. Nas feiras livres, é possível se ter uma ideia deste problema. Depois da chamada xepa, milhares de toneladas de frutas, legumes e verduras que poderiam ir para o prato do brasileiro, vão para o lixo. Em São Paulo, este número chega a 33 mil toneladas por ano.  É preciso desenvolver metodologias para mensurar as perdas e o desperdício de alimentos, visando a sensibilizar a sociedade para a problemática.

Uma pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP nos traz informações sobre o montante deste desperdício e o quanto perdemos em nutrientes, em água, em energia e em área agricultável. E melhor, o estudo indica que grande parte destes alimentos poderia ser resgatada e ter, entre outras, uma finalidade social: suprir necessidades de asilos, creches e escolas públicas.

Do total de desperdício de frutas, verduras e legumes que acontece nas feiras livres de São Paulo, as maiores perdas estão relacionadas às folhas. Além dos alimentos, também há perdas de recursos naturais. A pesquisa de Sylmara Lopes, da EACH, avalia o impacto ambiental e apresenta informações sobre o quanto se perde em nutrientes, água, energia e área agricultável. Confira no segundo vídeo:


Das 33 mil toneladas de alimentos descartadas anualmente nas feiras livres de São Paulo, uma grande parcela, que tem ótima qualidade, poderia ser reaproveitada e ter uma finalidade social como o suprimento de alimentos em instituições que atendem pessoas em vulnerabilidade. Além do consumo humano, pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP propõe outras rotas de reaproveitamento: ração animal, geração de energia e compostagem. Veja neste terceiro vídeo:





1ª trilha com trecho para cadeirantes e deficientes visuais na região é inaugurada em Cachoeiras de Macacu, RJ.

Ontem, 25 de setembro, foi inaugurada a trilha Grande Vida, a primeira com trecho adaptado para portadores de necessidades especiais do município de Cachoeiras de Macacu. A iniciativa de criar a trilha, estendendo às pessoas com deficiência, com a contemplação da Mata Atlântica, é do projeto Guapiaçu Grande Vida, realização da REGUA, com o apoio da Prefeitura de Cachoeiras de Macacu e patrocínio da Petrobras.

A trilha receberá placas para interpretação ambiental em todo o seu percurso, o que possibilitará aos professores, condutores e visitantes trabalharem diversos conteúdos em plena Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA). A trilha contará também com um trecho de 400m de acessibilidade, permitindo o acesso de deficientes físicos até o observatório dos alagados. Além disso, haverá um cabo guia por todo o trecho, permitindo que deficientes visuais também aproveitem o trajeto.

O presidente da REGUA, Nicholas Locke, fala sobre a importância da trilha. “Essas áreas de baixadas, pantanosas são formadas pela água da serra e das montanhas, que carrega partículas de areia e material orgânico. Com muitos nutrientes em suspensão, grandes e pequenos animais são atraídos para viver nesse local. Algumas espécies até precisam deste habitat para completar seu ciclo de vida, como camarões e peixes de água doce, atraindo muitas aves e animais de grande porte, como, jacarés e capivaras”.

Segundo ele, a trilha é preparada para levar os visitantes a conhecerem melhor este ambiente. É uma experiência fascinante para entender melhor onde a gente vive e também é uma maneira de despertar a curiosidade dos jovens que começarão a se interessar pelo assunto.

E Locke faz um convite: “Traga binóculos e lupa e veja os seres vivos que vivem nessas áreas alagadas. Perceba as dezenas, centenas ou milhares de espécies e processos que fazem parte da nossa própria existência. Afinal de contas, buscamos entender um mundo em equilíbrio e queremos compreender melhor esses lugares.

O projeto Guapiaçu Grande Vida prevê receber na trilha Grande Vida, nos próximos 14 meses, mais de 1.500 visitantes. “Acreditamos que a trilha fortaleça nossas ações de educação ambiental reforçando o contato com a natureza de forma a sensibilizar jovens para a preservação do meio ambiente. A emoção de estar na trilha interpretativa é muito mais forte do que ver as árvores nas imagens de televisão, dos livros ou da internet”, explica a Coordenadora Tatiana Horta. Por meio dessa atividade é possível passar mensagens ao público de maneira informal, o que permite a participação no processo ensino-aprendizagem de forma mais agradável e consistente.

1ª trilha com trecho para cadeirantes e deficientes visuais na região é inaugurada em Cachoeiras de Macacu, RJ

Fotos: Divulgação Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA)

Fonte: EcoDebate

Pesquisadores investigam técnicas tradicionais de cultivo para viver com escassez de água.

Incêndios florestais, falta de água e quebra de safra – esses foram os efeitos do verão de 2018 em grande parte da Europa. Os cientistas do clima pedem novas políticas agrícolas, dizendo que os agricultores precisam se preparar para maiores extremos de temperatura e clima.


Universitaet Tübingen*

Sistemas de coleta de águas pluviais com terraços para a agricultura em Vilaflor, na ilha canária de Teneriffe. Foto: Laura Dierksmeier.

Pesquisadores do Centro de Pesquisas Colaborativas de Tübingen (SFB) ResourceCultures estão investigando como sociedades agrárias no passado aprenderam a lidar com calor e aridez enquanto ainda produziam alimentos.

“A falta de água é um problema e há muitos exemplos históricos dela”, diz a Dra. Laura Dierksmeier, que está pesquisando economias insulares no início da era moderna como parte de um projeto da ResourceCultures. “Mas, como mostra a história, existem tantas soluções. Podemos encontrar abordagens viáveis para o futuro, olhando para o passado. ”A água como um recurso é um fator importante, aponta Dirksmeier. Sua disponibilidade e distribuição podem, em última instância, sustentar a estabilidade e a cooperação social.

As paisagens Dehesa do sul da Península Ibérica são um excelente exemplo: há milhares de anos, os agricultores de lá tiveram que sobreviver aos longos e secos verões. Em um projeto interdisciplinar, o porta-voz do SFB, professor Martin Bartelheim, e uma equipe de arqueólogos estão trabalhando com antropólogos culturais liderados pelo professor Roland Hardenberg, da Universidade de Frankfurt, para examinar a formação e o uso do Dehesa. Os bosques característicos de carvalhos e oliveiras foram plantados entre 2.800 e 4.000 anos atrás – e sobreviveram a todas as mudanças climáticas desde então. Os animais domesticados nativos – porcos Ibéricos, ovelhas Merino e ovelhas Retinta e caprinos – têm pastado o Dehesa desde a Idade do Bronze. Tanto os animais como a paisagem são ideais para as condições climáticas.

Soluções antigas para o problema do abastecimento de água são o foco dos arqueólogos Dr. Frerich Schön e Hanni Töpfer, liderados pelo professor Thomas Schäfer, em outro projeto que trata de mais de cem cisternas nas ilhas italianas de Linosa e Pantelleria. As cisternas continham entre cinco e 100 metros cúbicos de água. Eles foram cortados na rocha por colonos púnicos do século VIII aC e depois expandidos pelos romanos. Alguns desses poços de armazenamento de água subterrânea ainda estão em uso hoje. Tais sistemas eram essenciais para evitar o transporte de mão-de-obra intensiva, particularmente em áreas com pouca água subterrânea. As cisternas subterrâneas são relativamente fáceis de manter e mantêm a água fresca e limpa. Eles também ajudam a evitar a erosão do solo, recolhendo o excesso de água na chuva pesada.

Os pesquisadores também estão analisando os efeitos da escassez de água a longo prazo nas respectivas sociedades. A historiadora Dra. Laura Dierksmeier, liderada pelos professores Renate Dürr e Jörn Stäcker, está investigando as ramificações econômicas e sociais da escassez de água nas sociedades insulares do final da Idade Média e da Idade Moderna. As ilhas muitas vezes não têm água potável e são, portanto, particularmente vulneráveis.

Dierksmeier encontrou uma conexão clara entre renda e acesso a água limpa. Nas Ilhas Canárias e nas Ilhas Baleares, isso levou a tensões sociais, conflitos e criminalidade. Doenças eclodiram porque não havia água suficiente para higiene pessoal e para manter os hospitais limpos. Crianças e idosos foram os mais afetados. Numa tentativa de melhorar a situação, a água foi alocada a indivíduos em um sistema de cotas. Isso foi feito para garantir que esse recurso escasso chegasse às pessoas que mais precisavam. Mas teve o efeito oposto: um recurso geral lentamente se tornou uma mercadoria a ser vendida pelo maior lance. A “polícia da água” foi introduzida para determinar quem era o dono da água, para verificar a qualidade da água e punir quem a poluísse.


* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

Fonte: EcoDebate

segunda-feira, 24 de setembro de 2018


Rise for Climate uniu o planeta para real condição climática.

No dia 8 de setembro, milhares de pessoas participaram de centenas de ações criativas e coordenadas em todo o mundo sob a bandeira da mobilização internacional ‘Una-se pelo Clima’ (ou Rise for Climate, em inglês). O objetivo é dar visibilidade aos crescentes impactos do aquecimento global ao meio ambiente e às populações, e chamar atenção para a necessidade de uma liderança climática real.

Os ativistas apresentarão soluções lideradas por suas próprias comunidades para a crise do clima, e exigirão mais ambição dos líderes políticos e tomadores de decisão reunidos na Cúpula Global de Ação Climática, que acontecerá no dia 12 de setembro em São Francisco, Califórnia. A mobilização já conta com mais de 470 ações confirmadas, com a participação de mais de 320 grupos e organizações parceiras distribuídas em mais de 70 países.

Nações das ilhas do Pacífico irão demandar às suas instituições locais que se comprometam com energias 100% renováveis; comunidades afetadas na Tailândia marcharão do lado de fora da conferência da ONU sobre mudança climática em Bangcoc para garantir que os negociadores ouçam a mensagem do povo; em toda a África serão realizadas mini-cúpulas climáticas para pressionar os líderes locais a migrar para sistemas de energia justos para todo o continente; na América Latina, diversas comunidades irão se erguer contra o uso de técnicas perigosas de extração de combustíveis fósseis, como o fracking; grupos na Europa também desafiarão suas autoridades locais a abandonar as fontes poluentes e acelerar uma transição justa e rápida para energias 100% renováveis, livres e acessíveis para todos.

Na América Latina e Caribe já foram confirmadas cerca de 40 ações, que vão desde uma grande marcha em Bogotá, Colômbia; um fórum acadêmico na Universidade de Cuenca e um encontro no Parque Calderón, no Equador; uma mobilização nacional indígena em Asunción, no Paraguai; uma bicicletada com centenas de pessoas em Cumaná, na Venezuela; uma reunião internacional sobre os impactos do fracking em Mendoza, Argentina; além de exposições, exibição de filmes, grafite e projeções de artivismo em diversas capitais.

Outras localidades já confirmadas são Rio de Janeiro, Florianópolis e interior de São Paulo, no Brasil; Iquitos e Lima, no Peru; Buenos Aires, Argentina; Salto, no Uruguai; Barranquilla, Cali e Nariño, na Colômbia; Cochabamba e La Paz, na Bolívia; Santiago, Chile; além de ações no Suriname, Haiti e Barbados. As pautas locais vão desde os perigos da exploração de petróleo e gás para comunidades tradicionais e áreas protegidas, riscos do fracking para o Aquífero Guarani e as economias locais, e a proteção de defensores ambientais ameaçados em áreas rurais.

As atividades da mobilização serão altamente visuais e criativas, com a participação de artistas renomados localizados no Brasil, Colômbia, Canadá, Samoa, Nova Zelândia, Ucrânia, Portugal, Holanda, Uganda e Indonésia, bem como grupos comunitários em todo o planeta. A diversidade do movimento mostra que as mudanças climáticas não respeitam barreiras linguísticas, culturais, religiosas ou geográficas, e visa reforçar que é possível construir uma onda de apoio à verdadeira liderança climática, aumentar a pressão sobre os líderes nacionais que estão aquém dos seus compromissos e garantir uma transição rápida para um mundo mais sustentável, equilibrado e justo.

A mobilização Una-se pelo Clima dará o tom para uma série de próximos momentos políticos climáticos globais, e desafiará os tomadores de decisão a tomarem a liderança para si, a fim de achar soluções reais para a crise climática e intensificar suas ações para enfrentá-la.


Fonte: ENVOLVERDE

Inhotim traz discussão sobre biodiversidade artificial, criatividade e a necessidade de sonhar.

por Gisele Paulino, especial para a Envolverde

Evento reuniu personalidades como o australiano John Croft, criador do Dragon Dreaming e Vidhi Jain, da Shikshantar na Índia; o brasileiro Edgard Gouveia mostrou que salvar o mundo pode ser barato e divertido.

Com um conto sobre uma sociedade cyber na qual humanos incorporam objetos e se mesclam com a realidade virtual, a bióloga Brigitte Baptiste, diretora geral do Instituto de Investigação em Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, de Bogotá, na Colômbia, chama atenção para o universo da biodiversidade artificial. A fala aconteceu durante o Seminário Internacional de Educação do Inhotim, realizado de 13 a 15 de setembro.  Em sua quarta edição, o evento se propõe a olhar as transformações dos sujeitos e suas relações com o meio em que vivem.

Baptiste é uma das principais referências em temas ambientais e de biodiversidade de seu país. E ninguém mais adequada para falar do tema. Aos 56 anos, transgênero há  20 anos, sua experiência de transformação pessoal a torna ainda mais sensível para perceber as modificações provocadas pelo homem na natureza.

“Que classe de natureza estamos produzindo a partir dos aparatos tecnológicos da sociedade moderna?” A bióloga faz um alerta às consequências do mundo globalizado, no qual a sociedade faz uso de tecnologias e redes sociais que permitem que o recorte de uma realidade local se torne uma representação global. Em sua fala, Brigitte traz o exemplo de uma foto digital de um puma na qual a imagem do animal aparece distorcida por uma luz de flash estourada. “Uma imagem como esta reconstrói uma realidade. O que vemos aqui é um biopuma. Um biobicho”, diz. É tanta luz em cima do animal que não sabemos mais se esse puma é o mesmo para todo mundo.”
Brigitte Baptiste, diretora geral do Instituto de Investigação em Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, de Bogotá / Foto © Haroldo Castro.

Em 2017, Brigitte recebeu o prêmio Prince Claus por suas conquistas em desenvolvimento e cultura. 

Para ela, cultura e natureza são esferas que estão diretamente ligadas. “A proteção da natureza é uma decisão cultural, um exercício estético e finalmente político. Mesmo como bióloga reconheço essa forte conexão”, diz Brigitte. “Até mesmo a perspectiva cientifica do que é um ecossistema é uma decisão cultural, está em nossa mente. É uma maneira de nos aproximar da realidade. E certamente não é a única.”

Para ela, o homem ainda precisa construir a imagem mental da interdependência das coisas. É neste sentido que a educação deve atuar. “Podemos ser agentes criativos, inovadores, utilizando as tecnologias atuais”, diz.

O australiano John Croft, cofundador da Fundação Gaia da Austrália Ocidental, acredita que a saída para esse momento de crise no planeta é usar a imaginação e festejar. “O homem deve colocar sua criatividade numa escala nunca antes pensada. Usar suas habilidades, celebrar todos os dias e fazer de sua vida uma peça de arte”, diz.

Croft é criador da metodologia Dragon Dreaming, que propõe a organização das ideias para projetos colaborativos e construção de uma sociedade “ganha-ganha”.  Baseado na filosofia aborígine australiana, na qual tudo começa ao redor do fogo, o método foi construído com bases na ecologia profunda e até mesmo de Paulo Freire. A ideia é contar histórias, compartilhar sonhos e celebrar.
John Croft, cofundador da Fundação Gaia da Austrália Ocidental / © Haroldo Castro

Segundo Croft, o ser humano tem 60 mil pensamentos por dia. Tais pensamentos tendem a ser automáticos e desenhados para a sobrevivência. Cerca de 95% dos pensamentos são idênticos aos pensamentos do dia anterior. E 75% tendem a ser críticas negativas.

“Daí a importância de meditar, ficar em silêncio e sonhar”, diz ele. “Se o sonho é um aspecto comum a todos os animais, deve haver algo muito importante no ato de sonhar.” Ele lembra que para construir uma cultura “ganha-ganha” é preciso falar uma nova língua e calar aquela “vozinha” que está sempre em nossas mentes dizendo o que é certo ou errado.

Essa nova linguagem parece já ter sido também descoberta por Edgard Gouveia Junior, arquiteto e urbanista com pós-graduação em Jogos Cooperativos. Fundador do Livelab e da Epic Journey, Gouveia colocou toda a plateia para brincar. “E se eu dizer para vocês que salvar o mundo pode ser rápido, barato e divertido?” pergunta. Com a dinâmica “Tocou-Colou”, mostrou de forma divertida e inusitada como é possível mobilizar pessoas e recursos para salvar o mundo.
Edgard Gouveia Jr, LiveLab / © Haroldo Castro

Edgard teve um papel importante em uma mobilização feita em novembro de 2008 para ajudar a população de Santa Catarina depois da passagem do furação, um dos maiores desastres da região que deixou mais de 60 cidades embaixo d’água da noite para o dia. Houve uma grande comoção nacional para ajudar a população, mas depois de um tempo a história ficou esquecida. Com alguns parceiros, Edgard criou um jogo para ajudar as pessoas em Santa Catarina a saírem da depressão causada pelo desastre. Pessoas em todo o país se inscreveram. No final, 3.600 participaram do projeto. Edgar é também cofundador do Instituto Elos, que propõe soluções inovadoras para construir o melhor dos mundos de maneira coletiva e prazerosa utilizando metodologias embasadas na colaboração.

O evento em Inhotim trouxe ainda artistas como Janet Laurence, que examina a relação conflituosa do ser humano com a natureza. Seu trabalho como o “Hospital das Plantas” explora conceitos de cura do mundo natural e está presente em museus, universidades, empresas e coleções privadas na Austrália e em outras partes do mundo.

Também foi destaque a palestra “Para Além dos Muros das Escolas – aprender vivendo e viver aprendendo”, com a indiana Vidhi Jain que trouxe a experiência de sua organização em Udaipur na Índia que propõe outras formas de educação por meio do fortalecimento de comunidades e honrando os mais velhos.

Vidhi trouxe sua experiência nas iniciativas Udaipur Cidade do Aprendizado e Famílias Aprendendo Juntas. A indiana ainda encantou a plateia com seu trabalho na Universidade das Avós, que honra a sabedoria dos mais velhos e inspirou a todos com a história de sua filha que nunca frequentou escola e aprende com os membros da comunidade.

Em sua abertura Yara Castanheira, gerente de Educação do Instituto Inhotim, destacou a crise na cultura no Brasil, lembrando de episódios lamentáveis ocorridos nas últimas semanas, como o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro e da recente tentativa de extinção do Ibram para dar lugar a Abram, uma iniciativa de cunho privado que tem sido criticada pela academia e profissionais da área da cultura e educação.


Fonte: ENVOLVERDE

Primavera chega para renovar a vida.


Por Ulisses Capozolli, cortesia para a Envolverde –

Às 22h54 de amanhã, sábado, pelo horário oficial de Brasília, começa a primavera no hemisfério sul e o outono no Norte. O deslocamento aparente do Sol, do hemisfério norte para o sul, faz com que ele cruze o equador (ou o equador celeste, a projeção do equador da Terra na esfera celeste) às 22h54, estabelecendo praticamente a mesma duração do dia e da noite em ambos os hemisférios. Ainda que permaneçam ligeiras diferenças.

Mas, se a Terra gira em torno do Sol, por que falar de um deslocamento do Sol em relação à Terra? Tudo uma questão de ponto de vista para observadores localizados na Terra. O ponto central, neste caso, é que a Terra se desloca em torno do Sol com uma inclinação de 23 graus e 27 minutos (23° 27’) do seu eixo de rotação em relação à eclíptica, o plano de órbita da Terra e demais planetas em torno do Sol. Para compreender o que é a eclíptica, imagine uma pequena experiência. Corte uma melancia pela metade e coloque uma das partes sobre uma mesa e a outra exatamente sobre a primeira, mas sob a superfície da mesa. Parecerá que a mesa dividiu as duas porções da melancia (o Sol) como se fosse uma lâmina afiada. A superfície da mesa, nesta pequena experiência mental, é a eclíptica, o plano de órbita dos planetas em torno do Sol. Você pode-se perguntar pela razão de a Terra ter essa inclinação em seu eixo de rotação e a resposta é: não sabemos. Supostamente, ela pode ter resultado do impacto de um corpo com a Terra que teria dado origem à Lua, quando a Terra ainda era muito jovem, um mundo quente demais para abrigar a vida que surgiria muito tempo depois no leito dos oceanos.
A origem da Lua, que forma um sistema planetário binário com a Terra, por seu porte significativo em relação à Terra, tem atormentado a ciência ao longo do tempo. A Lua poderia estar passando pelas proximidades da Terra, viajando pelo interior do Sistema Solar vinda de um ponto desconhecido e ter sido agarrada gravitacionalmente pela Terra, desejosa de uma companhia? Durante certo tempo essa possibilidade esteve sob considerações. Até que cálculos demonstraram que esse agarrão teria sido impossível. A Terra não teria tido “força” suficiente para deter a Lua de sua errância cósmica. Então começou a tomar força a ideia do impacto de um corpo, esse sim um errante cósmico, com a Terra. O choque teria arrancado parte do corpo da Terra e projetado esse material no espaço, onde ele voltou a coalescer (condensar-se em torno de um centro de gravidade) para formar um corpo: a Lua. Essa hipótese foi inicialmente considerada pelo astrônomo inglês George Howard Darwin (1845-1912) segundo filho do naturalista Charles Robert Darwin, o pai da seleção natural. Para Darwin filho, o Oceano Pacífico teria sido a cicatriz deixada pelo impacto do corpo que deu origem à Lua.

A inclinação do eixo de rotação da Terra combinada com a translação, o giro da Terra em torno do Sol, dá origem às estações. E as estações são marcadas por diferenças na radiação solar, o que significa mais ou menos luminosidade e calor nos diferentes hemisférios. Com a variação do calor, há uma variação na quantidade de chuva ou neve. As formas de vida, desde as colônias celulares primitivas que se formaram nos oceanos, se adaptaram às estações do ano e, atualmente, a vegetação é o melhor exemplo disso. As plantas renovam suas folhagens na primavera. Folhas são antenas biológicas para captação de energia solar e as flores as estratégias de reprodução, em boa parte dos casos com a oferta de frutos para a vida animal: humanos, esquilos, aves, toda uma longa e fascinante teia de vida que caracteriza a Terra. O único mundo repleto de vida em toda a vastidão do Sistema Solar. A única fonte de vida conhecida no Cosmos, investigada por sondas espaciais e telescópios de grande porte.
Como a vegetação, as árvores em especial, podem prever as estações do ano? As árvores, toda a vegetação, tem memória, ainda que seja de um tipo distinto da memória animal. A memória das árvores está localizada na extremidade das raízes e isso não é resultado do puro acaso. As raízes sugam e bombeiam água para o corpo de uma árvore e se dão conta do fluxo do tempo entre as diferentes estações. Elas se preparam para o fluxo das chuvas. A abundância de água fará com que as árvores cresçam ou se reproduzam, ou façam as duas operações ao mesmo tempo. Tudo organizado pelo complexo e fascinante mecanismo da vida. A vida, enquanto processo organizativo, é o contraponto do caos, da desorganização. A organização depende de uma fonte de energia e, na Terra, essa fonte principal é uma estrela bem próxima: o Sol. Algumas árvores podem florescer antes da primavera, como ocorre com os ipês, as plantas símbolo do Brasil em sua diversidade de cores. Por que os ipês se antecipam à primavera? Por uma estratégia refinada. Florindo antes, os ipês atraem uma massa de polinizadores que não será tão grande quando todas as outras árvores florescerem. O que significa dizer que as árvores têm não apenas memória, mas também refinadas estratégias de sobrevivência. A primavera, deste ano, chega em um momento tenso e de certa maneira trágico para o Brasil. Mas que, também por isso, é um momento de rara possibilidade de mudanças. O desejo que acompanha essa postagem é que cada um de nós, brasileiros, possa se dar conta da singularidade da Terra no céu, da força e da determinação da vida, para inspirar nossas decisões. A brutalidade e a destruição não combinam com a vida. Elas estão associadas ao caos. À desorganização. À morte. Ao banimento da vida.


Fonte: ENVOLVERDE

Estudo analisa CAR como instrumento para evidenciar conflitos ambientais em Terras Indígenas.



Autor Assessoria de Comunicação - 13/09/2018

Com o Cadastro Ambiental Rural tornaram-se visíveis as diferentes formas de apropriação de um mesmo espaço rural, identificando possíveis conflitos entre proprietários rurais e povos indígenas.

Na base do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR) para o estado de Mato Grosso, disponibilizada pelos Serviço Florestal Brasileiro (SFB), constam 1.412 imóveis cadastrados de forma sobreposta às terras indígenas. É o que aponta um estudo realizado por Ana Luisa Araújo de Oliveira, doutoranda em Desenvolvimento Rural pela UFRGS, e Emanuelle Brugnara, do Instituto Centro de Vida (ICV), publicado na Revista Meio Ambiente e Desenvolvimento, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A análise aponta que o cadastro pode ser considerado um dispositivo para evidenciar disputas em espaços rurais, como por exemplo, os diferentes modos de apropriação – cultural, ambiental e social – do território e da natureza.

Dados do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão gestor do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), apontam que em 2017 havia 4,2 milhões de imóveis cadastrados no CAR. 

Somados, estes cadastros resultavam em uma área superior a 100% do território nacional. Isso explica a existência de sobreposições nas áreas cadastradas, principalmente com áreas protegidas. O CAR, permite identificar um diagnóstico da situação ambiental do Brasil e pode ser usado para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico, e, principalmente, com foco ao combate ao desmatamento.


O estudo “Cadastro Ambiental Rural: um instrumento para evidenciar conflitos ambientais em terras indígenas?” revela que o CAR possui limites que precisam de maior atenção do Estado, como o tratamento que será dado aos cadastros declarados em sobreposição a terras indígenas. Ou seja, é necessária maior fiscalização no sistema.

Esses cadastros – mesmo que cancelados no sistema –, deveriam orientar o monitoramento e a fiscalização in loco pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelos órgãos ambientais para verificar se há conflito ambiental entre os grupos que ocupam a área. Isso ocorre porque cadastros declarados por proprietários ou posseiros rurais que incidem sobre terras indígenas sinalizam a existência de dois grupos de interesses diferentes no mesmo espaço, o que ameaça as formas de vida das populações mais vulneráveis, no caso, os povos indígenas.

CAR

O CAR é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais. 

Serve para integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais referentes às Áreas de Preservação Permanente (APP), uso restrito, Reserva Legal, remanescentes de florestas e demais formas de vegetação nativa. Assim, o sistema compõe uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. A inscrição no CAR é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel.

Fonte: ICV

Melhora a transparência da gestão ambiental em Mato Grosso.


Autor Assessoria de Comunicação - 20/09/2018

Portal da Transparência da Sema-MT é um marco para a atuação conjunta da sociedade civil e órgãos públicos

O acesso à informação ambiental ganhou um importante mecanismo em Mato Grosso: o Portal da Transparência da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, lançado nesta semana. Para o Instituto Centro de Vida, o Portal é uma conquista, resultado de mais de 10 anos de articulação de várias organizações da sociedade civil e órgãos públicos pela transparência.

>> Veja os Boletins Transparência Florestal desde 2006

Um avanço é a disponibilização das autorizações de desmate como dados geoespaciais, que podem ser usados por Sistemas de Informações Geográficas. Com isso, Mato Grosso é o único Estado da Amazônia Legal que facilita o uso destas informações pela sociedade civil, órgãos públicos e setor privado. A disponibilização dessa base de dados em formato espacial possibilita diferentes cruzamentos e análises, como identificar onde a floresta foi derrubada de forma ilegal.

“A partir de agora, a informação sobre quem desmata com a devida autorização do órgão ambiental está completamente transparente. Isso é um elemento fundamental para que a sociedade, empresas e outros órgãos públicos implementem mecanismos para combater o desmatamento ilegal”, aponta Ana Valdiones, especialista do ICV.

Mato Grosso também aumentou a transparência das informações sobre o Cadastro Ambiental Rural. 

No Portal da Transparência toda a base de dados do CAR está disponível, incluindo informações sobre a situação dos cadastros quanto a análise e validação. Também é possível visualizar os recibos de inscrição e os Termos de Compromisso que foram firmados. Com isso, a Sema volta a ter um papel de destaque na transparência desses dados,  atendendo a um dos objetivos do CAR estabelecidos no Código Florestal, que é de disponibilizar informações sobre a regularização ambiental dos imóveis rurais.

“Nós passamos os últimos 10 anos recomendando uma série de medidas que o Estado deveria tomar para melhorar a transparência da informação ambiental. Ficamos muito felizes de ver boa parte de nossas recomendações sendo postas em prática pelo Poder Público.” avalia Alice Thuault, diretora adjunta do ICV.

Alice destaca também outros instrumentos que foram chave para esta conquista, como o Ranking da Transparência Ambiental do Ministério Público Federal e a Ação Civil Pública do Ministério Público Estadual de Mato Grosso sobre a publicidade de informações ambientais.

Aprimoramento constante

Na visão do ICV, todo instrumento de política pública tem espaço para aprimoramento constante. Para o Portal da Transparência da Sema-MT, o ICV ainda recomenda inclusão de bases de dados e ajustes na forma de acesso às informações.

Por exemplo, a base de dados de Autorização Provisória de Funcionamento Rural (APF) poderia ser acrescentada ao Portal, e listas como os desembargo que se encontram em PDF poderiam ser alterados para formatos que facilitam a utilização dos dados.

O Portal da Transparência da Sema-MT está disponível no endereço: http://transparencia.sema.mt.gov.br/

Fonte: ICV

quinta-feira, 20 de setembro de 2018


Brasil e Noruega conversam sobre inovação em energia e aquicultura.

O Brasil é um mercado prioritário para a Noruega, que é o oitavo maior investidor estrangeiro no país: em 2015 e 2016 os investimentos somaram USD 4,6 bilhões. A agência do governo norueguês para fomentar a inovação e o desenvolvimento de empresas e indústrias, a Innovation Norway, confirma mais uma rodada de conferências este ano, em novembro, para promover a troca de informações e networking entre empresários e pesquisadores de ambos os países com o objetivo de estimular a expansão de negócios.

Há muito tempo que o comércio bilateral entre Noruega e Brasil deixou de envolver apenas trocas de bacalhau e café. As semelhanças entre os dois países podem trazer novas oportunidades de parcerias. No caso do setor de energia ambos têm suas matrizes energéticas baseadas em geração através de hidrelétricas e no setor de óleo e gás há grandes similaridades nas operações em águas profundas.

A Noruega ainda tem muito a oferecer quando o assunto é gerenciamento de oceanos: há potencial para alavancar as atividades de Aquicultura e Piscicultura no Brasil através de transferência de Tecnologia. “Enquanto o Brasil tem um grande potencial de crescimento nestas áreas, a Noruega, em contrapartida, pode trazer o know-how necessário para viabilizar este desenvolvimento”, explica Ana Roedel, Cordenadora de Projetos da Innovation Norway.

Michelle Duarte, Gerente de projetos senior da Innovation Norway, acredita que a relação entre os dois países é de ganha-ganha: “os empresários noruegueses já enfrentaram alguns desafios parecidos com os que nós nos deparamos, e assim, podem contribuir para acelerar a curva de aprendizado das empresas brasileiras. Nós acreditamos nisso e portanto promovemos ativamente este intercâmbio Brasil-Noruega através da nossa agenda de eventos e rodadas de discusões.”

Norway Brazil Week(s) – Com a expectativa de gerar novas parcerias comerciais entre empresários do Brasil e da Noruega, a Innovation Norway junto com o Team Norway e parceiros locais, realizará a Norway Brazil Week(s), rodadas de conferências e seminários nas áreas de Óleo & Gás, IoT, Aquicultura, Igualdade de Gêneros e gerencimento de Oceanos. As palestras serão realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, durante o mês novembro. A expectativa é de que muitos negócios possam se iniciar nestes encontros.

“Em 2017, foram 14 eventos com uma média de cem pessoas por conferência. O objetivo das ‘semanas’ é servir como uma plataforma de discussão entre Noruega e Brasil. Sempre são apresentadas soluções inovadoras, com o objetivo de que as conexões resultem em novos negócios entre os participantes”, diz Michelle Duarte.

Fonte: ENVOLVERDE

O uso de produtos sustentáveis ajudam a diminuir a dívida ambiental?


*Por Lais de Oliveira – 

Você sabia que uma fralda descartável leva até 500 anos para se decompor? A ideia de consumo consciente vem sendo divulgada com frequência nos últimos anos, onde ouvimos falar sobre a importância de se rever comportamentos e promover mudanças em nossos padrões e hábitos. Porém, muitos ainda não entenderam claramente o conceito e a relevância de levantar essa bandeira pelo bem do planeta.

Recentemente, o Instituto Akatu, ONG que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, publicou uma pesquisa em que os resultados não surpreendem. Ela aponta que 76% dos entrevistados – homens e mulheres com mais de 16 anos – não praticam o consumo consciente. O estudo também mostra que uma das barreiras para a adoção de práticas sustentáveis é a necessidade de esforço para se fazer isso.

O conceito envolve a escolha de produtos que utilizem menos recursos naturais em sua produção e que poderão ser facilmente reutilizados ou reaproveitados. Significa comprar aquilo que é realmente necessário, estendendo a vida útil deles tanto quanto for possível. Dessa forma, a sociedade civil mostra ao setor produtivo a necessidade de oferecer produtos e serviços que tragam impactos positivos ou reduzam drasticamente o desperdício de matérias primas.
Mas como praticar o consumo sustentável? Há muitas maneiras, seja cultivando hábitos no dia a dia, revendo nossos valores e repensando as necessidades materiais. Os produtos sustentáveis estão presentes em praticamente todos os segmentos: desde as tradicionais sacolas reutilizáveis e não poluentes em supermercados ou até mesmo em produtos de maternidade como fraldas ecológicas.

Assim, cabe ao consumidor ficar atento ao escolher produtos, levando sempre em consideração fatores que comprovem seu caráter sustentável, como selos de organizações. Além disso, conhecer a origem dele, onde foi produzido, por quem e em quais condições de trabalho, também são importantes na hora da tomada de decisão. Ao invés de utilizar as sacolinhas plásticas, você pode optar por sacolas de pano. Em casa, o ideal é optar por produtos de limpeza que sejam feitos à base de água e que não contenham produtos químicos em sua composição. Outra saída é escolher lâmpadas fluorescentes que gastam bem menos energia do que as incandescentes. Já os eletroeletrônicos devem ser escolhidos de acordo com seu gasto energético.

Quanto mais informação tiver mais alternativas você encontra para adotar práticas sustentáveis. 

Incorporar isso ao dia a dia vai fazer bem não só para o presente, mas também para as gerações futuras. Se cada um fizer a sua parte, podemos acreditar em um futuro melhor para o planeta e seus habitantes.

*Lais de Oliveira é fundadora da marca Nós e o Davi, que produz fraldas ecológicas com o objetivo de desenvolver um produto que atenda às expectativas das mães e que não agrida o meio ambiente em uma cadeia justa de produção.


Fonte: ENVOLVERDE

Esmagado entre austeridade e interesse privado, SUS é indispensável.

por Carlos Drummond, da CartaCapital

Entre os países que contam com um sistema universal de saúde, o Brasil é o único em que o gasto privado supera o público.

A combinação de recessão, desemprego e redução drástica dos gastos públicos nas áreas social e da saúde desencadeou sofrimento em grande escala nos últimos anos, ao sujeitar milhões de pessoas fragilizadas pela piora das condições de vida a um sistema estatal que, além de padecer de insuficiência financeira crônica, foi submetido também a cortes de insumos e medicamentos e a péssimas condições de trabalho dos seus funcionários.

O resultado são o aumento da mortalidade materna e infantil, esta após 26 anos de queda contínua, a diminuição da vacinação e o ressurgimento de endemias e epidemias há décadas suprimidas ou controladas, obras autorais do governo iniciado em 2016 que é responsável ainda pela aceleração da drenagem de recursos públicos em benefício do sistema financeiro e da saúde privada, mostraram os expositores e debatedores do XIII Encontro Nacional de Economia da Saúde, realizado em Brasília no mês passado pela Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES).

A política de austeridade força os limites de um sistema submetido a financiamento insuficiente há no mínimo 30 anos, desde a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição de 1988. A causa principal do desbalanceamento sistemático é a drenagem ininterrupta e crescente de recursos do governo para pagamento de juros da dívida pública ao setor financeiro, chamou atenção Áquilas Mendes, professor de Economia Política da Saúde da USP e da PUC-SP.

Entre 1995 e 2016, disse, o gasto anual do Ministério da Saúde não foi alterado, mantendo-se em 1,7% do PIB, enquanto o desembolso médio com juros da dívida atingiu, em média, 6,6%. A contrapartida da compressão sistemática das despesas públicas com saúde nas últimas décadas foi o avanço significativo do gasto privado no setor, em especial nos governos FHC. Considerando-se União, estados e municípios os desembolsos público e o privado como proporções do PIB atingiram 2,8% e 1,4% em 1993; 3,2% e 3,9% em 2002; 3,9% e 4,2% em 2014, mostrou Mendes.

Entre os países com sistema universal de saúde o Brasil é o único em que o gasto privado supera o público, enquanto nos demais o desembolso do Estado representa cerca de 60% do total. Hoje, quem define o rumo de políticas para a saúde no Brasil é o setor privado, ao contrário do que ocorria nos anos 1980. A situação é o avesso daquela dos países europeus, com estruturas majoritariamente públicas e gastos governamentais em torno de 80% do total.
Submeter milhões de pessoas fragilizadas a um sistema assolado pela escassez crônica de recursos é causar doença e morte.

A penúria do setor deverá aumentar nos próximos anos. Sob efeito da Emenda Constitucional nº 95 aprovada em 2016 para garantir a contenção radical de gastos, os recursos federais alocados para o SUS cairão até 2036, de 1,7% para 1,2% do PIB, com graves danos à saúde pública nos estados e municípios, projetam Francisco Funcia, consultor do Conselho Nacional de Saúde e da Fundação Getulio Vargas, e Carlos Octávio Ocké-Reis, economista e técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Outro mecanismo de ampliação da saúde privada à custa do Estado é o alto volume de renúncia fiscal. Entre 2003 e 2015, o que o Estado deixou de arrecadar no setor oscilou entre 11,7% e 22,2% da renúncia total, calculam Ocké-Reis e Artur Monteiro Prado Fernandes, também do Ipea.

Protagonista da crise generalizada do País, a judicialização também afeta o setor. “Desde 1990 houve um aumento exponencial das ações judiciais para os usuários acessarem produtos, tecnologias e medicamentos. O número de processos judiciais em saúde pública e saúde suplementar nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Acre atingiu 27,3 milhões em 2012”, chamou atenção Fabíola Sulpino Vieira, especialista em políticas e gestão governamental do Ipea.

Inúmeras situações envolvem conflitos de interesses, caso do medicamento Nusinersen para tratamento de atrofia muscular espinhal, doença degenerativa rara. O preço de fábrica da ampola é 297 mil reais e cada tratamento requer ao menos seis ampolas, com custo anual de 1,78 milhão por paciente.

Há cem pessoas tratadas gratuitamente pelo SUS com esse remédio por força de ação judicial e o fabricante propôs a negociação do teto de gasto público para o governo custear a medicação de até 300 pacientes e o que passasse disso a indústria pagaria.
Sexto maior mercado de medicamentos do mundo, o Brasil importa 77% das matérias-primas usadas pelo setor. “É um dos mercados mais atraentes, há uma pressão muito grande e a judicialização é um mecanismo para forçar o Estado a gastar”, disparou Fabíola.

A ação dos interesses privados sobre a saúde pública atinge hoje o auge desde 40 anos atrás, quando governos e instituições de 134 países firmaram a compreensão de que as doenças têm também entre as suas causas fatores sociais, como as condições de vida e de trabalho.

O entendimento ocorreu na Conferência Internacional em Atenção Primária promovida pela Organização Mundial da Saúde em Alma-Ata, no Cazaquistão, então integrante da União Soviética, e seus participantes definiram que um dos principais objetivos deveria ser a conquista até o ano 2000 de um nível de saúde que permitisse a toda a população mundial ter uma vida social e economicamente produtiva.

Eduardo Levcovitz, professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ex-representante da Organização Mundial da Saúde no Uruguai, um dos palestrantes do evento realizado em Brasília, lembra-se do que disse o diretor-geral da OMS, Halfdan Mahler, em entrevista concedida depois do encontro no Cazaquistão: “Não faz nem 48 horas que a conferência acabou e os crocodilos já estão de boca aberta para devorar a saúde de todos no ano 2000”.

A referência à voracidade e ao atavismo das forças contrárias à saúde pública reforça a importância de se levarem conta fatores históricos e estruturais na análise das ameaças ao SUS que incluem, na análise de Levcovitz, a fragilidade da coalizão política de sustentação do Sistema, seu subfinanciamento crônico, os avanços muito lentos na transformação do modelo de atenção básica e a inviabilização do exercício da função de gestão em todos os níveis sob as leis das licitações e da responsabilidade fiscal.

O enfraquecimento do Estado viabilizou, por exemplo, a institucionalização por governos e tribunais do entrechoque de interesses públicos e privados expresso nas controvertidas Organizações Sociais. 

Criadas por FHC para supostamente beneficiar o sistema estatal com a capacidade privada de gestão, as OS pretendem-se sem fins lucrativos, mas isso é só um aspecto formal, pois na prática instalam uma competição econômica por contratos, dizem seus críticos.

Alvos de CPI em São Paulo e de questionamentos na Justiça em vários estados, as OS funcionam de fato como porta dos fundos para o acesso do interesse econômico privado, conclui-se também deste trecho da palestra do consultor Francisco Funcia: “Há um dispositivo na lei de responsabilidade fiscal que diz que a contratação de terceiros deve ser computada como outras despesas de pessoal, ou seja, entra no limite de gastos. Aí o estado de São Paulo, principalmente o Tribunal de Contas, saiu-se com uma interpretação do tipo salto triplo carpado e disse o seguinte: ‘Se estiver contratando o serviço e não só os profissionais de saúde, então não entra no limite’. E aí virou essa proliferação que para mim não é mais contratação de profissional de saúde, mas de tudo: compra de material, compra de serviços etc. É preciso discutir a questão política de como se regulam as OS, pois hoje estão completamente desreguladas”, dispara Funcia.

Apesar de estigmatizado pelas chamadas elites e esmagado pela política de austeridade do governo, o sistema público de saúde presta serviços inestimáveis da base ao topo da pirâmide de renda, mostram os exemplos de um programa municipal e do atendimento nos prontos-socorros dos hospitais estatais.

Segundo pesquisa realizada por Melissa Spröesser Alonso, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e Fundação Perseu Abramo, a implantação de um programa da prefeitura do município paulista de Mauá em parceria com a ONG Grupo União da Saúde sem Fronteiras resultou em aumento da cobertura da rede de atenção básica, de consultas e visitas domiciliares, do número de pacientes com acompanhamento e controle de diabetes e hipertensão e redução da mortalidade de crianças de até 1 ano, entre outros efeitos.

“Apesar de enfrentarem problemas gigantescos, os hospitais públicos têm os melhores e mais eficientes serviços de emergência para atender politraumatizados e acidentados, por contarem com equipes praticamente completas com neurocirurgião, cirurgião geral, paramédicos e auxiliares. Os hospitais privados raramente têm essa estrutura, porque ela é muito cara, o custo é lá em cima”, sublinha o ex-ministro da Saúde José Agenor Álvares.

Que o digam o candidato Jair Bolsonaro, atacado dia 6 em Juiz de Fora, Minas Gerais, e atendido na Santa Casa de Misericórdia e os apresentadores de tevê Luciano Huck e Angélica feridos em pouso forçado em 2015 e socorridos na Santa Casa de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.


Fonte: ENVOLVERDE